6 - Amizade Amarela

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As crianças mascaradas viviam como uma tribo, mas ao invés de viver em ocas, suas casas eram suspensas: casas na árvore, como as que Um costumava ver nos jardins de outras famílias, mas não no seu. Sempre quis ter uma, mas seu pai considerava aquilo perigoso demais.

O lugar estava em festa, as casas estavam iluminadas e as crianças para fora, se concentravam em dançar, olhando para um mesmo ponto. No centro de todas as árvores com moradia, havia um pátio com uma grande fogueira e, à frente da mesma, uma enorme mesa, com duas cadeiras, ocupadas por dois jovens com os rostos coloridos. A mesa, estava coberta de diferentes alimentos nem um pouco comuns de serem encontrados em uma floresta:

- Isso é goma de mascar? - perguntou Jane, estranhamente séria.

- De todas as coisas estranhas acontecendo, ISSO é o que te chama atenção? - Um apontou para o próprio rosto, pintado de vermelho, verde e azul.

- Eles estão louvando você, provavelmente ouviram as lendas que minha mãe contou

- Eu vi alguns desenhos na parede da caverna que nos levaram, quando pintaram nossos rostos. Parece que não só ouviram as lendas, como as criaram - disse Um, levando o dedo indicador ao queixo e removendo um pouco de tinta vermelha

- Meu senhor - disse uma criança mascarada em frente à mesa, curvando-se - permita-nos que apresentemos uma breve encenação das sagradas escrituras - algumas crianças levaram placas de cenário para a frente da fogueira, outras se posicionaram em cantos estratégicos, preparando-se para um teatro. Estendendo a mão direita para cima, o líder criança fez com que a música parasse - A sagrada lenda do Filho Escolhido se inicia...

- Ah não, cala a boca, por favor! - interrompeu Jane

- Ãh? O que?

- Eu já ouvi as lendas antes, tenho certeza que você vai falar e falar... E no fim das contas ainda vou ter dúvidas sobre o que realmente está acontecendo, é sempre assim - disse Um, saltando pra fora da mesa - vamos Jane, temos que conversar

- Senhor, espere! - gritou a criança

Jane encheu um dos bolsos de goma de mascar, ergueu uma das mãos para se despedir

- "bye"

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Agnis estava apressada. Correu para os fundos da loja e abriu o compartimento onde deveriam estar os esfregões, vassouras e produtos de limpeza, para encontrar uma grande variedade de armas. Colocou uma pistola na cintura de sua calça e uma AK47 em suas costas. As outras armas, jogou no banco de trás do carro. Ao voltar para dentro da loja, encarou a senhora e perguntou:

- Por que guardava armas aqui? Sendo a Mãe Natureza, creio que tenha outras formas de se proteger

-Ihihihihi - riu - sim, eu tenho, mas e você, querida? Eu já esperava a sua vinda desde o nascimento da jovem criança. Cada um luta da forma que pode, eu só estou lhe dando uma forma de lutar.

- Eu agradeço muito por isso.

- Não precisa se preocupar, mamãe está aqui pra isso! Ihihihi

A senhora segurou as duas mãos de Agnis. Olhou no fundo de seus olhos. Sentiu a convicção, a força, a fé na nova criança e se comoveu.

- Eu tenho um outro presente pra você

Levou a mão para trás de sua cintura, depois, a voltou com uma flor.

- Uma rosa amarela - disse Agnis

- É o símbolo físico de minha admiração e a prova de nossa amizade. Esteja sempre com ela, jovem, e eu estarei sempre com você - Mãe Natureza colocou a flor na orelha de Agnis, que emocionada, deixou algumas lágrimas escorrerem - Agora vá, eles podem precisar de você

- Você vai ficar bem? - perguntou, antes de partir, apontando para a mancha vermelha na cintura da senhora

- Não se preocupe com isso. Agora, você deve se preocupar com as crianças.

Agnis olhou para Mary em seu colo, depois para a senhora novamente, assentindo.

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Na floresta, Um e Jane caminhavam para fora do campo de visão das crianças

- Aquilo foi bizarro, obrigado por fazê-los parar, Jane

- Não há de quê - disse Jane com a boca cheia de goma. Ela tirava uma da boca de vez em quando e colava nas árvores

- Você reparou em algo nessas crianças? - Um perguntou

- Achei que você não tivesse notado. Todas parecem ter a sua idade.

- Sim, mas tem outra coisa... É que... - Um procurava uma forma de dizer o que queria, sem sentir que estava magoando Jane

Por sorte, a garota o interrompeu, falando alto, ao encontrar algo

- Olha, Um! Olha só isso!

Uma enorme construção, uma casa em forma de torre estava à frente deles. Diferente das outras que eram de madeira, essa era de alvenaria.

- Devemos entrar? Parece um bom lugar para nos escondermos e passar a noite, além de estar longe o suficiente das crianças - Jane argumentou

- Podemos dar uma olhada, mas depois teremos que buscar sua mãe, não foi tão simples encontrar esse lugar

Os dois abriram a porta de madeira devagar e puderam ouvir alguém cantando, mas não conseguiam entender a letra, o som estava ecoando pelo local. Além da voz, alguns sons como de raios eram audíveis.

- Acho que é por aqui

Um foi na frente passando por um corredor com portas à esquerda. A última estava aberta e podia-se ver a luz através da abertura, oscilando de tempos em tempos, a voz agora melhor audível mostrava-se infantil. Só podia ser mais uma das crianças daquela floresta.

Um e Jane cruzaram a porta juntos. Várias peças mecânicas estavam espalhadas pelo local, também fios de várias cores, vindo de um mesmo ponto, uma enorme peça de ferro que subia como uma antena, saindo pelo teto da casa. Assim como esperado, um jovem garoto de cabelos cor de caramelo estava de costas, sentado a uma mesa, manuseando algo com muita aptidão. Pegou uma chave de fenda à sua esquerda, depois uma chave inglesa à direita, fazia ajustes enquanto assobiava a mesma melodia.

- Olá?

- Eureca! Ele finalmente está pronto! - gritou o garoto, sem notar que recebia visitas - com esses daqui, vou ser capaz de ver tudo!

O garoto puxou algo de seu rosto, fazendo um barulho forte de elástico, seguido de um "ai!" Depois, pegou aquilo no que trabalhava, puxou uma alça elástica e prendeu em sua nuca, passando por cima das orelhas. Era um óculos de natação.

- Com licença? - Um tentou mais uma vez

Dessa vez, o garoto virou-se, assustado. Deu um grito de surpresa, escorregou e caiu de costas, levantando-se imediatamente para encarar sua visita, confuso.

Um - A EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora