Um - A Escolha

8 - Trilha Violeta

Enquanto Um e Jane esperavam escutar aquilo que Pluton tinha a dizer, observavam, do topo da enorme construção, as crianças reunidas ao redor da grande fogueira.

- Eles parecem estar tramando algo - disse Um.

- E esse tal Pluton também, não? - Jane respondeu

- Só espero que seja pra nos tirar daqui, afinal, fomos desrespeitosos com a crença deles.

- Talvez, se não tivéssemos fugido, saberíamos o que eles querem com você agora.

Um silêncio estabeleceu-se por alguns segundos, até que a angústia e curiosidade de Um se tornaram grandes o suficiente para que fosse incapaz de conter

- Olha, eu já estou há algum tempo, tentando encontrar um meio de lhe perguntar sem ser um tremendo imbecil, mas - Um sequer foi capaz de fazer sua pergunta

- Foi só mais um passeio entre amigos. Algo normal, se não fosse pelo fato de que fugi de casa naquele dia, logo depois de brigar com minha mãe. Pulei a janela, entrei no carro em que o motorista estava bêbado, acho que isso é o suficiente, não? O final é previsível - Disse Jane - Como percebeu?

- Ninguém te vê. Era sobre isso que queria falar.

- A não ser por você, talvez por ser a criança escolhida - A garota levou a mão esquerda sobre sua cabeça, coçando os cabelos coloridos.

- Foi o que pensei, mas agora, não sou o único que lhe vê. Além de Pluton, que diz ter essa tal visão além do alcance com seus óculos, as outras crianças conseguiram te ver também.

Pluton apareceu atrás deles, com um enorme tubo de papel enrolado em sua mão. Arrumou uma mesa à frente deles e sentou-se em uma das três cadeiras

- Então quer dizer que você é um fantasma - disse ele.

Jane apenas assentiu com um aceno de cabeça. Não queria demonstrar seus problemas com esse fato

- E o que ainda lhe mantém aqui, entre nós? - perguntou Pluton - Seria essa folhinha em sua bolsa?

- O que? - Um sentou-se em uma das cadeiras - Que papel?

Jane mostrou um dos pôsteres que tinha na parede de seu quarto.

- Eu guardei um deles, porque eles foram muito importantes em uma parte de minha vida. Talvez, ele seja tudo o que tenho, depois de minha casa pegar fogo. - Jane olhou para Um e continuou - Na maioria das vezes, fantasmas ficam presos ao mundo real graças a algum objeto.

Um ainda parecia confuso após todas as explicações que lhe deram

- Não é simples? Será que você nunca assistiu nenhum filme de terror? Todos eles têm o mesmo plot, os fantasmas sempre ficam por causa de uma forte conexão com algo material! Argh, deixa pra lá, isso não é o mais importante - Pluton abriu o cone de papel sobre a mesa, revelando um enorme mapa cheio de marcações - Certo, estamos aqui - Pluton apontou um círculo azul - E como as crianças estão aqui na nossa frente, nossa rota de fuga para chegarmos até o santuário é quase 100% segura, já que ele é aqui - Ele apontou um outro círculo, dessa vez, rosa - então, o caminho que devemos fazer é esse! - ele riscou, com uma canetinha de cor violeta, uma linha, passando por alguns lugares e no fim, conectando os dois pontos - Passamos pelo "jardim das cores", pegamos a ponte de bambus que passa sobre a "fenda da loucura", daí só precisaremos escalar a "montanha desnecessária" e chegaremos ao templo! Chamo isso de trilha violeta!

- Deixa eu adivinhar: foi você quem deu os nomes, não foi? - Jane perguntou.

- Sim. Precisamos partir depressa, antes que eles venham te sacrificar.

- Partir depressa? - Jane gritou

- Sacrificar? - Gritou Um

- Nossa, vocês não leram MESMO as escrituras na parede, né? Eles crêem que devem sacrificar o escolhido para evitar o fim dos tempos e que você já sabe disso e faria de bom grado. - explicou - eles logo vão encontrar vocês aqui e levá-lo à força!

- Não sei se eles conseguiriam nos encontrar tão facilmente aqui... - Jane olhou mais uma vez para baixo, onde todas as crianças estavam, agora, encarando-a nos olhos - Temos que correr... Agora.

- Mas, sua mãe, minha irmã, como elas vão nos encontrar? 

- Eu tenho sinalizadores comigo, além de vários suprimentos e curativos. Isso não será um problema - Pluton insistiu uma última vez, antes de toda a construção começar a tremer - Eles já estão tentando invadir!

Ao finalmente convencê-los, Pluton guiou-os para o lado de fora pela porta dos fundos. Assim que saíram, viram o local se preencher de crianças, que andavam com os pés e as mãos no chão. Algumas andavam pelas paredes, assemelhando-se a insetos.

- Fiquem longe! - Pluton advertiu os outros dois. Apertou um botão vermelho em um dispositivo, que fez com que um enorme campo de força envolvesse sua casa completamente. Logo depois, ergueu sua mão direita e gesticulou - três, dois, um...

Uma explosão levou todo o local ao chão, restando vários corpos de crianças em chamas.

- O QUE VOCÊ FEZ? ERAM APENAS CRIANÇAS! - Um se assustou

- Olhe de novo! - Respondeu Pluton. As crianças se levantavam novamente, com apenas queimaduras leves e máscaras pegando fogo - Isso só vai atrasá-los. Por isso disse que temos que correr.