- Pela ciência! - Exclamou aquele garoto diferente, enquanto esfregava seus óculos com ambas as mãos. Atrás deles, os olhos alaranjados e arregalados - Devo estar conseguindo ver além da floresta graças à minha invenção!
- Desculpe decepciona-lo, cara, mas... Estamos aqui, em carne e osso! - Disse Jane, achando aquela situação engraçada, mas ainda assim complicada. Um coçou o topo de sua cabeça.
- Espera aí, então vocês são reais? Quer dizer, pessoas normais? Aqui?
Um pensou um pouco antes de responder à pergunta, não sabia o quão normais, ou até mesmo reais eles eram, afinal de contas.
- Ah... Sim?
- Não dá pra acreditar! - Gritou o garoto, dando saltos de alegria enquanto gargalhava - Depois de todo esse tempo, alguém apareceu, afinal. Alguém que não é um alienado como aqueles indígenas lá fora! Bom, pelo menos acho que não... - O garoto sussurrou a última frase, incerto. Respirou fundo depois e mais uma vez, animou-se com a visita - AAAAH! Estou muito feliz em recebê-los aqui! Sintam-se em casa e aproveitem como quiserem!
Aquilo parecia bom demais para ser verdade. Apesar daquele local ter aparecido como um Deus Ex Machina, a presença de um garoto "comum" naquela floresta despertava a suspeita e a curiosidade de Jane
- Estou curioso sobre como vieram parar aqui - disse o menino - Digam-me: quem sois vós?
- Bom, eu sou Um e essa é a Jane. Ficamos felizes em poder falar com você. Viemos parar na floresta porque seguimos uma cri... - Jane tapou a boca de Um, impedindo-o de terminar a frase.
Os dois trocaram olhares por alguns segundos, até Um finalmente entender o motivo de terem calado sua boca: desconfiança.
- Criança. Nós seguimos uma criança e fomos parar numa tribo - Jane continuou, ao pensar em uma forma de despistá-lo - Lá, eles fizeram essas pinturas em nossos rostos e nos deram um jantar de goma de mascar e alguns outros doces e salgadinhos - Jane retirou um punhado de gomas de mascar do bolso
- Hmm... Curioso - respondeu o garoto, seu queixo se deslocava de um lado para o outro sobre sua mão - Eles não costumam sair da floresta pra nada, só eu faço isso...
- Você os chamou de indígenas alienados, quer dizer que você não é um deles? Por que está aqui? Quem é você?
- Meu nome é Pluton!
- Quem diabos tem esse nome? - Um estranhou
- Ora... Pluton! O planeta! Plutão, Pluton, eu, tendeu? - Pluton girava o polegar e o indicador de um lado para o outro
- Tudo bem, mas não acho que alguém te deu esse nome
- Nisso você está certo! Fui eu quem escolhi, pois sou como Plutão
- Pequeno? - Perguntou Jane
- Não...
- Te negaram o posto de planeta? - perguntou Um em tom sarrista
- Quase isso. Sempre me negaram o posto de ser humano, na verdade. Nunca tive pais, algumas pessoas me adotaram e todos eles queriam me dar um nome diferente, então decidi escolher o meu próprio, já que todos desistiram de ficar comigo na primeira oportunidade, mesmo. Como vim parar aqui é uma história mais do que longa, mas se for necessário, contarei. Antes, quero ter certeza de algo
Pluton enfiou a mão em seu bolso e puxou algo de lá, um objeto arredondado e o lançou em direção a Um.
- Pensa rápido! Vai explodir! - Pluton gritou e então, começou a rir
- Um, é uma granada! Cuidado! - Jane advertiu
Um ergueu seus olhos em direção da bomba, fazendo o mesmo com suas mãos, para se defender. Com um grito, raios vermelhos começaram a emanar da criança assustada, unindo-se em frente às suas mãos e logo envolvendo a granada, como em um campo de força. Pôde sentir o calor da explosão da bomba, vendo o tom laranja de suas labaredas se misturarem ao vermelho dos raios que emanava.
Enquanto os olhos surpresos de Jane brilhavam ao vislumbrar o nascimento de um novo poder (magia, técnica, ou seja lá o que a criança aprendera), os olhos de Um começaram a lacrimejar e seu rosto a suar enquanto usava todas as suas forças, na tentativa de comprimir e anular aquela explosão.
Após suas energias se esgotarem, a explosão se expandiu, saindo do campo de força formado por raios e empurrando todos na sala com o impacto. Todos caíram sentados, com o rosto acinzentado. Pluton começou a rir.
- Eu sabia! Você é mesmo a criança da foto no jornal! É o escolhido!
Um e Jane não sabiam com o que ficar mais assustados, com a loucura de Pluton ou com o fato de Um ter ido parar no jornal. Como sempre, uma tempestade de confusões atingia às crianças.
- Vocês acham que eu sou idiota? Duas crianças aparecerem aqui por terem seguido outra criança, até parece. Aposto que você iria dizer que estava seguindo uma criatura verde, não uma criança. Eu conheço elas e todos os costumes também. Você perguntou se sou um deles e a resposta é não, mas estou aqui pelo mesmo motivo.
Um pouco exitante, Jane questiona:
- E eles não se importam com o fato de você viver afastado da tribo?
- O que? Não. Eu deixo todos os suprimentos que o governo manda para eles. Eles me dão as balas de goma e ficamos quites! - Pluton enfiou um punhado de balas de goma sortidas em sua boca, mastigando vorazmente - eu adoro isso.As crianças se encararam novamente com seus rostos negros de fuligem
- Você ia nos matar com aquela explosão - disse Um, assustado
- O que? Não não, claro que não, aquela explosão era de festim, ia só arder um pouco nos olhos mas depois iria simplesmente sumir sem causar danos! - Pluton respondeu
- E por que não nos avisou?
- Porque senão, não veria o susto hilário que vocês levaram, e você não tentaria se defender, apenas esperaria o troço arredondado atingir sua cara, sério, se Jane não te avisasse, você não faria nada? De outra forma não teria como descobrir que você é o Escolhido, então escolhi a forma mais fácil de tirar essa informação de você. Será que agora vocês conseguem confiar em mim e me deixam ajudá-los a chegar no santuário?
- Esse idiota sabe mesmo de tudo! - Jane colocou a mão em sua testa, sujando-se ainda mais com a foligem
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Um - A Escolha
General FictionUm é uma criança que está sendo forçada a fazer uma escolha. O problema é que tal escolha não afetará apenas sua própria vida, que está vindo a ruínas, mas sim, todo o planeta. Encarregado de cuidar de sua irmã mais nova Mary, Um sai em uma jornada...