A vida em mim!

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Me senti tonta. Tudo pareceu girar e por um momento minha mente ficou em branco.
_ O que está acontecendo aqui? Alguém me explica?_ insistiu Nicolae.
_ Ninguém entendeu ainda. Calma! Uma coisa de cada vez. _ disse Drogo. _ Primeiro. Que merda é essa Lorie?
Ela veio descendo a escada. Com um sorriso travesso. Seu cabelo rosa estava solto. Seus olhos cor de mel, tinham um brilho malicioso. Seu vestido estava curto. E a menina, não era mais uma criança.
_ Não tem merda nenhuma. Uma hora eu ia crescer né? Achou que eu seria criança para sempre? Irmãozinho.
Drogo não desviava os olhos. Surpreso? Chocado? Fascinado? Não sei. Mas, estava babando na garota má. Versão adulta.
Nicolae parecia ter visto um fantasma. Olhava chocado. Amedrontado. Como se a Lorie se tornar uma mulher, fosse um perigo.
Viktor continuava olhando para mim. Alheio aquele dilema.
Peter estava encarando Lorie de boca aberta. Os olhos demonstrando surpresa. Ele se aproximou dela.
_ O que o Viktor fez com você?
_ Ele não fez nada, Peter. Para de colocá-lo como o vilão da história. Eu me tornei uma vampira, não um manequim. Nós também estamos vivos. Também estamos sujeitos as leis da natureza. E crescer, faz parte da vida.
_ Eu não esperava por isso. Você foi criança por tanto tempo. _ disse Nicolae.
_ Uau, Lorie. Que gata. _ disse Drogo.
_ Obrigada, mano. E você, irmã? Não vai falar nada?
_ Estou surpresa. Acho que entendi melhor, nossa conversa. Você ficou ótima. Uma legítima Bartholy.
_ Obrigada. Temos muito o que conversar.
Viktor se aproximou de mim. Mas, falou com ela.
_ Você está maravilhosa, filha. Valeu a pena esperar, não é? Pode dar início agora.
_ Eu vou, papai. Preciso da Lívia.
_ Só um instante. _ Viktor encostou na minha barriga. _ O outro coração, batendo. Está aqui. Ouça.
Eu já tinha percebido. O som vinha da minha barriga. Por isso, eu percebi primeiro.
_ Acertei quando te escolhi. Esse bebê é o primeiro com laços sanguíneos, na família. Nós seremos uma família de verdade. Vamos garantir que o clã Bartholy possa continuar existindo para sempre. Nenhum de nós precisa ficar sozinho de novo.
_ Espera, Viktor. Ela está grávida? Então... _ Drogo olhou para Nicolae. _ Você será papai?
Nicolae encarava minha barriga, mais assustado do que encarou Lorie. Eu logo entendi porque. Eu estava grávida de um filho dele e ele me prendeu no porão e entregou às bruxas.
_ Eu não sabia. _ ele disse.
_ Desde quando, Lívia?_ perguntou Peter.
_ Não sei. Acabei de descobrir. Mas, se já tem um coração batendo, deve ter mais de cinco semanas. _ eu disse.
Viktor continuava tocando minha barriga, sorrindo feliz. Não parecia se importar com mais nada.
Eu ainda estava em choque.
_ Meu bebê sofreu junto comigo? Será que está tudo bem com ele? Pode ficar com algum problema?
Viktor então, me encarou.
_ Não quero que meu neto tenha consequências, dos abusos que você sofreu. Vá para o hospital e faça os exames pré natais.
_ Vou com você. Preciso conversar e comprar algumas coisas. _ Lorie disse.
Enquanto os rapazes tentavam entender o que estava acontecendo. Nós duas, nos arrumamos e saímos. Emprestei uma roupa minha para Lorie. A menina estava nas nuvens, por ter finalmente, se tornado mulher.
_ Até que enfim, vou andar de moto.
_ Se segura. Não sei até que horas eles atendem. Preciso ir rápido.
_ Você acabou de descobrir e já ativou o instinto materno?
_ Depois de tudo que eu passei, é um milagre, ele ainda estar aqui. Estou confusa. Ainda não caiu a ficha. Só estou agindo no impulso, no automático.
_ Eu também estaria preocupada. Se seu bebê não fosse vampiro, não teria aguentado.
Então, parei, com o capacete na mão.
_ Posso mesmo ir para o hospital?
_ Você não tem escolha. Use seus dons.
Assim que Lorie se ajeitou, eu acelerei. Passava um filme na minha cabeça. Das vezes em que estive com Nicolae. Em uma daquelas vezes, nós fizemos um bebê. Um filho dele. Fruto daquele amor sofrido. Pensei no relacionamento perfeito dos meus pais. O quanto eu quis, ter o mesmo. E o quanto eu me desviei disso. Estava tão nas nuvens com Nicolae, que não pensei em prevenção. Nem ele. Estávamos descontrolados. Apaixonados. E agora, havia uma criança inocente em meu ventre. Que nem nasceu e já sofreu. Só de imaginar que ele sentiu o que eu senti, naquele porão. Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto. " perdão, meu bebê. Eu não sabia".
O vento passando, a adrenalina, me acalmaram. Velocidade. Eu realmente adorava motos.
_ Uau. Acho que vou querer uma moto também. _ dizia Lorie empolgada.
Paramos em frente ao hospital e quando eu desci, tive medo. Pelo meu filho.
_ Você consegue modificar as lembranças deles. Eu também estou aqui.
Eu não fazia a menor ideia de quais eram os dons dela.
_ Vamos. _ eu disse.
Respirei fundo e coloquei a melhor expressão arrogante, de Bartholy. Fui direto à sessão de obstetrícia.
_ Boa noite. Eu quero uma consulta com o melhor médico do hospital.
Entreguei o cartão ilimitado. Os olhos da atendente se arregalaram.
_ Srta. Bartholy. O doutor George está disponível.
Se estava mesmo, ou ela daria um jeito para eu ser atendida imediatamente, eu não sabia. Só agradeci pela influência de Viktor.
Quando entrei na sala de George, após aguardar pouco tempo, ele me indicou a cadeira. Fechou a porta e falou sussurrando.
_ Não se preocupe. Serei discreto. Ninguém saberá sobre essa consulta.
_ Claro. Conto com sua discrição.
Cidade pequena era assim. Mãe solteira não era bem vista.
_ Pode falar.
O que eu diria? Eu não sabia quando veio minha última menstruação. Não tinha nenhum sintoma de gravidez. Não podia dizer que ouvi o coração dele bater.
_ Não precisa se preocupar. Você veio porque quer pílulas? Ou veio fazer um teste de gravidez? Ou tem algum sintoma e acha que há algo errado?
_ Um teste... De gravidez.
_ Tudo bem. Vou precisar tirar seu sangue e analisar.
Tentei manter a calma. Analisar meu sangue... Ele acharia diferenças, que não entenderia.
Estendi o braço e o doutor veio tirar o sangue. Eu olhei para ele e usei meu dom.
_ Você vai tirar meu sangue, analisar. E vai apagar qualquer registro. Será como se nunca tivesse analisado o sangue de uma Bartholy. Vai trazer o resultado depois de apagar tudo.
Ele olhou para mim, com olhos vidrados. Sua mente criando uma versão plausível.
_ Não vou deixar registros. Ninguém vai saber.
Ele enfiou a agulha e tirou o sangue. Assim que a agulha saiu, o ferimento se fechou. Ele nem viu, por que estava focado em cumprir a tarefa. Como um robô. Ele saiu e eu fui atrás. Acompanhei todo o processo, para garantir que sairia como eu queria. Ninguém reclamou da minha presença. Como Drogo dizia... Ninguém questiona um Bartholy.
Lorie apareceu.
_ Cansei de esperar. Como está indo?
_ Quase lá. Está apagando os registros, como eu pedi.
_ Não se preocupe. Nicolae sempre teve instinto paterno. Ele assumiu esse papel, quando Viktor não estava. Você percebeu também. Ele era mais pai, do que irmão. Um pai bem rigoroso. Mas, um bom pai.
_ Não sei como ele vai reagir.
_ Ele vai amar. E se tornar ainda mais preocupado e paranoico. Também deve se culpar muito. Duplamente. Por você, e pelo bebê.
_ Acho que só pelo bebê. Não acho que ele se arrepende do que fez comigo. Na cabeça dele, estava defendendo a família. Evitando uma guerra. Ele não vê que foi errado. Só, um mal necessário. Ou como ele disse... Não havia escolha.
_ Ele realmente achou que era o que devia fazer. Mas, precisa entender que era errado. Que deve nos proteger acima de tudo. Acho que esse filho veio na hora certa. Vai ensina-lo que vampiros não são os monstros que ele imagina. Vai ajudá-lo a se aceitar.
_ Assim espero.
Quando o exame ficou pronto, garanti que não ficou nenhum registro do meu sangue.
Entramos de novo no consultório dele.
O médico continuava com olhos vidrados.
_ Meus parabéns. Você está grávida. Vamos fazer um ultrassom.
Eu deitei e levantei a blusa. Estava nervosa. Lorie estava olhando atenta. Curiosa. Eu esqueci que era uma criança, que acabou de virar mulher.
Após alguns minutos, eu já sabia, que era uma gestação de seis semanas e três dias. Ainda muito pequeno. Apenas um pontinho. Ele me deu a imagem impressa. Eu fiquei olhando. Minha sementinha.
_ Tem mesmo, um bebê aí?_ Lorie perguntou.
_ Você sabe que sim. Também ouviu o coraçãozinho dele.
Quando fui saindo, o médico, já fora do controle dos meus dons, disse...
_ Dessa vez foi só um susto. Lembre-se de se prevenir. Não é só evitar gravidez. É evitar doença também.
Eu pisquei observando o doutor.
_ Ah, claro. Vou tomar cuidado.
Eu o fiz apagar os rastros. Essa foi a história plausível, que sua mente criou.
Eu e Lorie subimos na moto.
_ Agora é sua vez. _ eu disse.
_ Vamos às compras. _ Ela disse empolgada.
Nós fomos para a mesma loja de rock que eu fui. Lorie observou cautelosamente, tudo.
_ Acha que vai chamar atenção do Peter?
_ Você precisa ir com calma. Até ontem você era uma criança, uma irmãzinha. Ele precisa de tempo. Mas, sim. Funciona com o menino depressivo.
_ Serei paciente. Mas, não tenho tempo a perder. Não posso dar brecha para ele escolher defender a Natasha.
_ Verdade.
Ela escolheu as roupas que mais gostou. Os sapatos. Estava se divertindo.
Saiu da loja já usando uma blusa de banda, jaqueta de couro. Calça jeans, preta. Uma bota de salto alto. Com caveiras de prata.
_ Preciso conversar com você, longe dos meninos.
_ Então, vamos para a praça.
Dessa vez, Lorie ficou calada durante o trajeto. Com certeza havia muita coisa para ela perguntar. Eu também tinha minhas dúvidas. É certo que seres sobrenaturais obedecem as leis naturais, porque vivem em um mundo natural. Uma hora ela ia crescer. Porém, como ela pôde passar de uma criança, para uma mulher adulta, em seus vinte anos, mais ou menos?
A noite estava fria. O céu cheio de estrelas. Um vento agradável. Respirei fundo. Minha vida tinha mudado tanto, desde a morte de meus pais. Parecia que havia passado séculos. Não foram nem três meses.
_ Quando Viktor me salvou, eu me revoltei com a ideia de ser eternamente criança. Era um pesadelo. Ele explicou as regras e disse que eu cresceria. Só que mais lentamente, por ser vampira. Quando você vira vampira, ainda na fase de desenvolvimento, há um desequilíbrio. Uma briga entre a natureza humana e a natureza vampira. Seu corpo não sabe mais, como deveria se desenvolver. Ele me ensinou a usar meus dons, e a própria natureza vampira, para controlar meu desenvolvimento. Ao longo dos anos, fui refreando o rápido crescimento humano. E adaptando meu corpo ao desenvolvimento de um vampiro. Assim, na hora certa, eu poderia libertar e estaria desenvolvida, corretamente. Como se tivesse nascido vampira.
_ Seu corpo entrou em colapso, por que foi transformada na fase de desenvolvimento. Entendi. Seus dons controlaram isso. Ok. E se tivesse nascido vampira?
Ela riu.
_ Está preocupada com seu bebê?... Nos filmes que viu. Vários personagens nasceram vampiros ou até meio vampiros não é?
_ Em livros e filmes. Nasceram e se desenvolveram bem. Até os que nasceram vampiros, por que a mãe foi mordida pouco antes do parto. A maioria das histórias retrata a fertilidade. Que não há problemas em ter filhos entre vampiros ou mestiços. Raramente alguma história fala que são inférteis. Mas, uma coisa é ficção. Outra é realidade.
_ A realidade é que existe um bebê vampiro aqui. Filho de uma vampira e um vampiro. Está se desenvolvendo bem. E será muito amado e mimado por todos.
_ Principalmente por Viktor. Por que será que ele não fez filhos, ao invés de só transformar?
_ Acho que ele não confia o suficiente em ninguém. Além disso, ele transformou você para o Nicolae. E eu para o Peter. Ele quer uma vampira. Está esperando transformar a garota certa para ele. Então, terá filhos de verdade. _ disse Lorie. _ Sou muito grata a ele. Se estou viva e conheci todos vocês, foi porquê ele me deu a chance.
_ Também sou grata a ele. Se eu conheci Nicolae e pude ser mãe, foi pela segunda chance que ele me deu.
_ É isso que os meninos precisam entender. E essa vida, crescendo dentro de você, é exatamente o que precisávamos, para mostrar a eles, que não somos monstros. Apenas, uma outra forma de vida. Outro ser. Que se está no mundo, é porquê tem um propósito.
Sim, eu esperava que aquela vida em meu ventre, pudesse trazer a aceitação que os meninos precisavam.
" Seja bem vindo! Meu filho!"

Is It Love? Nicolae - Laços de Sangue.Onde histórias criam vida. Descubra agora