Is It Love? Nicolae - Laços de Sangue.

Estratégia

      Ter a casa tão cheia era estranho. Mas, rapidamente acabou ficando dividido entre os homens e as mulheres. Aos poucos dava para perceber a personalidade de cada um. Enquanto Sabrina era ousada e falava alto. Luísa, era extrovertida, mas tinha uma fala suave. Gabriela escutava com atenção e vez ou outra fazia um comentário. Com uma voz normal, comum. Bianca não prestava muita atenção na conversa. Parecia meio distante.
         _ Nossa, naquela época era ainda pior. Estou falando, as bruxas sempre tem truques nas mangas. _ dizia Sabrina.
         _ Viktor falou sobre tudo?_ perguntei.
         _ Sim. Você sofreu bastante. Não está com ódio de seu ex? _ perguntou Luísa.
         _ Eu fiquei decepcionada, com raiva, magoada, me senti traída. Mas, ódio... Não consigo odiá-lo. Eu amo ele demais.
         _ Deve amar mesmo. Se fosse eu, tinha matado ele, assim que me recuperasse. _ disse Sabrina.
         _ As bruxas vão focar em você, não importa se está grávida. Não é seguro você sair sozinha. _ disse Gabriela.
          _ O problema é que a namorada do Drogo é bruxa. _ disse Lorie.
          _ E daí? Ele que arrume outra namorada. Porque não vou pegar leve com ninguém. Isso é guerra! Não é um faz de conta. _ Sabrina disse irritada.
          _ Além das bruxas, tem os lobisomens. O que fizeram até agora?_ indagou Luísa.
          _ Só tiraram meu sangue. Mais nada. _ eu disse. _ Eles estão acampados na floresta.
          _ Precisamos nos preparar. Temos bastante pessoas agora. Se precisar de ajuda, chama. Vamos andar em grupos. Avaliar os inimigos e ver se é melhor atacar ou esperar o ataque. _ disse Gabriela.
           _ Quero conhecer os outros. Não sabia que Viktor tinha transformado tantos. _ eu disse.
           _ Foram vários. Mas, a primeira a ter coragem de ter um filho, foi você. Sabe como é. Temos a eternidade toda pela frente. Vamos nos apaixonar muitas vezes. Ninguém está afim de se prender, tão cedo. _ disse Sabrina.
            _ Ou seja, todos se apaixonaram várias vezes, mas, nunca amaram ninguém. Quando vocês amarem, vão ver o quanto é diferente da paixão e como você tem certeza de querer passar a vida inteira ao lado dessa pessoa. Como seu coração se preenche por completo e não sobra espaço para ninguém. Como a outra pessoa se torna o seu mundo. E... Como é incapaz de odiar essa pessoa.
          Elas ficaram me encarando e me senti constrangida.
          _ Não quero ficar assim, nunca!_ disse Sabrina.
          _ Que tal parar de conversa fiada e irmos logo para o confronto?_ indagou Bianca.
          Como ela havia ficado calada até então, todas nós, assustamos.
           _ Então, vamos. Quero ver esses lobisomens. _ disse Sabrina.
           Nós levantamos para sair. Pensei em falar com Nicolae, mas, os garotos se isolaram para discutir estratégias, preferi não incomodar.
           Fomos andando, sentindo o vento frio, conversando sobre o que mudou ao sermos transformadas. E ao chegar no centro da pequena cidade, nós vimos os lobisomens. Lembrei de olhar a lua e senti um arrepio forte. Já tinha virado lua cheia. A tal preparação com meu sangue, com certeza, teve a ver com isso.
          _ Meninas... _ chamei. _ É lua cheia.
          Elas olharam para o céu. Bianca deu um sorriso sádico.
          _ Porque acha que eu pedi para sair?
          Lorie se aproximou, visivelmente nervosa.
          Eles notaram nossa presença e se voltaram para nós. Era um grupo diferente.
          A tensão no ar era visível. Fiquei preocupada com as pessoas ao redor. Nem tinham ideia do perigo.
           Um uivo de longe chegou até nós. Reproduzido por aquele grupo. As pessoas olharam surpresas e assustadas.
          _ Temos que tirá-los daqui. _ eu disse.
          Eles começaram a emitir sons estranhos. A forma foi ficando distorcida. Eles cresceram de tamanho.
         Não consegui me mexer. As pessoas também olhavam sem entender.
         _ Eles vão atacar os humanos, ou nós?_ Lorie perguntou.
         Respondendo sua pergunta, eles correram em todas as direções. Atrás de humanos e vampiros. E eu não sabia para que lado ir.
         As outras Bartholy já tinham participado de guerra de território, sabiam como enfrenta-los.
         Eu fui para o lado das pessoas que estavam correndo. Um rapaz foi pego antes de eu chegar.
         _ Não!... _ gritei.
         Parei de frente para eles. Meu coração batendo forte. Sem saber o que fazer. Fisicamente eu era mais fraca. Não sabia lutar. Tinha meus poderes mentais, mas, estava nervosa. O rapaz olhava em pânico.
          _ Me ajuda. _ ele disse.
          Encarei a aparência transformada. Híbrido de homem e lobo. Não havia qualquer consciência humana ali.
          Ele rosnou como se não quisesse dividir a presa comigo. E mordeu o ombro do rapaz. Eu ataquei. Pulei sobre o lobisomem e apertei o pescoço dele com os braços, para força-lo a largar o rapaz. Ele se balançou de um lado para o outro.
          _ Lívia!_ gritou Lorie.
          _ Ajuda a tirar esse rapaz daqui. _ eu disse.
          Enquanto eu distraía ele, ela tirou o rapaz de perto. O lobisomem uivou e me jogou para o alto. Antes que eu chegasse ao chão, outro lobisomem me agarrou com as garras. Doeu. Tentei me acalmar, olhar para ele e usar meu dom. Ouvi Sabrina gritando. Ela estava cercada, tinha um encima dela.
          Tentei empurrar o lobisomem, pesado. Olhei nos olhos dele.
           _ Sai de cima de mim. Agora.
           Ele parou de tentar me morder e se afastou.
           Lorie estava atacando o lobisomem feito uma louca. Agora que ela podia fazer o que sempre pedia, percebeu que não era tão divertido assim. Afinal, estava arriscando a vida. Seu sorriso sádico, não escondia seu nervosismo. O medo, que eles tão bem, farejavam.
           Eu fui ajudar Sabrina. Dei uma joelhada na lateral do lobisomem em cima dela. Ele se virou para mim e ela o empurrou. Nos afastamos, mas, estávamos cercadas.
           _ São muitos. Está difícil não chamar a atenção dos humanos.
           _ Podem usar. Eu apago a memória deles. _ eu disse.
           Ela então, sorriu. Eu fui até Lorie, desviando dos lobisomens.
           As pessoas deviam pensar que éramos loucas.
            _ Use seus dons. _ eu pedi.
            _ Mas, e os humanos?
            _ Eu cuido deles.
            O nervosismo dela sumiu. Ficou só o sorriso sádico.
            _ Agora a diversão começa. _ ela disse.
            Eu fui na direção dos humanos. Foquei minha mente neles.
             _ Olhem para mim.
             Com o controle que aprendi com Lorie, fiz meu dom se expandir pela mente de todos. O ar se ondulou ao redor, passando por eles. Quando vi seus olhos brilhando no escuro, sabia que tinha funcionado. Todos de olhos vidrados.
              _ Não é nada de mais. Isso é só uma briga por motivação política.
              Eu pensei que isso seria fácil para eles aceitarem, como a verdade.
              _ Vão para casa. A polícia logo vai chegar e separar os grupos.
              Eles se afastaram como robôs, que eu tivesse inserido uma programação.
              Ao ver que não havia mais humanos ali, elas começaram a usar seus dons. Vi Lorie dar um grito, que ondulou na direção do lobisomem, o fazendo cair de joelhos. Totalmente incomodado. Ele desmaiou logo em seguida. Pelo visto. Seus dons se concentravam na voz.
              Sabrina, ergueu a mão, e o chão rachou. Abrindo uma fenda, por onde vários lobisomens caíram. Eles tentaram subir de volta, sem sucesso.
              Bianca agitou as mãos e mesmo com poucas nuvens, choveu. Ela manipulou a água, para se direcionar a fenda com os lobisomens. Arrastando outros, no meio do caminho.
              Gabriela apontou para o alto e uma descarga elétrica passou por seu corpo. Ela então, direcionou para os lobisomens, encharcados, na fenda. Que gritaram alto. Tanto, que estremeci.
             Luísa cuidou dos que sobraram. Fazendo o ar se agitar ao redor. Os lobisomens foram lançados ao ar e caíram, com força. Ela fez o vento se acalmar.
             Para finalizar. Lorie foi andando até o meio do cruzamento. Sua voz ecoou por todo o lugar. Naquela canção de ninar angustiante. Macabra. Fazendo os lobisomens adormescerem. Até eu fiquei sonolenta.
            Um silêncio invadiu o local. Com a calmaria, a adrenalina abaixando, os resultados da batalha apareceram. A dor dos arranhões, as costelas quebradas. O corpo dolorido. Nossa aparência era um caos. Mas, para uma primeira batalha, fomos muito bem.
            _ Eles vão usar os humanos para nos distrair. Mas, Lívia pode cuidar deles, por nós. _ disse Sabrina.
            _ São muito fortes. Se não agirmos rápido, não teremos chance. _ disse Luísa, apoiada em uma perna. A outra estava quebrada. O osso aparecendo.
            _ Ei, conscerte isso, antes que se cure do jeito errado. _ disse Bianca, segurando o braço. Que tinha um ferimento horrível.
            Gabriela foi até ela mancando. Eu virei o rosto para não ver. Mas, Luísa, não quis ajuda.
             _ Deixa os meninos fazerem isso. São mais fortes.
             _ O que há com eles que não vieram ajudar? Acaso não ouviram os uivos? _ perguntou Lorie.
             Sentindo que ia desabar a qualquer momento, eu disse...
              _ Vamos para casa. Antes que apareçam mais.
              Luísa se apoiou em Gabriela. Ambas cambaleando. Lorie notou que eu não estava bem e veio me apoiar.
             _ Fiquei com medo quando ele te jogou para cima e veio o outro lobisomem.
             _ Achei que ele ia me quebrar ao meio. _ eu disse.
             _ Mas, até que foi divertido. Já sabemos o que iremos enfrentar. São mais bonitos na forma de lobo. Essa forma híbrida, da lua cheia, é muito feia.
             _ Exatamente o que sempre disseram. Feras sem consciência. Amanhã nem vão lembrar do que aconteceu.
             Ela olhou para trás e suspirou.
             _ Estamos vivas, é o que importa.
             _ Eles também estão. Só tem uma coisa que mata lobisomens.
             _ Prata!_ ela disse.
             Aos poucos a regeneração de vampira estava fazendo tudo voltar ao normal. Quanto pior o ferimento, mais lentamente se fechava. Mas, tomando sangue, ascelerava o processo.
            Entramos na mansão, nos "arrastando". Roupas rasgadas, sujas de sangue, machucadas. Até baba de lobisomem, tinha. Aliás, fedíamos ao hálito deles.
           Os rapazes estavam um ao lado do outro. Numa fila reta. Nicolae, como sempre, de braços cruzados, queixo erguido, sobrancelha franzida. Olhou para mim, de alto à baixo. Todos eles ficando chocados.
           _ Será que podem dar o sermão depois e ajudar primeiro? Luísa tem um osso exposto. _ disse Gabriela.
           A expressão incrédula deles, era quase cômica.
           Nicolae veio até mim, fazendo sua inspeção, para constatar os danos. Eu gritei, quando ele encostou nas costelas quebradas.
           Muito irritado, ele disse...
           _ Em algum momento você lembrou que havia dois bebês aí?
           Fiquei corada, porque na verdade, só pensei em ajudar os humanos e as meninas.
           Ele me pegou no colo e levou até o sofá. Sentada no colo dele, eu esperei sua reação. Ele afastou o cabelo. Sem se importar, que estivessem vendo.
           _ Você está fedendo lobisomem.
           _ Desculpe. Vou me lavar logo.
           Eu mordi o pescoço dele.
           Escutei os gritos de Luísa, quando colocaram o osso no lugar, para curar do jeito certo. Escutei Ralph oferecendo sangue. Depois de um tempo, só o silêncio. E logo, os rapazes gemendo baixinho. Como se estivessem tentando esconder, as sensações que tinham. Quando me afastei, Nicolae estava ofegante. Senti as costelas se curando. Os machucados se fechando. Eu precisava de mais. Porém, Nicolae não podia me dar tanto assim. Precisava repor.
           _ Você me deixou muito preocupado. Achamos que estavam em casa. Quando notamos suas ausências... Tem ideia do meu desespero?
           _ Nenhum. Já que nem foram ajudar. _ eu disse.
           _ Porque Ralph garantiu que as meninas não seriam tão estúpidas, de enfrenta-los sem pedir ajuda. Como não chegou nenhum pedido de socorro, achamos que não estavam lutando. Só ajudando os humanos.
          _ Pois saiba que além de detonar com eles, ainda ajudamos os humanos. Que vão precisar de médico, é claro.
          Saí do colo dele e fiquei surpresa, com o que vi. Lorie estava bebendo o sangue de Ralph. Gabriela bebia de Julius. Bianca bebia de Lucas. Sabrina bebia de Peter, que olhava assustado. Luísa bebia de Drogo, que estava de olhos fechados. Segurando os braços dela, como se estivesse em dúvida, sobre deixar ou não.
          Nicolae encarou a cena de boca aberta, depois suspirou.
          _ Como posso reclamar sobre eles tomarem o sangue das meninas, se os meninos deixam as meninas tomarem?
           _ Foi uma emergência! _ Eu disse.
           Ele olhou meu estado.
           _ Tudo bem com os bebês?
           _ Sim. _ eu disse. _ Agora vamos sair daqui, antes que queiram nosso sangue.
           Nicolae riu, segurando minha mão. E nós corremos para o segundo andar. No meu quarto. Ele trancou a porta.
           _ Preciso tomar um banho. _ eu disse.
           _ É um convite?
           Meu rosto esquentou. Ele riu da minha expressão.
           _ Quem sabe um dia. _ ele disse sentando na minha cama.
           Por um momento, eu até quis aceitar. Toda aquela adrenalina da luta mexeu comigo.
           _ Talvez...
           E fui tomar banho sozinha.