Caos

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      Eu deveria deixar tudo para trás e esquecer o que aconteceu? Eu sentia tanta falta dele que chegava a doer. Mas, em pensar que ele ficou imaginando o que estava acontecendo ao invés de ir até mim, não dava para ignorar. Nós tivemos dificuldade. Eu tive medo, me machuquei e eu quis que ele fosse ajudar, sem eu precisar chamar. Talvez os homens fossem mesmo, muito diferentes das mulheres. A maneira que ele demonstrava preocupação, não me convencia. Eu estava sendo exigente? 
      Ele ainda estava no meu quarto quando eu saí do banho. Sentei na cama, de frente para ele. 
      _ Você precisa repor o sangue que eu peguei de você._ eu disse.
      _ Vou repor. Mas, antes de dormir, precisamos conversar.
      _ É mesmo necessário?
      _ Lívia, eu não estou agindo como um pai autoritário e rígido. Eu me preocupo com você e a Lorie. Enfrentar lobisomens sozinhas... Veja o estado em que vocês voltaram.
       _ E por que você não foi então?... Como quer que eu acredite que você se importa se nem se dá ao trabalho de cuidar de mim?
       _ Você nem deveria ter saído sem falar comigo. Nós demoramos a perceber que vocês não estavam. Quando ouvimos os uivos, nós concordamos que era melhor atacar em grupo. Mas, vocês não estavam. Ralph disse para não entrarmos em pânico, pois confiava no discernimento de Sabrina. Eles estavam tão tranquilos, que não achei que devia ser tão grave assim. 
        _ Como posso confiar em você, desse jeito? Você espera que eu chame toda vez que estiver com problemas. E se eu estiver em uma situação que não possa te chamar? Eu falhei em não lhe avisar que estava saindo. Concordo. Mas, ao notar minha ausência, não importa o que Ralph disse, você devia ter ido conferir se estava tudo bem. Afinal, quem é que está no comando, você ou ele?
        Nicolae abaixou a cabeça.
         _ Ele já lutou em duas guerras. Tem mais experiência que eu.
         _ Então, deixou ele no comando!_ eu conclui. 
          Suspirei encarando a janela aberta do meu quarto.
         _ Nós pensamos muito diferente. Acho que não tem como dar certo entre nós.
         _ Ei, os opostos se atraem. Não temos que concordar em tudo.
         _ Você consegue conviver com nossas diferenças?... Pense em cada vez que eu não fiz o que você esperava. Consegue conviver com isso?... 
          _ Temos que aprender a confiar um no outro. Para não nos preocuparmos cada vez que o outro toma uma decisão que não nos agrada. Por isso não fui atrás de você. Quis mostrar que confio em você. Esperava que você também confiasse em mim, o bastante para me chamar se precisasse. 
          Como foi que ele virou a situação a seu favor, me fazendo parecer a errada da história? Eu estava mesmo me sentindo culpada agora.
           _ Ainda não confio em você. Sinto muito. Ainda espero alguma atitude sua, que vai fazer eu confiar em você de novo. _ eu disse. 
            Ele balançou a cabeça, triste.
             _ Entendo!... Não vou forçar a barra. Só me mostre o que aconteceu.
             Ele focou seus olhos nos meus e sua mente se conectou com a minha. Ele leu meus pensamentos sobre a batalha. Que foi pesada. Mas, no fim, para minha surpresa, ele sorriu.
             _ Vocês foram ótimas! Trabalharam bem em equipe. 
             _ Obrigada!
             _ Como vão ficar os humanos que se machucaram?
             _ Espero que não se transformem em lobisomens. 
             Ele olhou para mim, sério. A chance era grande. E como explicaríamos isso?
             _ Amanhã saberemos e vamos decidir o que fazer._ ele disse. 
             Deu um beijo na minha testa e saiu do quarto. Fiquei encarando a porta fechada. Aquele era só o primeiro dia de lua cheia. 

********

             Como se nada tivesse acontecido, nós seguimos a rotina normal. Bem cedo, eu fui para a faculdade com Lorie, Drogo e Peter. Estava um silêncio constrangedor.
            _ Pessoal, ontem foi uma emergência. Não se sintam mal, com o que aconteceu. _ eu disse.
          _ Quer dizer, você tomando o sangue de Nicolae?_ Lorie disse.
          _ E você tomando do Ralph?
          Ela ficou corada e abaixou a cabeça.
           _ O que achou do sangue dele? Agora já experimentou de todo tipo, qual é o melhor?
           _ Você tinha razão. É doce. E o que eu mais gostei. _ ela respondeu. _ Surpreendente foi Drogo, deixando a Luísa beber o dele. O que a Natasha vai pensar se souber que você estava gostando?
           _ Ela não precisa saber. E como a Lívia disse, foi uma emergência. Vai dizer que não sentiu nada ao beber o sangue do Ralph?
           _ Talvez... _ ela disse. E olhou para Peter.
          _ Coitado do Peter. Parecia em choque. Sabrina te atacou?_ eu disse.
              Ele ficou corado e olhou pela janela.
          _ Eu não estava esperando. Mas, com o estado em que chegaram, não dava para negar. 
          _ A culpa é de vocês. _ disse Drogo. _ Só fomos gentis o bastante para ajudá-las. 
          _ O que vocês sentiram é culpa da perversidade de vocês. Para nós, não foi nada de mais. Não é Lívia? _ Lorie disse e se lembrou de quem eu tinha bebido. _ Ops! Não quis dizer que você é perversa Lívia. 
          Os meninos riram. 
           _ Tudo bem, não foi nada de mais. Só bebemos sangue, que é como beber água. Não é como se tivéssemos feito... Deixa para lá. _ eu disse.
          _ Você sabe que é como uma preliminar, Lívia. Não dá para evitar. Somos vampiros. Nossa natureza sedutora transforma tudo em luxúria. _ disse Drogo. 
     Quando ele estacionou o carro, vimos Natasha esperando no meio do caminho.
           _ Ninguém fala nada._ ele disse. _ Não foi nada de mais. 
           _ Isso é problema seu. Não vou me meter. _ disse Lorie. _ Só estou um pouco chateada. Vocês negaram sangue para nós e deram tão fácil para elas. 
           Lorie saiu do carro sem olhar para trás. Eu acompanhei ela, deixando os rapazes sozinhos. Passamos por Natasha que olhou para mim, como se quisesse me fuzilar. Ignorei e continuei seguindo firme para a aula. 
           Marcos veio falar comigo todo preocupado. E eu tinha esquecido que ele pensava que eu havia sido mordida. Escondi o pulso. 
            _ E aí, como você está?... É perigoso ter uma floresta atrás de sua casa.
            _ Sim. Foi assustador. 
            _ Como vai a mordida?
            _ Foi só de raspão. Estou bem agora. 
           Ele ficou me encarando sem acreditar muito. Havia muito sangue para ser de raspão. 
           Ele puxou meu pulso e viu que não havia ferimento nenhum ali.                  _ Marcos, eu...
           _ Então, o sangue era do lobo. Fico feliz que esteja bem. Mas, não precisa mentir para mim. Você é mais importante para mim, do que aquele animal. 
           Ele me abraçou e a turma toda começou a fazer piadinhas. O professor entrou na sala e mandou todos se sentarem. 
           _ Fiquei sabendo que alguns alunos não virão a escola hoje. Eles se machucaram ontem durante um confronto idiota entre grupos políticos. Pelo visto a polícia levou seus cachorros para separar a multidão. Alguns foram mordidos por cachorros. Os policiais estão negando. Dizendo que nem sequer estiveram lá ontem a noite e não receberam nenhum aviso de conflito. Qualquer um abutre que tenha gravado a carnificina, leve até a polícia. Eles estão apurando os fatos. Agora, vamos voltar a atenção a aula. 
           _ Ele pode falar assim?_ Marcos perguntou. 
           _ Ficou sabendo desse confronto?_ perguntei. 
           _ Ouvi comentários. Alguns disseram que choveu tanto que teve até raios. E que os grupos estavam se enfrentando sim. 
          Pelo visto, deixei passar alguns humanos e esqueci de ir na polícia para tornar a história mais real. Isso seria um caos. Se alguém nos reconhecesse, o que eu diria.

Is It Love? Nicolae - Laços de Sangue.Onde histórias criam vida. Descubra agora