Sangue pela vida

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   Ainda estávamos tentando entender o que houve enquanto estivemos fora, e os originais usavam os dons, para fazer a mansão voltar ao que era antes. Viktor quis falar em particular com Drogo e Peter. Aproveitei para chamar Luísa para uma conversa.
    _ Nossa, ainda não acredito que passei três meses "morta". Estou me sentindo realmente morta-viva. Como nas histórias antigas. Só falta eu virar um morcego.
     Eu ri. Lembrando dos meus morceguinhos de estimação.
      _ Tem uma coisa que eu preciso te perguntar.
      Ela me olhou confusa.
      _ Fala.
      _ Você... O motivo pelo qual foi transformada.
      Ela balançou a cabeça, com um sorriso de compreensão.
      _ Viktor te contou. Quando eu fui transformada, ele já tinha feito isso com a Lorie. Eu não a conhecia. Só sabia que ela existia. Ele pediu para que eu esperasse até ele encontrar a terceira garota. Contou sobre os rapazes, com dons muito úteis que ele não queria como inimigos. Nós éramos sua tentativa de fazê-los aceitar a condição de vampiros e serem leais a ele.
     _ Então, você ficou no outro grupo, até ele me encontrar.
     _ Sim. Estava esperando. Eu teria aparecido, mesmo sem essa guerra. Só que, não é porque ele quer que eu vou gostar do Drogo.
     _ Eu sei. Eu tive meus motivos para vir como ele queria. Me apaixonar por Nicolae, apenas... Aconteceu. Eu era mais próxima do Drogo. Melhores amigos. Eu e Nicolae não concordávamos em muitas coisas. Mas, foi por ele que meu coração balançou.
      _ Quando cheguei aqui e vi Drogo... Claro, achei ele lindo e atraente. Mas, não senti nada. Eu só... balancei um pouco quando bebi o sangue dele. Na noite em que as mulheres lutaram sozinhas. Eu estou acostumada a compartilhar sangue com os caras do meu grupo. Nunca senti nada. Mas, com Drogo... Foi intenso. Só que fisicamente. Eu não fiz nada, nunca faria. Ele era comprometido. Eu disse a mim mesma, que não deixaria aquele início de interesse se tornar algo mais.
     _ E você disfarçou bem. Foi o que Viktor disse... Uma garota quieta.
     _ Eu não sou como a Lavínia. É ridículo esse comportamento dela. Eu não faço com outra, o que não quero para mim.
     _ Você é uma boa garota.
     Ela deu um sorriso sarcástico.
     _ Eu era. Mas... Quando vi que aquela garota tinha te atacado, eu nem hesitei em matá-la. Eu não sabia que ela era a namorada dele. E quando vi ele segurando ela nos braços... Aquilo doeu. Eu percebi que meu interesse nele é maior, do que pensava. Eu senti raiva dela ter magoado ele. E percebi que mesmo se eu soubesse quem ela era. Ainda assim, a mataria. Pelo que ela fez a você. E por ter machucado ele. Ela mereceu!... Eu não sou mais uma boa garota.
     _ Já disse. Se não fosse você, seria outra pessoa.
     _ Mas foi eu. _ ela disse triste. _ Não importa se estou me apegando a ele. Nunca vou cumprir a ordem do Viktor. Por que depois do que eu fiz, não é justo eu querer algo com ele. Esqueça o que o Viktor te disse. Ele vai ter que encontrar outra garota.
     _ Eu não sei como Viktor sabia que nós acabariamos apaixonadas por eles. Até a Lorie que era só uma criança. Quando se tornou adulta... Ela começou a ver Peter de uma forma diferente. No início ela queria ver... Depois ela realmente sentiu o coração bater forte. Tivemos chances de nos apaixonar por outro, mas, foi como Viktor queria.
     A expressão dela era de tristeza.
     _ Eu preferia que ele estivesse errado. Mas, eu vou ter que lidar com isso. Não conte para ninguém. Vamos fingir que isso nunca aconteceu.
     _ Não vou dizer. Mas, saiba que mesmo com erros, falhas, precisando perdoar o imperdoável, ainda é possível ter um relacionamento saudável. Com amor sincero. Meu caso é prova de que podemos fazer dar certo, se estivermos dispostos a fazer isso juntos.
      Ela deu um sorriso fraco.
      _ É, eu sei. Ele vai levar um tempo para superar isso. Assim como Peter precisou.
      _ Acho que só deu certo para você.
     Era uma situação complicada. E mesmo que Viktor quisesse, o que poderia fazer? Se ele tivesse apresentado Luísa para Drogo, antes que ele conhecesse Natasha, tudo teria sido diferente. Ele errou em esperar ter as três garotas que ele considerava ideais, para os rapazes. Eu não entendia Viktor. Mas, era melhor não pensar sobre isso. Como ele mesmo tinha falado.
     Voltamos para a sala. Tudo já havia se restaurado. E era um alívio não ter que ver aqueles esqueletos.
      Luísa foi se juntar ao seu grupo. Me perguntei como ela conseguia disfarçar seus sentimentos. Mas, a resposta era clara. Aprendeu com Sabrina. Que depois daquela declaração, antes de ser pega na maldição, não podia mais fingir.
      Ralph estava encarando ela, com as mãos nos bolsos. Ela olhava para todos os lados, menos para ele.
      _ Ei, originais. Obrigada, de novo! Podem nos dizer como está a cidade? _ eu questionei.
      O alemão ficou me encarando em silêncio. O asiático, fez cara de quem não entendeu. Eu podia jurar que um deles era africano, outro francês. Eu não entendia como Viktor conseguiu reunir vampiros de nacionalidades distintas. Isso explicava porque demorou tanto. Os nossos conterrâneos eu reconheci, da outra vez que me salvaram. Inclusive as garotas.
      _ Os lobisomens reivindicaram o território. Nós lidamos com as bruxas. Agora vamos deixar vocês espulsá-los. Pode me chamar de Rebeca. Não gosto de ser chamada de original.
      _ Desculpe. E os humanos?
      _ Estão sendo escravizados pelos lobisomens. A comida nessa cidade é escassa. É melhor cuidarem disso logo. Precisa nascer mais humanos, para repor o alimento que perderam.
      Eles nunca foram humanos. Eu não esperava empatia, da parte deles.
      _ Então, teremos que resgatar os humanos e expulsar os lobisomens. _ disse Alexandre.
       _ Expulsar? Não sejam fracos e covardes. Sempre precisando serem salvos por não terem coragem de fazer o necessário. Matem todos. Antes que eles tenham chance de retaliar. 
      _ Ainda são jovens, Augusto. Eles vão aprender.
      _ Já passou da hora, Rebeca. Lobisomens não tem dó de vampiros. Apenas levam desvantagem porque é mais fácil matá-los, do que sermos mortos. Um passo para eles. Dois para nós. Eles têm coragem de dar os dois passos. Se não dermos o único passo que precisamos, vamos ser extintos.
      _ Não. Nós vamos continuar existindo. Eles já entenderam.
      Todos olharam para mim. Para minha barriga.
      _ Novos vampiros virão. Mais fortes por terem nascido assim.
      _ Não precisam me invejar. Façam como eu. Transforme com objetivos. _ disse Viktor, voltando a sala.
      Pela cara de Drogo e de Peter, a discussão foi feia. Me perguntei se ele contou aos rapazes sobre nós.
      _ Está na hora de acabar com os rivais. Alexandre... Vá até o centro da cidade. Anuncie nossa volta com seu grupo. É para matar. Ralph vá até o acampamento deles. Com seu grupo. Vocês... vão com a gente até a prefeitura. Não quero nenhuma hesitação. _ disse Viktor.
       A aura de vampiro dele e os outros originais era tão forte, que me sentia meio descontrolada. Era como se estar perto deles, fizesse nosso instinto dominar. E nós ainda precisávamos de sangue para recuperar as forças. Não haveria hesitação. Não com eles na cidade.
     _ O que será que Viktor falou para eles?
     _ Não sei Lorie. Talvez sobre as humanas que eles namoravam. Viktor nunca aprovou.
     _ Nicolae também não. Nesse ponto eles são iguais. Apesar dos motivos serem diferentes.
     _ Drogo ainda nem teve tempo de digerir isso. _ eu disse.
     _ Na verdade... Teve três meses.
     _ Que não contam. O que você viu nesse tempo?
     Ela balançou a cabeça.
     _ Não lembro de ter sonhado. Foi como se tivesse acordado depois de um longo sono. Meio desorientada.
     _ Eu estava entediada com o mesmo sonho. Um campo florido. Crianças me chamando. Falar nisso... Meus gêmeos. São um casal.
     _ Sério? Que fofo. Vou ter um sobrinho e uma sobrinha.
     _ Sim. Eu estou muito feliz. Apesar da situação.
     _ A guerra vai acabar logo. Vamos matar uns lobisomens.
     _ Se forem como o que quase me tirou Nicolae.
     _ Eles não estão dispostos a fazer um acordo. Não temos opção. Temos que cortar o mal pela raiz. Eles tiveram a chance de ir embora.
     Tiveram. Três meses.
     Nós acompanhamos os originais, até a prefeitura. Pelo caminho, nós vimos que a cidade estava recuperada dos estragos das batalhas. Muitos humanos operários estavam trabalhando nos acabamentos das obras. Tinham aparências cansadas. Estavam sujos. E uma coleira preta, com uma corrente, circundava o pescoço de todos. Escravos. Olharam para nós como se implorassem socorro.
     _ Ainda não. Vamos direto aos lobisomens.
     Viktor parecia ter lido minha mente. O que era bem provável.
     Respirei fundo e segui para o prédio do governo. Ninguém tentou nos parar. Os lobisomens que ficaram de guarda na porta, olharam espantados.
     _ Saiam da frente. _ ordenou Viktor.
     Os guardas abriram a porta e entraram na sala.
     _ Os Bartholys voltaram. E trouxeram reforço.
     Entramos na sala. O alfa que estava sentado na cadeira de prefeito da cidade, se levantou.
     _ Pensei que as bruxas tinham dado um jeito em vocês.
     _ Pensou errado. Essa cidade me pertence. E vocês vão se arrepender por ter invadido meu território.
     Não houve hesitação. O alfa avançou sobre Viktor. Que o empurrou pela janela. Os dois caíram do prédio. Nem tive tempo de olhar, porque os comparsas na sala nos atacaram. E os originais ficaram parados.
     _ Vocês tem que aprender a se virar sozinhos.
     Sem opção, saquei meu punhal de prata e ataquei. Eles tinham razão. Não dava para ficar esperando uma ajuda, que poderia levar meses para chegar.
      Nicolae tentou tanto evitar uma guerra, mas, agora que estava ali, não hesitou em matar os lobisomens. Vi seus olhos vermelhos. As presas expostas. Disputando quem era mais forte, rápido e viril. A vantagem dos vampiros é que podiam atacar os lobisomens em qualquer lugar. Sendo algo de prata, eles morreriam. Já no caso deles, tinham que acertar nosso coração. Desviei das estacas e enfiei o punhal na barriga do lobisomem. Não me orgulho disso. Não queria ter que chegar nesse ponto. Mas, eles não hesitariam. Guerra é guerra. Matar ou morrer.
     Lorie não parecia ter problemas com isso. Pelo contrário. A garota estava contando quantos ela acertou.
     Peter estava agressivo. Nunca o vi no modo vampiro descontrolado antes. A presença dos originais deixou todos impulsivos.
      Drogo estava descontando sua dor e raiva neles. Eu sabia o que ele estava passando.
      Quando acertei o último, eu limpei o punhal na roupa dele. Olhei ao redor. Estávamos machucados. Mas, ganhamos a batalha. Eles tiveram a chance de nos derrotar e não aproveitaram. Agora, não seria fácil.
      Viktor voltou pela janela. Sua capa preta por fora, vermelha por dentro, balançou quando ele pulou para dentro da sala. Sem nenhum arranhão. Com o cabelo no lugar. E eu nem pude vê-lo em ação. Lutando.
      _ Agora pode ir libertar os humanos.
      Viktor era tão belo quanto frio. Mas, eu ainda tinha impressão de que ele se importava com suas criações.
       Eu sorri para ele, apesar de não me sentir bem no momento.
       Descemos as escadas e nos aproximamos dos humanos. Bastou olhar para eles, para a pena dos lobisomens desaparecer. Com olhos amedrontados eles estenderam os braços.
      _ Você disse aquele dia, para assumirmos um lado. Eu sou team vampiros. Aceito sua proposta.
      _ A gente aceita.
      Todos olhavam para mim.
      _ Do que estão falando? _ indagou Nicolae.
      Eu me aproximei deles.
      _ Algo que eu disse há um tempo. _ respondi. _ Vocês vão mesmo cumprir sua parte do acordo?
      _ Sim.
      Vários murmúrios.
      _ Lembrem bem o combinado. Sangue, pela vida. Vou salvar e proteger vocês. Não se esqueçam de doar sangue para nós.
      E comecei a liberta-los. Um acordo de convivência pacífica era tudo que precisávamos. Uma garantia de paz, após a guerra. Sem que precisássemos nos esconder. Um alívio, para meu coração de mãe.
     
  

Is It Love? Nicolae - Laços de Sangue.Onde histórias criam vida. Descubra agora