Encontrando Rivais

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    Foi necessário usar meus dons para modificar as lembranças de todos, sobre Lorie. Todos que tiveram contato com ela. Na escola, nas lojas... Ficou como se tivessem visto ela crescer. Assim, ela pôde se inscrever na nossa faculdade. Dei um jeito para que colocassem ela na turma de Peter. Ela tinha muito para aprender e ele era o mais paciente. Mas, também por ser o alvo dela. Os dois foram juntos para a faculdade. Quanto a mim, tive que explicar minha ausência, como sendo um motivo de saúde. A mente deles aceitou isso bem. Nicolae não queria que eu andasse de moto, por causa do bebê. Ele não foi trabalhar, enquanto eu não entrei no carro de Drogo. Por causa dele, estava um clima horrível. Justo Drogo. Que estava namorando Natasha. E que foi a segunda maior decepção para mim. Por ter parado de se importar comigo, quando conheceu a bruxa.
     _ Devo ligar a música?
     Não respondi.
     Ele desacelerou o carro.
     _ Lívia, eu sei que está pensando que não me importo com você. Mas, ninguém brigou mais, com Nicolae, do que eu. Juro que tentei tirar você de lá.
    _ Até a garota aparecer. Aí, era melhor eu ficar presa. Para a segurança dela.
    _ Eu sei melhor que todos, o controle que você tem. Mas, eu não sabia em que condições você sairia de lá. Não sabíamos da sua fobia. Nicolae estava errado. Desculpe ter parado de insistir quando Natasha apareceu.
    _ Ela é só uma garota. Como tantas que você teve, e ainda vai ter. Eu sou sua irmã. Isso não muda. É para sempre. Como algo passageiro, pode ser mais importante que algo eterno?
     _ Não é passageiro. Eu amo ela. De verdade.
     Fiquei em silêncio. Suspirei olhando a estrada. Depois disse...
     _ Drogo não vou me colocar entre vocês. Entendo que escolha lutar ao lado dela. Até consigo te desculpar, já que foi Nicolae que me prendeu. E ele manda, na ausência de Viktor. Mas, aquela cumplicidade que tínhamos, amizade, fraternidade, acabou!... Eu não confio mais em você, pois estamos em lados opostos da guerra. É melhor cada um seguir seu caminho.
     Aproveitei o sinal vermelho para sair do carro. Não dei ouvidos aos protestos dele. Passei entre os carros e fui para a faculdade a pé. Correndo. Cheguei na faculdade rapidamente.
      Passando pelos corredores, senti um arrepio. Parei e me virei. Vi aqueles olhos cor de mel, me examinando. O cabelo arrepiado. Comprido. Um tom azulado. O homem era alto, forte e com uma aura selvagem ao redor. O coração batia diferente do ritmo humano e do ritmo vampiro. Só podia ser o tal lobisomem, que Nicolae mencionou. Professor da Natasha.
     _ Sebastian Jones?
     Eu apenas sussurrei. Ele sendo um lobo, devia ter uma audição ainda melhor que a de um vampiro.
     _ Lívia Bartholy?
     Balancei a cabeça afirmando.
     _ Esteve no nosso território ontem?
     _ Sim. Mas, não foi por você.
     _ Natasha foi embora da mansão. Está com as bruxas. Espero que não invada o nosso território de novo.
     _ Parece que você gostou. Até sorriu para mim.
     _ Eu gosto de animais. Mas, você é um lobisomem. Se cruzar meu caminho, não terei piedade.
     _ Veremos!
     Ele se virou e sumiu no meio dos alunos. Primeiro contato com um lobisomem. Um moreno até charmoso. Mas, esse charme selvagem, estava longe de ser tão potente quanto o magnetismo de um vampiro. A sedução era parte fundamental de um vampiro, para conseguir se alimentar. Um lobisomem não precisa disso. Simplesmente ataca e dilacera a vítima. Vampiro precisa do sangue. Lobisomem precisa da carne. E o ser humano no meio dessa disputa.
     Continuei andando até minha sala de aula. O "Pepsi" principal, Marcos, veio até mim.
      _ O que houve? Você sumiu. Disseram que estava doente.
      _ Fiquei de cama. Estava mal mesmo. Você me empresta as anotações?
      _ Claro, como sempre. _ ele se aproximou e sussurrou..._ Tudo bem entre nós?
      A mente dele ainda criava ilusões sobre nós dois. Eu estava me sentindo mal com isso. Mas, eu precisava de muito sangue. Por conta do meu bebê. Eu esperava que tudo ficasse bem, agora que minha mente estava em equilíbrio de novo.
     _ Claro, tudo bem.
     _ Então, podemos ir lá em casa hoje?
     Melhor do que arriscar ser pega no beco.
     _ Pode ser. _"Pepsi". Pensei.
     Ele sorriu e me mostrou a matéria.
     Se tudo corresse bem, eu poderia retornar a rotina.
     Os professores não comentaram minha ausência. Apenas seguiram a matéria, após ouvir que eu iria pegar as anotações de Marcos.
     Seguimos após a aula, até a casa dele. Que era um apartamento. Quando ele enfiou a chave na porta, eu olhei para ele, usando meus dons...
     _ Marcos. _ Ele olhou para mim. Seus olhos ficaram vidrados. _ Vamos estudar, tudo que eu perdi nesse tempo que fiquei doente.
     _ Estudar. Claro.
     Ele girou a chave e entramos. Era visivelmente o apartamento de um homem solteiro. Que mora sozinho. Era bom ele não estar dividindo com um colega. Ainda não confiava no meu dom, quanto à alimentação.
     Ele me passou as anotações e explicou todas as matérias que perdi. Sorte minha ele ser um excelente aluno. Notei que o dom permanecia. Encarei seus olhos de novo.
     _ Agora, meu agradecimento por ter me ajudado.
     Ele sorriu. Rapidamente o joguei no chão e o mordi. Como sempre, ele ficou imóvel. Eu senti que o sangue não era suficiente. Afastei-me, satisfeita por ter reconquistado o controle. Vi a ferida se fechando. Juntei minhas coisas e saí, antes que ele acordasse do transe.
      Eu precisava de mais. Então, fui até a praça. Não foi difícil. Depois de mais cinco caras, eu finalmente estava saciada.
      _ Já basta, não é bebê?
      Estava voltando para casa, quando senti algo vindo na minha direção. Desviei. Olhei, já pronta para revidar. Uma garota morena, de franjinha comprida demais, estava com a mão levantada. Apontando para mim.
      _ E quem é você?_ perguntei.
      _ Você matou Sarah. Minha melhor amiga. Também Loan, que estava se tornando amigo. E Samantha, que ninguém sente falta, mas, era um ser humano.
       _ Ah, você. A bruxa do Drogo. Natasha. Sarah me desafiou. Loan é o tipo que não tem amigas. Um cafajeste. Você seria o próximo lanchinho. E Samantha... Não tenho nada contra ela. Mas, eu não lembro de ter matado ninguém. Disseram que eu fiz isso.
     _ Você nem sente remorso? É um monstro mesmo.
     _ Remorso por algo que nem lembro de ter feito? Não mesmo. Eu não sou um monstro. Sou uma vampira.
     _ Vai pagar caro por seus crimes.
     _ E quem vai fazer eu pagar? Você? Essa bruxinha covarde que fugiu com medo do Viktor e voltou agora, que ele se foi?
     _ Você não aguenta essa bruxinha.
     _ Pode vir quente. Estou fervendo.
     No meio da rua, com pessoas passando, eu não recuei.
     _ Vai usar magia aqui? Use. Vá em frente.
     Ela ergueu o outro braço. Vi o ar se ondular, em volta dela. Se preparando. Estava me encarando, procurando sinais de medo. Eu olhei nos olhos dela pensando, " Vamos ver quem é mais forte". Usei o meu dom e instantâneamente, sua bruxaria ficou suspensa no ar. Seus olhos vidrados. Sem nenhuma resistência.
      _ Essa magia, use-a em você mesma.
      _ usar, em mim.
      Ela mudou a pose, e o vento a rodeou. Após palavras de bruxaria em uma língua estranha, o ar ondulou ao seu redor. As pessoas se afastaram assustadas.
     _ Está vindo uma tempestade, corram.
     Todos correram, da praça.
     E a bruxa, se transformou em uma cobra.
     Eu dei gargalhadas.
     "Sério? Só isso?"
     Eu pensei em deixá-la ali. Mas, eu gosto de animais. Fiquei com pena.
     Mantive a cobra sob meu dom e a segurei.
     _ Fique quietinha. Vou te levar para casa.
     Usei a velocidade de vampira. Saltando sobre os telhados. Cheguei rápido, em casa. Todos já estavam lá, na sala. Nicolae parecia agitado.
     _ Lívia, até que enfim. Onde estava? Porque demorou?
     _ Calma, Nicolae. Estava conhecendo alguém. Olhe.
     Todos encararam a cobra.
     _ Por que está segurando isso?_ indagou Lorie.
     _ Alguém veio se apresentar a mim e me atacou.
     _ Quem?_ indagou Peter.
     _ Qual o seu nome mesmo?... Acho que você quer o seu dono.
     Entreguei a cobra para Drogo, que não queria pegá-la.
     _ Não rejeite a Natasha. Vai ficar magoada.
     Drogo olhou chocado, o animal. Segurou com cuidado e olhou em seus olhos.
     _ O que você fez com ela?_ ele gritou.
     _ Apenas refleti o golpe que ela jogou em mim. Isso, é o que ela queria fazer comigo. 
     Nicolae entrou na minha frente por instinto. Gostei disso.
     Olhei para a cobra. Seus olhos ainda vidrados.
      _ Espero que se lembre de tudo. Para que sirva de alerta. Não mexa comigo. Faça seu feitiço reverso. Volte a forma humana. Você deve saber como. Ia usar isso para me intimidar. Não, me matar.
       A cobra sibilou. O vento a rodeou, abrindo a porta e a janela. Drogo a colocou no chão, ela voltou ao normal. E eu liberei meu dom. Levou uns segundos para ela voltar a realidade.
      _ Drogo!...
      Ela me olhou assustada.
      _ Porque me trouxe para cá?
      _ Não se preocupe, Viktor não está.  Apenas estou deixando seu namorado e todos alerta, que foi você quem começou.
       Ela olhou envergonhada, para todos. Depois encarou Lorie, surpresa.
       _ Essa... É a pestinha.
       _ Mais respeito com a minha irmã. _ eu disse.
       _ Adorei, essa da cobra, mana. _ Lorie disse.
       _ Agora, já pode ir embora. Antes que o Viktor volte._ eu disse.
       Ela continuou encarando Lorie, chocada. Depois olhou para mim, com raiva e saiu, batendo a porta. Drogo foi atrás dela.
       Nicolae me segurou pelos ombros. Me olhou de cima à baixo.
      _ Está tudo bem com você?
      _ Sim. Eu refleti o golpe dela. Cheguei tarde por que precisei me alimentar.
      Era melhor deixar as coisas claras. Era o único jeito de ir restaurando a confiança.
     Ele me cheirou. E franziu a sobrancelha.
     _ Sangue humano, claro. Não matei ninguém. Graças à ajuda da Lorie, retornei ao equilíbrio da minha mente. Eu tenho controle. Como sempre tive.
     Ele suspirou.
     _ Você não vai ceder. _ ele disse.
     _ Não tem nada a ver com Viktor. Eu vou te contar sobre a minha fobia e você vai entender, porque precisa ser sangue humano.
      Ele abaixou a cabeça.
      Eu me sentei no sofá. Lorie e Peter, sentaram no sofá da frente. Nicolae veio sentar ao meu lado. Eu respirei fundo e comecei a contar sobre meu trauma de infância. Eles me ouviram sem questionar, até o fim. Ainda emendei o que passei no porão. Ao terminar, Nicolae estava de cabeça baixa. Peter e Lorie, se entreolharam.
      _ Espero que entendam e não questionem mais, eu tomar sangue humano. _ Finalizei.
      Nicolae me olhou e sorriu sem graça.
      _ Eu finalmente entendi. Desculpe. Nos envolvemos tão rápido que não tivemos tempo para nos conhecer melhor. Reconheço que fui impulsivo e exagerei. E tentei te forçar ao meu jeito sem saber as suas razões, para ser contra. Agi mal com você. Três vezes. Espero poder me redimir. De agora em diante, vou cuidar de você. Não só pelo nosso filho. Mas, porque você é importante para mim.
      Eu queria acreditar. Mas, era difícil.
      _ Desculpe se pareceu que eu te descartei fácil. Nenhuma decisão minha foi fácil. Eu sofri por fazer o que fiz. Eu me culpo e me arrependo. E vou me redimir.
     _ Tudo bem. Mas, não vai implicar comigo?
     _ Não. Faça do seu jeito.
     _ Espero que possamos mesmo nos entender. Pelo bem do nosso filho. Vou te avisar sempre que precisar de sangue.
      _ Eu vou cuidar de você. _ ele repetiu.
      E me abraçou. Agora, era ele o carinhoso, e eu que estava insegura.
      _ Que bom que estão se acertando. Não é Peter?
      _ Sim. Ela sofreu por nossa causa. Vamos nos redimir. _ ele respondeu.
      Lorie estava encarando Peter. Ele notou e franziu a sobrancelha.
      _ O que foi?
      _ Você sempre foi o mais legal. Meu preferido. _ Lorie disse e beijou o rosto dele.
      Peter ficou corado e desviou os olhos.
      _ As garotas se tornam carinhosas quando crescem?_ ele comentou. _ Você não era assim.
      _ Eu era criança. Agora sou mulher. Toda garota é carinhosa, com o garoto que ela gosta. Eu gosto de você, Peter. Meu favorito.
      Ele estava sem graça. Parecia desconfortável. Tentei ajudar.
      _ Meu favorito era o Drogo. _ eu disse. Peter relaxou.
      _ Não sou favorito de ninguém?_ Nicolae reclamou, brincando.
      _ Pode se tornar. _ eu disse.
      _ Está vendo Peter? Ainda serei mais popular que você. _ Nicolae brincou.
      Peter riu.
      E aquele clima amigável, era tudo que eu queria. Para que as coisas voltassem ao normal. Com lealdade, confiança e cumplicidade.

Is It Love? Nicolae - Laços de Sangue.Onde histórias criam vida. Descubra agora