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MARATONA: 2/3

    No carro o silêncio estava perturbador, Jaqueline me olhava de rabo de olho com pena. Como se ela estivesse escondendo alguma coisa.

-Porque você está me olhando assim, algum problema? —Perguntei encarando a janela do carro que passava rapidamente as paisagens do lado de fora.

    Ela solta um suspiro longo.

-Sim Jade, sempre tem um problema. Só você que não percebe. Os nossos pais iam te tirar da cadeia ou procurar você pela cidade quando você sumia ou ficar no hospital porque você bebeu tanto que teve que ser internada. VOCÊ É O PROBLEMA JADE —Ela já gritava com lágrimas nos olhos. -Eles nunca tiveram tempo pra mim, o nosso pai morreu chamando o seu nome sendo que você nunca ligou pra ele —Falou baixo

    Eu estava completamente sem reação, nem percebi que a minha mãe tinha parado o carro.

    Estávamos no meio do nada.

-Sai do carro —Minha mãe pede.

-Você tá louca? —Falei.

-Sai agora —Falou já sem paciência.

    Sai do carro e a minha mãe também.

    Ficamos nos encarando.

-Me mostre seus pulsos —Ela toma os meus braços, ergue bruscamente minhas mangas e não vê nada.

-Eu não tenho nada —Erguo os meus pulsos a mostra.

-Assim espero —Dito isso entramos no carro.

    Ei mãe, eu não tenho nada nos meus pulsos, não procurou pelo resto do meu corpo, ou na minha alma mutilada. Ah é mesmo, como pude esquecer, contanto que os meu problemas não sejam aparentes, está tudo perfeitamente bem, não é mesmo mamãe?

    Limpei o rosto e prossegui encarando a janela até chegar na minha casa.

    Entrei em casa, dei um abraço na Lourdes e subi pro meu quarto. Ele estava exatamente igual.

    Me joguei na cama e fechei os olhos.

    Estranhei uma presença do meu lado.

-Como você entrou aqui?

-Eu sou um anjo Jade, tenho poderes —Falou como se fosse óbvio.

-Eu pensei que você tinha os perdido quando me tocou aquele dia no gramado —Falo ainda de olhos fechados.

-Não totalmente —Respondeu

-Me explica

-Você não entenderia —Disse se deitando ao meu lado com uma certa distância.

-Eu posso tentar —Me virei de lado encarando-o.

-Ok, o meu pai, Deus, me mandou cumprir essa missão, mas tinha algumas regras. Uma delas era que não podíamos nos tocar, se não haveria consequências. Quanto eu encostei em você aquele dia, eu fui punido, retiraram as minhas asas. Me deram uma segunda chance e se eu descumprir alguma regra,eu serei rebaixado a humano. Eu sempre quis ser humano, mas o meu pai não deixa. —Falou.

-Nossa... —Foi a única coisa que eu consegui falar. -Porque você simplesmente não me toca pra poder virar humano? —Perguntei.

-Se eu te tocar apenas por que eu quero, me tornarei um humano, mas vou sofrer muito —Falou

    Dei uma olhada no meu quarto procurando por algo.

    Me levantei e fui andando até o banheiro. Peguei um vidro de comprimidos e fiquei na frente do Azrael.

-O que você está fazendo? —Ele me perguntou confuso.

-Um favor —Falei e virei o pote inteiro de remédio na minha boca.

    Antes de cair no chão, pude sentir o Azrael me segurar.

 

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