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JADE ON

Essa já era a segunda sessão de quimioterapia e eu não tinha notícias do Alex, da minha irmã e muito menos da minha mãe.
Eu não sei o que estava me matando mais, o câncer ou ter que ficar longe de quem eu já amei.

Mas ele procurou isso, me abandou tantas vezes, e eu confiei nele.

O meu anjo Azrael não saia do meu lado, ele me acompanha e sofria junto como se pudesse sentir as mesmas dores que eu.

Os médicos já perderam as esperanças que o meu câncer seja curado, mas resolveram prosseguir com o tratamento para me garantir pelo menos dois meses de vida.

Estava em frente ao espelho do quarto.

-Você continua linda -Azrael falou me abraçando por trás.

-É, eu não me importo muito pra beleza -Dei de ombros e me sentei na maca.

-Porque? -Perguntou se sentando ao meu lado na maca.

-Se o mundo fosse cedo, quantas pessoas você impressionaria com o seu caráter? -Disse me deitando.

-Jade Lemes e suas frases -Falou se deitando ao meu lado -Ta calor né? -Perguntou e eu fiz sim com a cabeça.

Azrael se sentou e tirou o seu casaco ficando apenas com uma regata branca super colada.

-Porque nós nunca ficamos mesmo? -Soltei sem querer fazendo ele gargalhar

Ficou um silêncio, só podia ser ouvido as nossas respirações.

-Eu quero sair daqui -Quebrei o silêncio.

-Nem pensar, você está fazendo um tratamento Jade -Falou

-Eu vou morrer de todo jeito Azrael -Falei tirando a camisola do hospital e colocando a minha roupa, peguei uma toca preta e coloquei para esconder as falhas do meu cabelo.

-Eu não acho isso uma boa ideia -Azrael falou colocando o tênis.

Reviro os olhos e saio do quarto. Vou até a recepção.

-Oi, tudo bem? No que posso ajudar? -A mulher da recepção pergunta com um sorriso gentil no rosto.

-Me tira daqui -Falei me debruçando no balcão.

-Eu não posso fazer isso docinho, só o seu médico pode te dar alta -Falou

-Então cadê ele? -Falei já sem paciência.

-Doutor -A recepcionista grita, me dando um leve susto -Vem aqui -Agora já falava em um tom normal.

-Sim Bianca -Falou para a recepcionista.

-Essa mocinha aqui -Apontou pra mim -Quer sair do hospital

-Nem pensar, você está em tratamento -Falou com um tom autoritário.

-Eu quero sair, não quero morrer em um hospital -Falei brincando com uma caneta de pompom que está no balcão.

-Você vai estar se arriscando de mais -Falou negando com a cabeça.

-Com todo respeito, mas a forma de como escolho viver a minha vida é problema meu -Falei encarando-o, Azrael assistia tudo calado.

-Eu tentei te ajudar. Mas está aqui -Me entregou os papéis da alta -Como a senhorita quer, não se esqueça que você ainda é de menor, um adulto precisa assinar pra você -Falou com um sorriso vitorioso.

-Licença, eu tenho dezoito anos -Azrael falou mostrando a identidade.

Ele assinou o papel, e saímos rindo.

-Eu pensei que ele iria pular no seu pescoço -Falei rindo muito.

-Eu te ajudei tá -Falou com uma voz de mulher -E você ri igual uma porca -No mesmo momento eu parei de rir e fiquei séria.

-Tive uma idéia -Falei com os olhos brilhando.

-Não, never, jamais, nunquinha. As suas ideia parece os planos infalíveis do Cebolinha, sempre dão errado -Falou negando com a cabeça.

-Para de graça, é uma idéia boa. Eu vou morrer, mas antes disso quero aproveitar a vida, ir em parques de diversão, pular de paraquedas, e... -Ele me interrompe.

-Calma aí, você nunca foi em um parque de diversões -Falou pasmo.

-Ja, mas eu era pequena

-Ok, então nós vamos AGORA -Ele gritou a última parte.

Eu não sei como, mas ele me fazia bem. Eu tenho certeza que quero passar os últimos dias da minha vida com ele.

|SUICIDA em um INTERNATO|Onde histórias criam vida. Descubra agora