VIII

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[18:25]

Estou sentado em meio à pilha de papéis que ocupa meu quarto,mais uma vez tentando ligar os fatos,na verdade à maior parte de meus dias eu passo infurnado aqui, e só sairei dessa quando tudo for solucionado, há dias ligo para Bruno e o mesmo ainda não atende, deixei alguns recados e até fui na loja mas o homem pareceu sumir do mapa completamente, seu irmão disse que Bruno precisou fazer uma viajem, mas não se sabe para onde, ainda tenho impressão que esse comportamento ainda é relacionado ao que houve aqui em casa à uns dias atrás, então resolvi deixar para lá, pois às vezes um cara precisa de um tempo para pensar e assimilar às coisas e acho que estou à ponto de fazer isso também, e quer saber?
Eu irei.
Eu também preciso me distrair um pouco dos pensamentos e responsabilidades que me atormentam, e esse é o momento ideal para viver alguns minutos de normalidade.
Desço à garagem e pego à bicicleta,Serena está no quarto com à babá,preciso dar uma volta.
[...]
Os últimos raios alaranjados do sol poente iluminam à cidade interiorana, pedalo tranquilamente pelas ruas, avistando vez ou outra grupos de jovens do colégio mas não dou muita atenção pois não nos conhecemos, passo por padarias, cafeterias e lanchonetes desertas,pessoas passeiam com seus animais curtindo de maneira proveitosa o gostoso fim de tarde, decido passar mais uma vez em frente à loja de penhores entitulada GONZÁLEZ BRO'S, e como de costume nos últimos dias, Bruno não estava lá, larguei à bike na calçada e adentrei no estabelecimento ouvindo o seu típico e antiquado sininho que francamente me irritava de maneira visível todas às vezes que alguém passava pela porta, encontrei Carlos limpando alguns relógios antigos da vitrine; desta vez o homem trajava uma blusa do LED ZEPPELIN, visivelmente aquele cara possuía bom gosto musical e isso sempre foi algo indiscutível, diferente de Bruno que sempre preferiu ouvir Taylor Swift, algo que estranhei desde à primeira vez que o vi cantando shake it off.
-Opa!se não é rapaz amigo do zero à esquerda do meu irmão!como vai rapaz?
Empertiguei-me, ouvir Carlos chamar o irmão de zero à esquerda, isso me incomodou muito, por acaso o Carlos sabia o mínimo pelo que o irmão passava? Conhecia suas dificuldades?ou apenas o julgava sem conhecer sua realidade?
Um mal do ser humano, o julgamento precipitado.
-Por falar em seu irmão...estou à procura dele.Onde ele está?
Falei firme e seco.
-E Você acha que eu sei?
Respondeu Carlos tão frio quanto eu.
-Você ao menos procurou saber onde ele estava?
Perguntei irritado.
-Pouco me interessa onde aquele maníaco foi parar!Ele não aparece na loja há dias!
Disse Carlos áspero.
Cerrei o punho tentando controlar minha raiva mas eu precisava falar alguma coisa desatar o nó em minha garganta.
-Você é um péssimo irmão!Sabia?Bruno não está bem e ao invés de procurar ajuda-lo você fica aí fingindo que nada aconteceu!
Falei expondo toda minha indignação.
O homem também se irritou.
-Escuta aqui!Se você e meu irmão gostam de brincar de ser idiota, o problema é de vocês! e aquele balofo deve estar infurnado naquele maldito trailler fedorento se empanturrando de porcaria uma hora dessas!como ele sempre faz!esse comportamento é típico dele, agora vê se me faz um favor?Para de me encher e não pise mais aqui!
Engoli em seco com o comentário do homem,e saí dali o mais rápido possível, até passou pela minha cabeça ir atrás de Bruno,mas acho que aquele não seria o melhor momento.
[...]
Chego em casa e ouço minha mãe falando no telefone.
-...ok...então eu à levo na clínica assim que puder...
Assim que nota minha presença à mulher desliga o telefone imediatamente.
-Com quem você estava falando?
Perguntei curioso.
-Com um amigo.
Ela responde decidida.
Arqueeio à sobrancelha desconfiado.
-Um amigo?
-Sim Dave, um amigo de longa data.
Cruzei os braços ainda mais desconfiado, em passos lentos me aproximo de minha mãe e à encaro nos olhos, eu já tenho uma hipótese formada em minha mente nestes breves segundos, mas preciso ter certeza.
-Quem é?
-É Normam o pai de Kevin.
-Hm...mas o pai do Kevin não tem uma clínica...
-é que ele à abriu agora.
-Uma clínica de quê mãe?quem você vai levar lá?
-Não tenho tempo para perguntas David!
Janeliese me empurrou para o lado pegou às chaves do carro, e fez menção de sair da casa, mas foi impedida por mim parado em frente à porta atrapalhando sua saída.
-Você vai manda-la para um psiquiatra assim como fez comigo não é?!
-Do que você está falando Dave?!
-D-Do quê estou falando?!!!Você sabe muito bem mamãe!Vai empanturra-la de remédios como faz comigo!Você não pode trazer esse mal à vida de Serena!
-É só uma consulta Dave!
-Uma consulta...-rio comigo mesmo.-Nessa consulta você vai falar pro psiquiatra que à garota riscou símbolos com o próprio sangue no teto, e que ela se multilou e comeu um gato?!
Janneliese permaneceu calada.
-Me responda!
-Não me trate assim Dave!Você sabe que ela precisa de ajuda!
-Não mamãe,ela não precisa de ajuda!isso não é ajuda!Você não sabe o estrago que isso causa em nossas vidas, você não sabe o mínimo do que vivi durante todo esse tempo!
-O que você quer que eu faça Dave?!
Berrou à mulher pondo o rosto entre às mãos.
-Você mesmo trouxe aquele seu amigo psiquiatra aqui David!Porque quer me impedir de ajuda-la?!
-Entenda uma coisa Mãe!Bruno não é psiquiatra!Bruno é um caçador caso você saiba o que seja!Serena não estava nenhum surto psicótico ela estava possessa!talvez pela mesma coisa que matou papai!
-Seu pai teve um ataque cardíaco Dave!
-É o que você pensa!É o que eles querem que você acredite!
-Quem?!Dave quem quer que eu acredite?!
-Os demônios!
-Pelo amor de Deus Dave, pare de inventar coisas!Aceite está é à realidade, pare de criar paranóias para encobrir à verdade!Pare de fingir que não vê o que está acontecendo!
-Parece que você não vê!Você é que está inventando coisas ao invés de acreditar em mim!Sua filha filha não passou pelas mãos de um psiquiatra que à deu remédios controlados!Sua filha passou por um exorcismo!
-De onde você tirou isso?
-De onde eu tirei isso?
Eu ri.-Eu vi!Eu venho avisando desde sempre!As coisas que vejo às vozes que ouço...
-É loucura meu filho.
Disse minha mãe com um olhar preocupado.
-Não é loucura,é real.Como uma garota como Serena mudaria assim do amor ao ódio?Não era ela!
Janeliese ficou rubra de raiva e me empurrou com força, me fazendo cair ao lado da porta.
-Não tenho tempo para suas invenções David!
E irrompeu pela porta como um raio.
Corri atrás da mulher atravessando o jardim.
-Você está prestes à destruir à vida de uma garotinha.
Falei tentando convencê-la da verdade.
Jannelise parou abruptamente e girou nos calcanhares parando de frente à mim, deferindo um tapa seguro em minha face esquerda.
-Eu sei o que estou fazendo.
Respondeu ela firme, com resquícios de ódio estampando à imensidão de seus olhos verdes.
Fiquei parado sem reação,equanto à mulher se dirigia até o carro,dando partida no mesmo e saindo em alta velocidade.
Vi o carro desaparecer rua abaixo naquele fim de tarde,mal acreditando no que acabara de acontecer fui para dentro da casa, dando de cara com Serena e à babá estagnadas ao pé da escadaria me olhando com cara de espanto,principalmente à babá que parecia sentir um enorme medo de mim e de Serena, à reação da babá me irritou,além de ouvir toda à conversa ela também vai achar que tenho desequilíbrio mental.
-Ah sai da frente.
Falei em tom seco, vendo à adolescente mascadora de chiclete desviando para o lado a fim de me permitir à passagem.
Subi às escadas em passos curtos e ligeiros por fim entrando no meu quarto e fechando à porta com um baque.
Com toda à certeza esse não é o meu melhor dia.


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