XIII

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Pisco algumas vezes ainda atordoado,e me levanto imediatamente ao ver onde estou, e com toda certeza não era minha casa, sinto uma tontura e minha cabeça pesar como uma bola de boliche, olho ao redor e percebo que se trata da mesma floresta que o maluco me perseguiu outras vezes deveria ser mais um sonho ou algo criado em minha mente, então limpei à terra da minha calça e prossegui caminhando pela floresta escura e silenciosa, vez ou outra ouvindo o farfalhar das árvores e o som de galhos e folhas secas estalando sob meus pés, olhei para o céu e por uma pequena clareira pude ver à luz azulada que iluminava aquela noite, olhei meu relógio e o mesmo estava parado.
-Droga!deve estar quebrado.
Falei cutucando o objeto.
Prossegui a caminhada sem rumo por mais alguns minutos creio eu, o tempo parecia ter parado eu parecia andar em círculos, essa floresta não tem fim, cansado de caminhar e caminhar sem encontrar uma forma de sair daqui resolvi me sentar no chão e esperar o dia chegar, porém aquilo estava estranho demais, todas às vezes que estive nessa mesma floresta fatos estranhos sucederam tal acontecimento mas desta vez eu apenas andei em círculos.
-Ora ou outra vou acordar.
Falei para mim mesmo.
-Você está acordado...
Falou uma voz ao longe à qual não fui capaz de distinguir, tentei descobrir de onde vinha à voz mas foi uma tentativa inutil em meio ao breu em que me encontro.
-Quem está aí?
Perguntei assustado, então um vento forte fez as árvores ao meu redor sacudirem violentamente, um frio intenso percorreu meu corpo e pude ouvi gargalhadas ecoarem floresta à dentro, levantei-me em um ímpeto e desatei à correr sem direção.
-Não fuja garoto.
Disse à voz.
-Quem é você?!
Perguntei.
-O lado escuro de sua mente, pensou que fugiria de mim?-gargalhou à voz.-Você não pode fugir David, não pode fugir de sua mente, não quando você está preso nela.
-O que você quer?!
-A pergunta é, o que você quer?
Disse à voz zombeteira.
-Apareça!
Exclamei parando abruptamente esquadrinhando à escuridão que me engolfava.
-Você não gostaria...
-Quem é você?!
-Seu maior inimigo...sou você,garoto...porém apenas o seu pior lado, sou o seu ódio, sua sede de vingança, à paranóia, o deboche, com um toque de coragem e persistência claro.
-Mentira!!!
-Você acha que estou mentindo?que bobagem, eu sou você Dave, ah...e quem diria que eu sou seu maior inimigo, traído pela própria mente..."tsc-tsc" isso não é legal, meio louco não acha? Talvez seja meio louco mesmo, eu sei tudo sobre você!Seus medos, suas fraquezas seus pontos fortes e usarei  todos os meus conhecimentos sobre você contra você Dave.
-Me deixe em paz!
Esclamei irritado, fechei os olhos com força e me esforcei para sair dali sussurrando à seguinte palavra.
-...acorde, acorde...
-Haha...patético, até daria para acordar garoto...-...acorde,acorde...-Sem chances Dave, isso não é um sonho você foi arrastado para minha dimensão.
-Cale-se!
Ordenei ainda mais irado.
-Você acha que estou brincando?Bem...na verdade estou e está sendo muito divertido brincar com você mas preciso completar meu trabalho,então...Que os jogos comecem!
À ultima frase ecoou em meus ouvidos e pela primeira vez odiei minha voz e peometi para mim mesmo que nunca mais usaria aquele tom de deboche com alguém, olhei para cima depois para meu relógio e o tempo pareceu começar à correr, ouvi o som de galhos estalando e pude ouvir como se algo me seguisse, ouvi uma espécie de rosnado e me dei conta de que algum animal voraz estava procurando o jantar, e o jantar sou eu.
O animal saltou para minha frente e pude ver sua forma disforme através da luz azulada da lua, o bicho que mais parecia um cachorro enorme de olhos vermelhos avançou para cima de mim e automaticamente comecei à correr, desviando de tudo que aparecesse em minha frente e fazendo de tudo para despistar o animal, corri alguns metros até perceber que o animal não mais me seguia, respirei ofegante e me dei conta que havia uma casa em minha frente o que tornou à experiência mais bizarra, à casa tinha à tinta azulada e o número 36 na porta era minha casa porém mais velha e deteriorada, entrei na residência e tudo parecia igual exceto pela idade.
-Mãe!
Chamei ao entrar na casa.
-Pai!Serena!
Tudo parecia estar no mais profundo silêncio.
Subi as escadas que davam acesso ao andar de cima e dispostos no tapete coberto de sangue pude ver meus pais,corri para perto dos dois na esperança de estarem vivos.
-Mãe!Pai!Acordem...acordem...-saculejei o corpo de minha mãe.-Mãe...acorde...porfavor...preciso de você...papai, papai...acordem...por favor...-senti meus olhos marejarem e um liquido escorrer por meu rosto.-Não...isso não pode...acordem!acordem!vamos!acordem!I-isso n-não pode estar acontecendo n-não deve.
Senti um remorso preencher meu coração, deixei às lagrimas rolarem, você não pode ser forte o tempo todo, você não consegue fingir que está tudo bem para sempre, uma hora você desaba, uma hora você tem que ser você mesmo, tentei segurar os sentimentos que estavam prestes à explodir em meu interior, tentei reprimir minha dor, minha frustação, mas em algum momento tudo vem à tona, e é em momentos de desespero que você descobre quem realmente é, e eu...bem eu sou garoto que está vendo os pais mortos na sua frente e que não pide fazer nada, que está preso em uma dimensão maluca, sozinho,desprotegido e sem nenhum consolo.
-...espera...
Parei para pensar em meio à turbulência, se é que isso ainda é possível, nem tudo está perdido, essa é apenas uma dimensão louca e talvez ãh...eu nunca saia daqui, tenha fé Dave, meus pais estão aqui então significa que...
-Serena!Serena!
Gritei me levantando e correndo até o quarto da garota, chegando lá o cômodo parecia intocado.
-Serena.
Sussurrei.
-Sou eu, onde você está?
Então pude ouvir soluços e choro vindo do armário, me aproximei da porta silenciosamente, toquei à maçaneta e abri à porta vagarosamente revelando à garotinha de oito anos encolhida em um canto com à cabeça enterrada nos joelhos.
-Serena.
Chamei.
À garota levantou o rosto encharcado de lágrimas.
-R-rápido se esconda antes que ele o veja também.
Gaguejou Serena assustada.
-Ele quem?
-O monstro que pegou papai e mamãe.
-Não se preocupe Serena eu estou aqui e vamos sair dessa, ok?
Serena fez que sim com à cabeça enxugando às lágrimas e se levantando para me abraçar.
-Vamos para à cozinha agora, tudo bem?
-Humrum.
Concordou Serena em um muxoxo.
Saímos do quarto da garota, e demos de cara com o corredor onde estavam nossos pais nitidamente mortos, Serena soltou um grito agudo ao ver à cena e confesso que à visão me arrepiava, minha vontade era gritar mas eu tinha que me manter calmo e cuidar de minha irmã.
-Vamos Serena feche os olhos.
Pedi gentilmente sendo obedecido imediatamente pela garota que fechou os olhos com toda à força que podia para não ter o risco de abri-los e ver à cena perturbante novamente.
Passamos por cima dos corpos de nossos falecidos pais e descemos às escadas até o térreo, revirei os armários o mais depressa em busca de alguma arma, e o que encontrei foi apenas um mísero brinde em uma caixa de cereal.
-Existem cereais com brindes nessa dimensão?
Perguntei olhando para minha irmã que deu de ombros.
-O que diabos posso fazer com esse coelho de plástico?
-É realmente cômico existir brindes nessa dimensão.
Concordou à voz da mulher negra de óculos de sol que entrou no cômodo.
-O-Ômera?
Gaguejei surpreso.
-O que faz aqui?
-Vim resgatá-lo desse pesadelo.
-Na verdade é uma dimensão paralela.
Comentou Serena.
-Que seja.
Falou Ômera.
-Ok Ômera, como saímos daqui?
-Use à fraqueza do monstro, o olhe nos olhos sem demonstrar nenhum medo.
-Mas como vou saber que ele...
-...É sua mente David.
Respondeu à mulher sumindo no meio da cozinha, através de um nevoeiro arroxeado.
-Ômera!espera! como assim?
-Uau!
Exclamou Serena.
-Como ela?...
-Truques de uma velha bruxa.-respondi.
-Bem locco.
Concluiu Serena.
-Está bem, vamos tentar sair daqui serena...pensa Dave pensa, porque aquela maluca não nos levou na sua névoa roxa magicamente tosca?seria bem mais fácil, grande dica vou esperar o monstro dar às caras por aqui sei lá quando aí vou olhar aqueles olhões e esprerar que aconteça alguma coisa louca, tem alguma outra idéia Serena?
-Na verdade não, essa mente é sua.
-Não estamos na minha mente garota, estamos em uma dimensão criada pelos meus maiores medos.
-E quais são seus maiores medos?
Perguntou à garota com à curiosidade saltando os olhos.
-Deixe-me ver...perder minha família e "o advogado".
-Espera aí você tem medo de advogados?
-Não esse tipo de advogado criança.
-Então qual tipo?
Perguntou Serena me encarando olhei por alguns segundos à face da garota então desviei o olhar rapidamente e atrás dela pude ver à criatura pronta para dar o bote e rir na minha cara.
-Esse tipo de advogado!
Exclamei puxando à menina que deu um grito agudo ao ver à figura parada à sua frente.
-Corre!
Falei elevando à voz mais parecendo o grito de uma garotinha, ah agora não é tempo para detalhes.
Eu e Serena corremos para fora da casa com à criatura desaparecendo e reaparecendo logo atrás de nós.
-Não olhe para trás apenas corra!
Falei para Serena que teimava em olhar para trás.
-Estou com medo!
Disse à garota em meio à lágrimas e soluços.
-Apenas não olhe para trás.
-Mas e a mamãe e o papai?
-Eles vão ficar bem.
À cada metro percorrido mais o farfalhar se intensificava à criatura parecia se divertir com nosso medo, corremos descontroladamente vez ou outra batendo o rosto e braços em galhos, em meio ao silêncio da morte era possível se ouvir apenas o desespero de duas crianças fugindo de algo desconhecido, sem rumo sem saída, sem à menor noção do que se passava, apenas correndo para longe dali se é que isso é possível, já cansados da corrida paramos em meio à uma clareira para recuperar o fôlego.
-Você acha que ele ainda está atrás da gente Dave?
Perguntou minha irmã ofegante.
-Acho que despistamos ele.
Respondi também ofegante, nunca corri tanto em minha vida.
-Ótimo.
-É...ótimo.
-Dave...
-Sim Serena?
-Você acha que nossos pais vão ficar bem?
-Sim.
-Me conte à verdade.
E essa frase me fez perceber que serena não se tratava mais de um bebê, uma criança que não poderia saber à verdade, o que à garota enfrentava se assemelhava muito à o que já vivi, eu não podia sustentar mentiras sendo que ela sabia de toda à verdade e fazia parte disso.
-Eu não sei.
Rrspondi sincero.-Na verdade não sei o que está acontecendo.
-Como você veio parar aqui?
-Foi...
Então escutei um forte barulho e pude ver Serena ser arrastada com violência floresta à dentro.
-Socorro!Dave!Socorro!
Os pedidos desesperados de minha irmã mais nova me encorajaram à prosseguir aquela louca maratona, ele havia pegado à última pessoa da família, ele à mataria e depois iria me torturar com isso, ele sabe que eu não consigo viver sem eles, como posso sair daqui se eu não tenho um minuto de sanidade?Como posso salva-los? Eu não tive nem ao menos o direito de lamentar minhas perdas.
-Está gostando da brincadeira Dave?Espero que sim, porque ela foi planejada especialmente para você.
-Vá para o inferno!
-Estou mexendo demais com sua cabeça garoto?
-Me deixe em paz!
-O que achou da parte do cão do inferno ein? Essa parte foi baseada no cachorro da sra.Brewster, assustador não acha?
-Me deixe!
-Seus pensamentos podem te trair, e seus medos podem te matar assim como os seus pais, você matou seus pais Dave.
-Foi você que os matou!
-Não Dave foi você mesmo que se encarregou disto, você e essa mania de achar que à família e o bem mais importante , bum! foram os primeiros!
-Vai embora!
-Hahaha!patético! eu ir? Garoto eu não vou eu Sou, sou tudo aquilo de que você tanto foge há horas por assim dizer você é quem vai, e pare de correr por gentileza, correr não vai te adiantar de nada.
-Onde está Serena?!
Falei me parando olhando da copa das árvores em busca do dono da voz, e mais uma vez sem sucesso.
-Sua irmã?ahn...acho que brincando com meu amiguinho de terno.
-Devolve minha irmã!
-Não posso resolver este problema.
Soou à voz em um tom debochado, em seguida me deixando sozinho mais uma vez.
-Dave Socorro!
-Serena!Estou indo!aguente firme!
Me embrenhei mais profundamente naquela escuridão sem fim.
-Socorro!
Gritou à garota.
A cena que presenciei com certeza ficará gravada em minha mente para sempre, ao chegar em certo ponto da floresta em que tudo parecia mais selvagem pude ver o monstro torturando minha irmã que estava amarrada em uma árvore, a garotinha virou seu rostinho sujo de sangue em minha direção com um olhar de clemência que jamais irei esquecer, o monstro virou o rosto para mim e sorriu por fim cortando à garganta de Serena que soltou um grito agoniante que matou parte de mim, tudo o que me restara estava ali morto como um coelho estraçalhado por um lobo em documentários do Alaska, um calor preencheu meu corpo e senti às lágrimas teimarem em retornar, eu vi tudo o que mais amo ser destruído e eu não pude fazer nada apenas correr para tentar ajudar, fraco caí de joelhos no chão úmido da floresta e com os olhos marejados vi o monstro caminhar em minha direção.
-Vamos termine com isso de uma vez por todas!
Falei com à voz trêmula, as lágrimas corriam por meu rosto como uma enchurrada.
-Vamos desgraçado me mate!
O monstro começou à me encarar pertubado, o que está acontecendo? Espere...eu não estou sentindo medo do maldito ele me tirou tudo que mais amo,  eu não tenho medo da morte, ainda trêmulo me levantei e fiquei frente à frente com meu tormento e pela primeira vez pude encarar seus olhos negros e ao invés do medo que me assomava todas às vezes eu senti ódio o tipo mais profundo da raiva.
-Estou esperando maldito!Me mate eu não tenho medo de você!
À criatura permaneceu paralisada.
-Faça alguma coisa!
Persisti.
E então pude ver com meus próprios olhos à criatura cortar à própria cabeça com à arma que usou tantas vezes para me atormentar, ao ver à cena fiquei perplexo, sem à cabeça o corpo do monstro caiu mo chão com um baque e me senti apagar.
[...]
Eu estava novamente caído em meio ao corredor e não se passavam das uma da manhã, o desenho permanecia amassado em minha mão, o último passo precisa ser cumprido, desci rapidamente à cozinha e tirei o esqueiro do bolso, acendi à pequena chama e a aproximei de uma das pontas do papel e vi o desenho ser consumido em fogo logo se transformando em cinzas.
-Você está morto.
Falei quando percebi que não havia um resíduo da criatura que tanto me atormentou, corri para o andar de cima e abri à porta do quarto de Serena, à mesma dormia quieta e silenciosa como um anjo, o mesmo
ocorria com minha mãe.
Tudo voltou ao normal...ou quase, o próximo é você Olivier.







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