7º Capítulo

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As minhas suspeitas estavam certas.

A Alexandra teve um namorado mesmo antes de me conhecer. O nome dele era Miguel. Miguel Almeida. Em apenas cinco páginas cobertas de sílabas, passei a conhecer este indivíduo melhor do que muita gente.

Psico e Fisicamente! Sinceramente, pergunto-me se ela falará tanto de mim como dele. Descreveu os olhos em três parágrafos, o corpo em dois, o sorriso em quatro e o resto era tudo momentos e atitudes dele.

Estou literalmente a vomitar Miguel Almeida! Se não fosse a capacidade da Alexandra de tudo ter uma veia poética, teria de tomar um calmante a meio da leitura.

Descobri então que ele era um ano mais velho que ela logo não iria na viagem com a turma dela. Tudo bem por aí, pareciam ter um namoro típico e simples. Até eu chegar à página 10. 

Oh maldita página 10! Tinha mesmo de existir esta página? Fiquei com a boca seca de tanto a abrir em sinal de espanto. Estava ali, em palavras simples e discretas, descrita a sua primeira vez com esse tal Miguel.

Não me consigo expressar. Eu não sei se sinto raiva ou se a felicidade das suas palavras me conseguiram contagiar! 

É que ainda por cima está feliz! Mas havia necessidade de contar isto num diário? Um diário sem trinco ainda por cima! E se alguém lê-se isto sem ser eu? Ou a mãe por exemplo.

Eu não arriscava, mas talvez ela não tivesse ninguém com quem falar sobre isto. Agora pergunto-me o porquê dela querer que eu leia isto!

Quer dizer, sei que sou um homem com uma certa perversidade, mas ler o relato da primeira vez que a minha ex mulher falecida fez sexo com o ex namorado adolescente... não encaixa muito bem com o meu perfil.

Com a dita página 10 lida, o meu subconsciente mandou-me mandar aquelas palavras para trás das costas e avançar para o que se seguia.

"Querido Diário,

Eu estava enganada... Devia ter percebido as intenções do Miguel. Afinal ele só me queria para...aquilo. Eu pensava que ele me compreendia mas ele uso-me. Desde aquela noite que não me fala, e hoje à tarde acabou comigo por chamada.

Ele percebeu que eu não era virgem... E sentiu-se traído por não ter sido o meu primeiro, mas no entanto disse que isso era o mais importante na relação.

Está visto e revisto que não posso confiar em ninguém. Ele nem me deixou explicar. Eu não tenho culpa de não ser virgem, mas para mim aquela foi a minha primeira vez!

Aquela vez nojenta, a qual a minha memória teima em recordar... Que me faz sentir horrível comigo mesma por não ter sido capaz de lutar contra aquilo. Aquele monstro que se aproveitou de mim quando eu era ainda menor de idade...

Eu estava a ir para casa depois de um dia de escola muito cansativo, estava frio e chuviscava ligeiramente, o que deixou o meu cabelo despenteado e humedecido. 

Percorria o caminho comum a pé, era Inverno logo às cinco horas já era quase noite cerrada. Como estava cansada decidi cortar caminho e passar pela zona mais habitacional em vez de seguir pela estrada principal.

Encolhi-me com o frio e com o sentimento de estar a ser observada, movi-me o mais depressa que consegui sem chegar a correr para não dar tanto nas vistas.

Estava a virar a esquina quando duas mãos grandes, ásperas e violentas me agarraram. E foi ali, num canto que, indefesa, incapacitada e desfeita fui viol...."

Um borrão de tinta cobria a última palavra desta frase, o que evidencia que ela chorou enquanto escrevia. No entanto não era necessário eu ver a palavra para compreender.

Aparentemente o passado da Alexandra era um mistério para mim, e este diário era uma nova porta aberta para o perceber. 

Apesar de não poder fazer nada agora, era o pouco dela que ainda restava neste mundo. 

"Sr. Styles?" a Rose chamou do outro lado da porta.

"Sim?"

"O jantar está pronto." 

Jantar? Mas ainda há pouco eram três horas, parece que fui mesmo absorvido pela leitura. Decidi não perder mais tempo comigo mesmo e desci em direção à mesa de jantar.

Sentei-me em frente ao pequeno Cody enquanto a Rose servia o jantar.

"Papá?" O Cody chamou inocentemente.

"Sim filho?" incentivei.

"Existe mesmo o céu?"

"Claro que sim pequeno, o céu é o sítio para onde as pessoas boas vão depois de sairem da Terra."

Sempre quis ter esta conversa com o meu filho, só não esperava ser tão cedo e ser pela razão que suspeito.

"Então... a mamã está no céu agora?"

Yap... acertei!

"Sim Cody, mas a mamã estará sempre por aqui para cuidar de ti."

"Ela vê-me e ouve-nos agora?"

"Sinceramente não sei pequeno... mas ela vai segurar-te quando caires, e vai adormecer-te todas as noites, e vai cantar para ti quando estiveres sozinho, vai pentear os teus pequenos caracóis quando estiverem caídos para a frente e vai limpar as tuas feridas. Poderás não a conseguir ver, ouvir ou tocar mas vais sentir quando ela estiver por cá."

Mal terminei o Cody suspirou e assentiu em concordância. Sei que ele tem sido muito forte, mas ninguém é de ferro. O meu pequeno perdeu a mamã. 

Alexandra's POV

Eu sinto-me tão confusa... eu vejo tudo, ouço tudo mas não sinto nada, nem eles me ouvem ou sentem. Uma espécie de película serve de barreira e não a consigo atravessar. 

Vejo um carro destruído no meio da rua, muitas pessoas amontoam-se, há fumo, destroços, sangue e nevoeiro. Não me lembro de nada do que aconteceu mas algo me diz que não é bom.

Estou farta de gritar, ninguém me ouve.

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E CÁ ESTÁ O CAPÍTULO DESTA SEMANA, ESPERO QUE GOSTEM :) POR FAVOR VOTEM E COMENTEM SE POSSÍVEL, PARA EU PERCEBER SE ESTÃO A GOSTAR DESTA ESTRUTURA.

OBRIGADA POR LEREM :)

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