Nos últimos dias tenho sentido uns arrepios continuos e uma presença suspeita na minha casa. O Cody também parece muito estranho, acorda durante a noite a chorar mas quando chego ao quarto está apenas em pé na cama a olha para a parede como se estivesse lá alguém.
Os seus olhos parecem hipnotizados a olhar para o nada até que de repente ele os pisca repetidamente e olha para mim. Parece assustado mas tem um sorriso no rosto e apenas diz "Esteve aqui!"
Por fim consigo acalmá-lo e ele volta a dormir num instante. Este episódio já se repetiu umas três vezes esta semana. Já o levei a um psicólogo mas este disse que provavelmente está ainda em choque devido à perda da mãe.
Tenho lido mais algumas páginas do diário da Alexandra, no entanto nem a meio vou, ela escrevia praticamente todos os dias, sem exagero duas ou três folhas. Descobri muitos pormenores sobre a sua família e também sobre a Maria. Ela nunca mais referiu o facto de ter sido violada, mas também eu não poderia fazer nada agora.
Interessei-me em descobrir mais sobre os seus pais e irmã, então liguei a Maria pois pensei que ela poderia conhecê-los melhor.
"Olá Maria, desculpa estar a incomodar a esta hora." eram já dez e meia da noite.
"Oh olá Harry, não tem problema, eu ainda estava acordada."
"Bom eu estava aqui a ler o diário que a Alexandra me deixou e ela parecia muito próxima da família, no entanto ela nunca os mencionou durante o nosso casamento..."
"Pois é normal, desde que ela optou por viver contigo que ela nunca mais falou com eles."
"Oh, não fazia ideia, porque fez ela isso?"
"Os pais dela eram rígidos com ela, e principalmente a mãe dela nunca iria aceitar que ela tivesse um filho tão nova."
"Então ela foi expulsa de casa?"
"Mais ou menos, ela saiu porque quis, nunca lhes chegou a contar. No entanto obviamente eles já sabem, esconder um bebé filho de alguém famoso não é simples."
"Achas que eu os podia contactar?"
"Bem eu ainda tenho a morada delas...queres que...?"
"Espera, "delas"?
"Oh, pois, o pai dela faleceu não há muito tempo. De facto não sei se a Alexandra chegou a saber."
"Podes-me enviar a morada por mensagem?"
"Claro, ainda hoje o farei."
"Okay obrigada Maria, até amanhã."
"Até amanhã Harry".
Era impossível não me sentir culpado pela Alexandra ter cortado relação com os pais. Segundo o que escrevia, eram todos muito próximos e planeavam muitas coisas juntos. Era notório que não lhe davam muita trela e liberdade mas amavam-se muito.
Eu tenho de falar com eles o mais cedo possível. Dar-lhes uma explicação e talvez apresentar-lhe o Cody. Não perco nada em tentar, bom... talvez algum dinheiro na viagem mas de certo que valerá a pena.
Minutos depois a Maria enviou-me a morada da casa dos pais da Alexandra. Quando a analisei bem a mensagem percebi que não era muito longe do local do acidente da Alexandra.
Um milhão de possibilidades percorreram a minha mente. Teria ela ido falar com eles? Estaria de tal modo perturbada com a conversa que teve o acidente? Ao fim ao cabo, eu posso ser o indireto culpado da sua morte.
Se eu não a tivesse expulsado de minha casa ela não teria ido embora. Não teria ido para Portugal e não teria tido o acidente.
Aquela noite foi uma desgraça... Uma noite marcante que infelizmente nunca esquecerei.
(FLASHBACK)
Cheguei a casa por volta das onze da noite, tinha bebido um pouco mas estava pelo menos consciente.
Tinha deixado o Cody com a Rose pois precisava de espairecer um pouco. Quando entrei pela porta da frente nem liguei ao carro estacionado no passeio em frente ao jardim. Pousei as chaves no armário da entrada e reparei que as luzes da sala ainda estavam ligadas o que era estranho.
"Rose?"
Ninguém respondeu. Em vez disso ouvi a voz de alguém a cantar vinda do quarto de Cody. Não era a voz de Rose. Não querendo ser mau, a voz de Rose era muito aguda e baixinha. Quando falava comigo parecia ter medo de mim, e as únicas vezes que fala alto é quando me chama para comer.
Esta voz era doce, suave, afinada e conhecida. Só uma pessoa cantaria esta canção ao meu filho e tão bem.
"Que fazes aqui?" controlei o meu tom de voz ao máximo para evitar acordar o Cody.
Ela pousou-o na cama com cuidado beijou-lhe a testa. Depois de o olhar por uns segundos finalmente me encarou.
"Eu liguei-te, umas cinco vezes. Depois liguei para aqui e a Rose disse que tinhas ido sair, deixaste-o outra vez sozinho para te divertires."
"Não tens o direito de estar aqui, no meu tempo com ele eu faço o que entendo. Ele ficou em boas mãos e tu sabes disso!"
Ela bufou e passou por mim até à sala de estar. Segui-a deixando sempre uma distância de dois metros dela. Quando ela parou em frente à lareira, posicionei-me à sua frente mas do outro lado da pequena mesa de apoio.
"Era isto que tu querias?" ela questionou quebrando aquele silêncio horrível.
"Isto o quê?"
"Perder-me e fazer-me perder o meu filho!"
"O NOSSO filho, queres tu dizer." fiz ênfase no "nosso". "Além disso não o perdeste, apenas tens de respeitar os horários de cada um."
"Eu não consigo apenas vê-lo de semana a semana! Muito menos sabendo que andas a desperdiçar o teu tempo com ele bebendo que nem o teu pai!"
"Nunca mais refiras o meu pai. Eu não sou como ele!"
"Talvez não agora, mas cada vez te assemelhas mais, e vais no bom caminho para te tornares no mesmo monstro que ele era."
"CALA-TE" por pouco que não lhe batia, em vez disso virei a pequena mesa de apoio ao contrário, partindo a jarra que nela se encontrava.
Ela ajoelhou-se ao lado dos cacos da jarra e agarrou num deles. Olhou uns segundos para ele e reparei que uma lágrimas cairam sobre este. Eu sabia o quanto aquela jarra significava, tinha sido herdada da sua avó. Eu não queria quebrá-la mas o meu pai é ainda um assunto delicado...
"Olha, podemos tornar isto um caos, ou podemos ser o mais civilizados possível, tendo em conta as circunstâncias." Falei após me acalmar.
"Devias ter pensado nisso antes de arruinares a minha vida. Desde o momento em que te conheci que todos os meus planos foram por água a baixo e tu sempre tiveste o que querias. E pelos vistos eu não era suficiente..."
"Onde vais?" interrompi a sua marcha em direção à porta de entrada.
"Não te preocupes com isso, mas acredita que em breve estarei de volta!" Agarrou numa mala cheia e com mangas de fora e saiu batendo com força a porta.
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Um arrepio percorreu o meu corpo com a memória da nossa discussão. Uma dor apertou-me o coração por ter percebido que foi o nosso último momento juntos. Será que ela morreu a odiar-me? E agora sou incapaz de me desculpar...
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OLÁ :)
DESCULPEM DEMORAR TANTO MAS ESTES DIAS DE FÉRIAS (POR MAIS ESTRANHO QUE PAREÇA) TÊM SIDO MUITO ATAREFADOS
ESPERO QUE COMPENSE O CONTEÚDO, BEIJINHOS E OBRIGADA POR LEREM
PS: POR FAVOR VOTEM E /OU COMENTEM PARA SABER SE VOCÊS ESTÃO A GOSTAR <3