Tem estado muito frio por aqui. A escuridão absorveu grande parte das minhas forças e a solidão também. Estou tão fraca que já nem ventanias consigo produzir. A única coisa de que sou capaz é arrepiar as pessoas que têm a sorte de ainda estarem vivas.
Todas as noites tenho visitado o meu filho, foi muito difícil encontrá-lo. Tive de percorrer um longo corredor sombrio iluminado apenas por candelabros com velas com a chama muito escassa. Não conseguia evitar sentir medo porque ao fundo ouvia gritos terríveis de almas perturbadas.
Ao longo desse corredor havia uma infinidade de portas castanhas com aspetos antigo e cheiro a mofo. Senti necessidade de abrir algumas das portas encaixadas nas altas paredes vermelhas. Apenas abri as que mais me chamavam, não diziam o meu nome, mas atraíam o meu coração para lá, brilhando ligeiramente.
A primeira que se abriu mostrou um avião que voava bem alto acima das nuvens. Decidi avançar na porta apenas por curiosidade e vi-me a mim e à Maria sentadas nas cadeiras da grande máquina.
"Mal posso esperar por chegar a Londres!" a minha versão mais nova falou.
"Sim! Temos de tornar esta viagem perfeita."
"Maria, vamos para Londres, queres maior perfeição?"
"Tens razão." ela riu-se. "Hey, Thomas? Que raio estás a fazer?"
"O meu analisador de atividade paranormal disparou!"
Acho que é a minha deixa para ir embora! Recuei uns passos e estava de volta ao profundo corredor.
Andei mais uns passos e à medida que andava mais portas apareciam lá ao fundo. Parei novamente noutra porta que me chamava. Rodei a maçaneta e um vento forte embateu na minha cara e fui de alguma maneira puxada para dentro por uma força invisível.
Assim que entrei a chuva caiu forte no meu corpo. Eu senti-a mas não havia reação aparente do meu corpo, eu não ficava molhada de todo.
De repente ouvi um choro desesperado vindo de uma esquina daquela rua escura. Então lembrei-me daquela noite. Fui forçada a avançar para aquele beco imundo e ver o que mais temi durante os meus anos de adolescente.
Um homem robusto, encapuçado, alto e forte agarrava uma miúda indefesa e tiando-lhe todo o respeito que ela tinha sobre si própria. Ela gritava, chorava, gemia de dor e temia as consequências deste pesadelo.
No fim ele abandonou-a naquele canto e simplesmente fugiu, satisfeito com o seu ato ainda mais sujo que aquele local. Fui puxada de volta para o corredor e caí de joelhos no chão. Grande parte da minha energia foi sugada naquela memória.
Quando me levantei o corredor parecia andar à roda mas ainda assim avancei, apoiando-me sempre à parede. Comecei a sentir as minhas mãos a escorregar e sabia que não podia ser suor. Separei-as lentamente das paredes vermelhas e apercebi-me da origem da cor.
Era sangue.
Graças ao choque recuperei os sentidos e corri para o fundo infinito do corredor. Travei bruscamente o meu corpo de continuar quando vi uma luz forte vinda de outra porta.
Consegui ouvir risos e música alta lá dentro mesmo antes de abrir a porta.
Mal a abri reconheci o local, a data e o acontecimento!
"Eu quero agradecer a todos por estarem connosco no que sem dúvida é o melhor momento da minha vida. Portanto um brinde à mulher da minha vida que me trará o que a vida tem de melhor."
Todos os convidados se levantaram e brindaram com os respetivos da sua mesa.
O Harry inclinou-se sobre mim e sussurou-me algo ao ouvido.
"Prometo que não te vais arrepender okay? Vai correr tudo bem, e vou garantir um grande futuro para o nosso filho!"
Eu sorri, eu senti-me segura e foi um dia muito feliz para mim. Perfeito até. Era talvez a ponte para a minha nova vida, que por muito que me custe, acabou muito mais cedo do que eu pensava.
Olhei para a minha figura vestida toda de branco, com um véu preso por pequenas flores brancas e rosas claro. Eu estava radiante e muito feliz naquele momento. Só havia uma falta neste sítio. A minha família, os meus velhos amigos, todos aqui eram conhecidos e familiares do Harry.
Eu lembro-me de me sentir uma estranha mas era impossível passar despercebida no meu próprio casamento. Estava tudo muito perfeito em termos de aspeto mas qualquer coisa no meu sorriso estava errado.
Um mau pressentimento apoderava-se do meu pensamento. Tive ao menos a sorte de ter um casamento de sonho antes de partir.
Finalmente saí daquela sala cheia de gente, que apesar de agradável, luminosa e com música do meu gosto, continuo a ter um objetivo em estar neste corredor. Tenho de encontrar o meu filho e sinto que estou cada vez mais perto.
No entanto também estou cada vez mais fraca... Sinto um frio constante naquela ala assombrosa e estou a perder cor.
Aliás, estou a ficar transparente, este sítio está-me a tirar toda a energia que tinha e ainda não sei como recuperá-la.
Tenho de me apressar em chegar à porta certa.
Percebi que quando chegasse à porta certa esta iria brilhar muito mais do que as em que parei até agora. Por isso, ignorei as que me chamavam ligeiramente e comecei a correr usando a energia que me sobrava juntamente com a vontade de encontrar o Cody.
Por fim encontrei a porta certa, e mesmo antes de a abrir eu percebi isso. Só de chegar lá senti-me de novo com forças.
Rodei a maçaneta preta e enferrujada, passei pela porta rugosa e entrei. Estava na minha casa. No meu lar, na minha zona de conforto. Toda a energia perdida foi recuperada no segundo em que entrei naquela casa.
Estava na sala, mas esta estava vazia, e até encontrar o Cody a minha missão não estava cumprida.
Segui pelo corredor muito mais agradável do que estivera à cinco minutos atrás e caminhei até ao quarto do meu filho.
Ele estava a dormir. Sabia isso porque a sua luz de presença estava ligada. Observeio como muitas vezes fazia quando vivia aqui.
Eu tinha de chamar a sua atenção mas não sabia como, pois pelo que sei ninguém me ouve nem vê. Então cantei.
"As passadas do caminho
sei-as eu todas de cor.
Só não sei o teu destino,
meu menino, meu amor."
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DESCULPEM NOVAMENTE A DEMORA NÃO TEM SIDO MUITO FÁCIL ARRANJAR TEMPO PARA ESCREVER
OBRIGADA POR ACOMPANHAREM A FIC, ESPERO QUE GOSTEM <3
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