18º Capítulo

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"Não tens culpa." asseguro-lhe dando a mão ao Cody quando ele corre até mim.

"Papá, quem era aquela senhora má?" ele questiona com medo no seu olhar.

"Aquela era... a mãe da mamã. Não te preocupes, quando ela te conhecer melhor vai tornar-se mais amigável." 

'Sim claro que sim' o meu subconsciente ironiza e eu tento mostrar uma expressão neutra.

A mulher foi rude, nem uma oportunidade nos deu, eu queria desculpar-me, compensá-las de alguma forma, mas com ela não será fácil.

A Marta no entanto parece entusiasmada com a nossa presença e depois do clima se tornar menos tenso, guiou-me a mim e ao Cody até ao andar de baixo.

O Cody ficou encantado com o grande relvado do lado de fora da casa e insistiu em ir para lá jogar à bola. A Marta disse que por ela não havia problema e eu apenas o avisei para ter cuidado com a piscina, apesar desta estar protegida por uma especie de cobertura de plástico para dar o efeito duma estufa.

"Segue-me, tenho algo para te mostrar." ela exclamou mal o Cody atravessou para o lado de fora.

Ela andou pelo comprido corredor e eu segui-a sem hesitar, curioso por saber qual era a sua "surpresa". No fim deste havia uma porta branca como o resto da parede com uma maçaneta cinzenta onde estava pendurado um papel que dizia "My world, keep out...please" com uma cara risonha desenhada em baixo. 

Um pouco infantil mas creativo e não me posso esquecer que ela ainda tem 18 anos.

Ela abre a porta sem hesitar e muita luz embate na minha face obrigando-me a fechar os olhos até me habituar. Assim que o fiz observei o grande contraste da mobília deste quarto com o resto da casa. 

Uma das paredes era azul escura, muito escura, quase preta, outra era de vidro e tinha vista para o quintal de trás, onde o Cody estava. Mas as outras tinham desenhos e rabiscos por todo o lado, frases escritas à mão e tudo em preto.

A cama era de casal mas bastante singular. Com imensas almofadas decorativas e uma colcha com o Big Ben impresso no topo. Ao seu lado encontrava-se uma mesinha de cabeceira feita em ferro com uma caixa de madeira e um candeeiro em cima.

Haviam também portas fechadas numa das paredes cobertas com palavras, algumas ofensivas, e suponho que são as portas do seu armário.

"Uau... este quarto é... uau." foi tudo o que consegui verbalizar.

"É..." ela concordou.

"É teu?" questionei mesmo que isso parecesse óbvio.

"Agora é, mas dantes pertencia a outra pessoa." ela suspira.

"Quem?"

"À Alexandra" ela encolhe os ombros como se estivesse a dizer o óbvio.

"Oh." respondi. Naquele quarto, naquelas paredes estavam segredos da Alexandra, mas mais importante que isso, do seu passado.

"A minha mãe deixou-me passar para este quarto porque insisti muito por ser maior, mas na verdade eu só o queria porque me sentia mais próxima dela desta forma. Decidi não mudar a decoração, tudo o que aqui está foi deixado por ela."

O meu olhar percorreu as paredes escritas e desenhadas mais uma vez, numa tentativa de ler tudo mas iria precisar de mais tempo.

"Eu vou ver do Cody, fica à vontade." ela acrescenta e sai do quarto.

Assobiei quando reparei que até o teto tinha desenhos. A Alexandra dedicou-se bastante à decoração.

Encostei-me à parede azul escura e comecei a ler duma ponta à outra. Haviam frases espalhadas como:

"É melhor viver na escuridão, do que cega pela luz." Que suponho que seja dum romance que ela leu.

"You're everything to me, and I'm just another fan..." (Tu és tudo para mim, e eu sou apenas outra fã...) Esta relembra-me o que ela me disse quando nos conhecemos.

"Don't forget where you belong" Este é um título duma das nossas canções antigas mas vejo que ela não seguiu este lema. A menos que ela considerasse viver comigo o seu lar...

"Façam-nos parar, eles simplesmente continuam a aparecer!" Esta frase estava escrita desajeitadamente e com letras ligeiramente maiores que as outras.

...

Além das inúmeras outras frases espalhadas, os desenhos são os que me fascinam mais. 

Consegui ver uma espécie de monstro, todo negro e muito grande, apenas com os olhos brancos, que está a arrancar um pomba branca dos braços duma menina pequena, e ela está desfeita por ele ter feito isso....

Passado um bocado percebi! O monstro era o violador, a pomba era a virgindade da menina, e a miúda é obviamente a Alexandra. Merda... isto deve ter sido mesmo traumático, porque raio ela nunca me falou disto?

Eu teria ajudado-a a superar isto e talvez correr o mundo até encontrar o filho da mãe que lhe tocou.

Ainda assim continuei a ver os desenhos, e os outros no geral eram engraçados, alguns até eram de mim e dos rapazes.

Quando acabei de ver tudo sentei-me na ponta da cama e libertei um suspiro que estava a aguentar. 

Eu tenho de encarar a realidade, a Alexandra foi-se, e nada nem ninguém a pode trazer de volta, não é por ler um diário antigo, vir conhecer a família dela ou por manter as roupas delas intactas no armário que ela irá regressar.

Devo ao Cody que ele conheça o outro lado da família mas se este não facilitar ele nunca se sentirá sozinho. Posso ter um ótimo futuro com a Rose, ela não é a Alexandra, mas ninguém será. O meu filho precisa de mim forte e totalmente entregado a ele. 

Eu serei um melhor pai agora, e só há uma forma de o ser...

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DESCULPEM A DEMORA, E DESCULPEM POR ESTAR UM POUCO MAIS PEQUENO, VOU TENTAR COMPENSAR MAS TENHO ESTADO A PREPARAR A MINHA VIAGEM. :D

ESPERO QUE GOSTEM E VOTEM POR FAVOR!

OBRIGADA <3

 

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