É você, bebê!

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As fotos espalhadas no chão do meu quarto não me diziam mais nada, pareciam sem encanto algum. Eram só fotos iguais à todas as outras do mundo, sem nada de especial.

Faltava alguma coisa.

Por mais que eu amasse fotografia e tivesse a certeza de que era isso que eu queria fazer, eu ainda tinha impressão de que não tinha me encontrado. Quer dizer, eu me considerava sortuda por saber o que eu queria fazer da vida, diferente da maioria das pessoas a minha volta. Mas é frustante quando você quer fazer mas não sabe exatamente o que quer fazer.

É confuso.

Olhar para aquelas fotos de paisagens, prédios, rios, céu me desanimavam. Por mais que as achassem bonitas, ainda sentia que não era meu trabalho. E eu certamente não ganharia dinheiro com elas. E minha mãe jogaria na minha cara que tinha minha avisado que isso não traria futuro. Na verdade, ela já joga.

Quando eu fiz quinze anos eu tive a certeza que eu queria trabalhar com fotos. A minha mãe riu e disse "Tudo bem se você quiser tirar fotos, mas vai ter que arranjar um trabalho de verdade também". Aquilo me magoou eu queria que aquele fosse meu trabalho de verdade.
Então pra correr atrás, ainda com quinze anos, eu consegui um emprego de meio período numa lanchonete e paguei por todo o equipamento de fotografia (12x parcelado, claro).

E até na época que passamos por problemas finaceiros em casa, eu continuava usando meu dinheiro apenas com meu futuro de fotógrafa.
Acontece que agora eu estou no futuro. E não ganho dinheiro nenhum com fotografia e ainda trabalho na lanchonete. Agora, integral. E minha mãe quase sempre arranja uma oportunidade de me dizer o quanto eu joguei dinheiro fora e "quando é que o dinheiro todo que você gastou com equipamentos vai retonar?" e eu só respondia "eu to tentando."

E eu estava tentando mesmo. Mas o problema é que as vezes parece que ser fotógrafa é só um trabalho que os ricos podem ter o luxo de ter, porque você mais gasta do que ganha. E eu não tenho esse luxo.

Mas nessa manhã de domingo, quando espalhei todas as minhas fotos favoritas no chão, eu descobri que talvez eu estivesse indo pelo caminho errado. Não só pelo fato de que eu não teria nenhum retorno finaceiro com aquelas fotos, mas também porque eu não sentia mais conexão com elas.

Mas o que eu poderia fotografar? Animais? Frutas? Insetos? Pessoas?

Pessoas, não. Era a única coisa que não conseguia fotografar. Sentia que roubava o espaço pessoal da pessoa, ou que a foto ficava sem sentido. Como se a fotografia não tivesse valor. Era um sentimento estranho.

Talvez eu nunca tivesse fotografado da maneira certa. Ou a pessoa certa.

Coloquei de lembrete no meu cérebro: Tentar fotografar pessoas.

Lembrei de todas as palavras desmotivadoras de minha mãe.

Tentar não.

Fotografar pessoas.

***

Domingo era o meu dia favorito porque 1) não tinha que ir para aquela lanchonete 2) não faria trabalho ESCRAVO naquela lanchonete 3) não veria as pessoas feias daquela lanchonete e o mais importante 4) passava o dia na cama.

Eu ainda estava pensando em como começar a fotografar a pessoas. Eu podia postar no Instagram, eu até que tinha um número razoável de seguidores.

Mas e se ninguém respondesse? E se alguém respondesse? E se eu tirasse fotos ruins dessa pessoa e ela acabasse comigo na internet?
Bom, acho que primeiro eu preciso trabalhar a minha confiança.

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