Eu gosto de você

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Nunca mais eu quero me mexer.

Demi dorme nos meus braços e estamos na mesma posição em que adormecemos, sinto sua respiração pesada, os fios de seus cabelos na minha barriga, sua mão na minha cintura. Ela parece confortável, eu, por outro lado, estou toda torta.
Meu braço está embaixo da cabeça dela e não consigo me mexer, mesmo assim não quero sair daqui.

Mas sei que quando sair todo o meu corpo irá doer, então prefiro adiar esse momento. E também porque quero que Demi continue em cima de mim.

Tento não pensar, mas é inevitável: estamos deitadas seminuas no sofá da casa dela. Não sei que horas são e a qualquer momento alguém pode aparecer. Não quero pensar, nem me desesperar, mas está sendo difícil.

A madrugada anterior parecia um sonho, e por mais que tivesse durado menos do que eu esperava tinha sido tudo que eu precisava.

Tudo que eu precisava pra ter certeza - de algo que eu já sabia: eu e Demi não nos gostamos só como amigas, isso está mais claro que nunca.

Mas não sei o que fazer quanto a isso, não sei como minha mãe reagirá (também não sei se me importo com isso), não sei o que nossas amigas vão pensar, nem sei exatamente o que Demi quer. Nunca conversamos sobre isso. E, claro: agora estou com viagem marcada pra L.A e não sei quanto isso afetará a gente.

Demi se mexe e ajeita a cabeça, sinto sua boca tocar meu pescoço e ela deposita um beijinho ali. Me arrepio.

- Bom dia. - ela murmura, com a cara afundada no meu pescoço.

- Bom dia. - respondo.

Ela levanta um pouco o rosto e me olha. Sua cara tá toda amassada e ela está com um sorrisinho adorável, ela mexe num fio do meu cabelo.

- Dormimos sem camiseta. - ela diz, brincando com o fio do meu cabelo.

- Dormimos.

- Sonhei com você.

- O que você sonhou?

- Não sei se foi sonho. - ela para de me olhar. - A gente se pegava bastante.

- Ou nós duas tivemos o mesmo sonho ou realmente aconteceu.

- Acho que aconteceu. - ela parece uma criança falando. - Por qual outro motivo a gente estaria seminua?

- Calor?

- É, mas outro tipo de calor. - ela dá um sorriso malicioso, acho que fico vermelha porque ela ri, mas uma risada desconfortável. Ela suspira. - Calma, Gomez, eu não vou mais te pegar.

- Mas eu não disse nada!

- Mas pensou!

- Por que você sempre corta o clima assim?

- Você que corta! - ela rebate.

- Você sempre fica na defensiva falando "calma, Gomez, relaxa, Gomez, não vou fazer nada, Gomez" - tento imitar a voz dela.

- É porque você me confunde com os seu sinais.

- Que sinais?

- Toda vez que digo algo ou faço algo, você arregala os olhos, parece que eu cometi um crime.

- Eu não faço isso.

- Faz, sim! Você nem percebe que faz, aí parece que tô te assediando.

Solto uma risada.

- É sério!

- Você parece uma criança falando. - digo, a olhando com um sorriso bobo. Ela sorri, mas logo o sorriso some.

- Viu, só? Você dá um sinal e se eu responder dando sinais, você arregala os olhos e parece que só eu estou afim.

- Afim?

- É, Gomez, você sabe.

- Não sei, não. - me faço de boba, porque eu sei.

- Ontem a gente se beijou e você estava retribuindo! - ela afirma, agressivamente.

- Sim, eu estava. - confirmo.

- Então, aí eu penso "ela também tá afim". Aí do nada te olho e você está com uma cara de assustada.

- Eu só tava confusa...

- Não, você parecia assustada! Parecia que eu tava te atacando e você tava sem reação.

- Isso é novo pra mim.

- Gomez, você já beijou várias vezes.

- Mas não você.

Parece que ela fica sem jeito.

- De qualquer forma, você entende o que eu quero dizer? Toda vez que você parece gostar de mim, do nada você muda.

- Mas você sabe que eu gosto de você.

- Gostar, gostar, gostar. - ela arregala os olhos e arqueia as sobrancelhas. - Sabe, gostaaaaar.

- Sei. - digo rindo.

- Se não for recíproco, eu preciso que você me diga agora.

Arregalo os olhos. Não estava esperando esse ultimato.

- Aí, lá vem você com essa cara de assustada. - ela diz frustrada e se senta. Dou risada.

- Desculpa,você tem razão, eu nem percebo que faço isso.

- Eu sempre tenho razão. - ela diz, parecendo uma criança manhosa. Também me sento e minhas costas doem, mas ignoro.

- Eu só não tava esperando que você fosse falar disso agora.

- E quando a gente vai falar, Gomez? - ela me olha, séria. Seu olhar me perfura e sei que não posso mais adiar esse assunto.

- Ok.

- Ok. - ela continua me olhando. - É recíproco? Somos só amigas? Eu sou só uma experiência? É amizade colorida? Carência?

- Calma.

- Eu tô calma.

- Então, você gosta de mim? Gosta, goooosta? - pergunto, imitando a forma que ela falou.

- Não tá óbvio? - ela pergunta.

- Não sei.

- Sim, eu gosto, Gomez. Gosto muito mais do que só amizade.

- Desde quando?

- Não sei, talvez desde sempre.

Mordo o lábio, nervosa.

- Mas eu só comecei a ter certeza a alguns meses, um pouco antes dessa ideia de modelo.

Ela continua me olhando mas não digo nada.

Seu olhar parece triste. Parece que ela me olha no fundo da alma e sei que agora é a hora.

Ela espera a minha resposta, mas não consigo dizer, nossos olhares não se desgrudam e tenho a impressão de que seus olhos estão lacrimejando.

- Eu também gosto de você. - digo. Solto o ar que nem percebia que segurava. Ela sorri, parece aliviada. - Gosto, gooooosto.

Ela ri.

Deito a cabeça no seu ombro.

Suspiramos juntas.

- O que vamos fazer, Lovato?

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⏰ Última atualização: Dec 27, 2019 ⏰

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