Houve silêncio por um obstinado tempo. Eu não subi aquele caminhão por dois motivos: primeiro, eu sabia que se chegássemos as fronts com maior quantidade de soldados, eles poderiam me reconhecer. Segundo, a Angélica ficaria nem que ficasse apenas uma pessoa de fora do caminhão, o indivíduo morreria cedo ou tarde, e ela acabaria o acompanhando.
— Você fala como se já tivesse participado de alguma guerra.
— Pode não parecer, mas existem constantes guerras nesse país.
— Claro e por motivos tão mesquinhos quanto os da Tríplice Entente x Impérios Centrais, ou ainda Aliados x Eixo, ah, vale lembrar o dos EUA X URSS. — suspirou. — Onde foi parar o cérebro humano...? — desta vez Angelica parecia ter pensado alto.
— Falar não vai nos tirar daqui, Angel...
— Ainda acredito que vão voltar.
Passou um bom tempo em que Angélica se manteve sentada embaixo da tenda, apenas esperando o tempo passar. O baque dos tanques de guerra, das granadas, e dos tiros estavam cada vez mais próximo, o que fez com que boa parte dos pacientes moribundos, ao meu lado, acordassem. Enquanto tínhamos o silêncio dos humanos, e os tiros como plano de fundo, a única coisa em que conseguia pensar era em bolar um plano para sair dali.
— Angel, preciso de Penicilina e Heroína.
— Oxe, Heroína?
— Você teria Morfina?
— Não.
— Então, por favor, eu preciso nos tirar daqui, antes que seja tarde demais.
Ela queria debater, estava na cara, mas apenas caminhou até a caixa de remédios e procurou o que eu pedi. Trouxe o que parecia ser a única seringa existente e as duas ampolas. Virei de lado e abaixei uma das partes da calça, onde a Angélica, após sugar o líquido da ampola de Penicilina, aplicou a injeção. Em seguida, repetiu o processo de puxar o líquido da ampola de Heroína com a seringa, fez pequenos movimentos para encontrar minha veia e logo aplicou a dose. Havia esquecido o quanto aquela bendita penicilina doía e ardia, o lugar praticamente queimava.
— Prontinho. O que o super homem pensa em fazer?
— Caminhar um pouco, ficar preso aqui não vai me levar a lugar nenhum.
Levantei com muito esforço, precisei usar ambas as mãos para apoiar no toldo e erguer-me. Ao ficar de pé, veio-me a dor no tornozelo, assim como uma ligeira náusea, que foi contida com um arroto e o sacudir da cabeça. Agarrei, apenas por reflexo, a calça que Angel me jogou. Mantive-me de costas enquanto tirava a que foi cortada por inteira na perna do lado esquerdo e vesti a que me foi jogada. Minha camisa estava ensopada, suja e fedendo.
— Não vá muito longe, eles podem ter conseguido alguém no caminho para nos buscar e podem não querer te esperar.
— Aposto que vou te encontrar aqui quando voltar. — dei poucos e curtos passos. Notei a Angélica entortar a boca, e achei sexy, mas não era pelo simples fato dos seus lábios se contorcerem, e sim por tudo o que ela estava representando desde que eu a encontrei, mesmo estando toda suja, com roupas rasgadas e de péssimo gosto, seus cabelos estavam presos como em um coque no alto da cabeça, com alguns fios soltos pelo seu rosto.
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Iémen - Amando em tempos de guerra [DEGUSTAÇÃO]
Historical FictionDISPONIVEL NA AMAZON 📍amazon.com.br/dp/B082VD4CCF 1. Romance +18 2. Ficção histórica 3. Literatura brasileira Já faz mais de 3 anos que a guerra eclodiu em Iémen. Zayn, subtenente de uma das tropas do exército da Arábia e sócio majoritário de uma...