Capítulo 3 🇪🇬

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Não me lembrava de tê-lo visto em um dos buracos daquela parede ao chegar à cozinha

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Não me lembrava de tê-lo visto em um dos buracos daquela parede ao chegar à cozinha. A pequena garota havia se acalmado, então caminhei em direção ao corpo do homem. Ele respirava e isso era nítido, mesmo que com dificuldade, seu peito enchia de ar, mas ao descer fazia o homem tremer. Ao chegar próximo o suficiente seus olhos, completamente azuis como o oceano, assustaram-me. O homem disse alguma coisa, nada compreensíveis para mim. Não restava duvidas de que era um pedido de ajuda. Seu peitoral carregava cortes, alguns com o sangue fresco, outros com o sangue preso e seco.

— Eu não entendo o que quer dizer, mas vamos ajuda-lo.

O homem, ainda desconhecido, por sua vez agradeceu. Sim, ele simplesmente disse, obrigado com um lindo sotaque. Isso me chamou atenção, assim como me deixou um tanto feliz. Seria um brasileiro? Um americano? Antes que eu pudesse voltar a conversar com o desconhecido, a pobre garotinha o olhou e voltou a chorar.

— لا تبكي ، سنجد أمك ¹

O homem mais uma vez usou a língua árabe, ou qualquer que fosse, mas que fez a garotinha o olhar e segurar o choro:

— إذا كنت تبكي ، سيكون من الصعب العثور عليك ، هل يمكنك محاولة الصمت²

Por um momento achei que ele falava sozinho, até perceber que a garotinha o escutava e tinha os olhos presos aos dele. Ela balançou a cabeça de forma positiva para o que quer que ele tenha dito.

— O que disse a ela?

— Pedi que ficasse calma, que vamos encontrar sua mãe —o homem mantinha uma das mãos em sua perna.

— Você a conhece? —arregalei os olhos.

— Oh, não! Mas qualquer criança que seja encontrada perdida e sozinha deseja sua mãe por perto —as palavras eram constantemente cortadas por tosse ou gemido de dor. Olhei um pouco mais para baixo e vi o corte.

— Acha que consegue andar?

— Talvez um pouco —mentiu.

— Como conseguiu esse corte?

— Olhe em que tempo estamos, moça. Em uma luta... Um homem tentou me roubar —ele deu um gemido mais alto de dor, querendo acabar de vez com a conversa e, quem sabe, receber realmente ajuda.

— Tudo bem, vou chamar mais alguém para te ajudar.

Dei as costas ao homem ali deitado e fui ao encontro dos outros. Todos já estavam acabando suas partes, e ficaram tão emocionados quanto eu por encontrar duas pessoas ainda com vida. Até o soldado, que não fazia amizade, pareceu feliz. Nilza pegou a garota no colo, que chorou inicialmente, para que eu terminasse de revistar os armários. Assim, todos foram de encontro do desconhecido. Ele vestia apenas uma calça de pano, seus pés estavam descalços e expostos. O soldado junto a Lucas ajudou o homem a se levantar, apoiado com cada um de seus braços no pescoço dos demais saímos dali. O homem olhou rapidamente para trás, o que me fez olhar também. Estaria ele agradecendo por termos o achado?

Iémen - Amando em tempos de guerra [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora