Eu não tinha o que fazer a não ser esperar. Observei Zayn enquanto dormia, mas logo me aproximei. O mesmo começou a engasgar com o próprio vômito, por estar de barriga para cima. O virei de lado o quanto consegui, com sua ajuda, ao despertar, ficou ainda mais fácil. Ele estava com febre e suas vestes estavam completamente molhadas de suor.
Busquei por um pano úmido para limpar o seu rosto e deixei-o deitado de lado.
— Meu Deus, o que eu posso lhe dar para que melhore?
— Não... não se preocupe, vai passar.
Dito essas palavras, ele simplesmente desmaiou. Sua respiração se tornou lenta e pesada. Segurei sua mão para sentir sua pulsação quase inexistente. Logo depois de cuidar daqueles ali presentes, alimenta-los e tentar diminuir suas dores, administrando doses e dividindo-as por igual, sentei próximo a Zayn. Ele tinha razão, nós éramos os únicos que sairia dali com vida, mas era injusto demais deixar os outros para trás. Então, tomei uma decisão. Não deveria ser egoísta a esse ponto. Cuidei para que a febre dele cessasse, de forma que acabei dormindo ao seu lado.
Acordei sentindo uma onda forte de calor sobre minhas costas. Com medo, hesitei em me mexer. Que animal poderia ser? Respirei fundo algumas vezes, abri lentamente meus olhos e notei um braço forte e cabeludo sob minhas costelas. "Ah, é por isso que estou me sentindo presa". O peso do seu ombro estava totalmente sobre mim, mas somente pelo fato de saber que era o mesmo, relaxei, e novamente dormi. Não demorou para que eu sentisse sua mão me acariciando. Nossos corpos estavam quentes, muito quentes. Assustada com as reações, levantei depressa.
— Que susto, Zayn, não faça mais isso!
— Foi você quem se deitou ao meu lado — defendeu-se com um bocejo.
— O caminhão chegou?
— Sim, provavelmente ja chegou a Oman.
— Vou buscar algo para comer, você deve estar com fome... — fui me afastando, o que tornava minha voz ainda mais baixa para que ele escutasse, porém ainda audível — Já que ontem não comeu nada.
Na caixa de remédio havia apenas duas ampolas de heroína.
— Eu cheguei a uma conclusão ontem.
Ele abriu o enlatado e comeu com os próprios dedos Ao me escutar, apenas ergueu o olhar.
— Eu não vou deixa-los aqui. Eu vim aqui para salvar vidas, não para deixá-las, mas não vou te prender com a esperança de que vão nos buscar. Você pode ir, está bem? Se eles vierem, eu peço para que lhe procurem — minha voz era baixa e falha, pois nesse exato momento, me lembrava da frase de minha mãe: "Você está cavando a própria cova".
— Você é mulher. Mulheres são burras.
Se aquele comentário tinha o intuito de me ofender, não ofendeu, não vindo de um muçulmano que acreditava que as mulheres estavam sempre embaixo ou atrás de homens. Homens que acreditam que a mulher serve apenas para procriar e cuidar da casa. Comentários desse tipo são muito piores quando vêm de homens que sabem que aquilo não é verdade, mas falam de propósito para desestabilizar a mulher.
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Iémen - Amando em tempos de guerra [DEGUSTAÇÃO]
Ficción históricaDISPONIVEL NA AMAZON 📍amazon.com.br/dp/B082VD4CCF 1. Romance +18 2. Ficção histórica 3. Literatura brasileira Já faz mais de 3 anos que a guerra eclodiu em Iémen. Zayn, subtenente de uma das tropas do exército da Arábia e sócio majoritário de uma...