Em meio a um ataque inesperado, fiquei inconscientemente surdo e paralisado. A intensa onda de areia me fez voltar à realidade segundos depois. O acampamento estava sendo atacado. Muitos dos homens ja estavam com suas armas em punho atirando... exceto eu. Por mais que percebesse, ainda estava em transe, não me lembrava de ter sido pego de surpresa como desta forma, eles estavam praticamente dentro do prédio. Tudo era bastante bem esquematizado, então como teriam eles, passado pelas nossas barreiras? Uma irá tomou conta do meu ser ao lembrar que meu primo era um dos que estavam montando guarda aquela noite. Foi o suficiente para me fazer levantar e pegar sua IMI Tavor TAR 21. O inimigo estava por todo lugar, nos telhados, becos, prédios, janelas, ruas. Tive o vislumbre de passar o olhar pelo relógio da parede e notar o horário, eram três da manhã.
Era um tiro no escuro, poderiam estar atacando a seus próprios amigos, mas só saberiam ao amanhecer. Descarregamos todas as armas sem parar, sem hesitar. Encostei numa das paredes e, somente ao apoiar um dos pés no chão, senti a pressão na minha perna esquerda, bem no calcanhar. Levei uma das mãos ali, no instante em que a senti molhada ja sabia o que havia acontecido. Ainda assim levei os dedos ao nariz, como de praxe. O fato de estar machucado me deu mais força para não deixá-los chegar ainda mais próximos de nós, sem falar no iminente medo da morte. Óbvio, entramos em uma guerra em prol da missão, mas há meios melhores de morrer do que pelas mãos do inimigo. Eu adoraria se fosse algo rápido e prático, como uma granada, mas eles fariam questão de nos fazer sofrer e de nos mostrar como exemplo. Eles só não me conheciam... Ainda. As discussões jamais teriam fim entre nós xiitas e sunitas, até que o último deles esteja morto. Não era isso que nós queríamos, mas ao ter terroristas, como eles, impedindo voos de ajuda as cidades que já tenham dominado não me deixa ter um pingo de compaixão. Barravam as chegadas de itens básicos para sobrevivência dos nossos, como comida, gás de cozinha, medicamentos, água. Todos precisavam morrer, e não há nada mais que eu deseje a não ser sangue.
Voltei à posição inicial, erguendo-me, e atirei.
Atirei para todos os lados, com gritos e xingamentos até os pentes esvaziarem e eu precisar recarregar o cartucho. Momentos depois, apenas nós disparamos tiros, o que nos fez contar vitória antes do tempo. Não dormimos, fomos dominados pelo medo.
E se estivéssemos em uma emboscada ainda maior ao sair? Esperaríamos até o amanhecer? Éramos apenas três agora, ao menos neste quarto.
— Acabamos de ser atacados. Alguém na escuta? — Disse com o radio transmissor — Repito, alguém na escuta?
Ninguém respondeu.
— Vamos, peguem tudo o que conseguirem, precisamos encontrar um novo posto e nos restabelecermos, assim dá tempo de voltarem ao posto e nos localizarem.
Feito isto, começamos a arrumar nossas coisas e a pegar os daqueles que ja haviam partido. Tínhamos: capacete, bolsas de remédio, pistola, colete, fuzil, faca, munição para morteiro, poncho, bolsas com munição, kit limpa arma, toldo, lanterna e camelbak. Tanto a lanterna quanto a camelbak, que armazena 5 litros de água, foram colocadas nos coldre auxiliar logo que todos estavam vestidos, apropriadamente. Já estava clareando, o que facilitaria muito para ambos os lados. Rasguei uma das minhas camisas e a enrolei no tornozelo. Para minha sorte a bala passou de raspão.
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Iémen - Amando em tempos de guerra [DEGUSTAÇÃO]
Fiction HistoriqueDISPONIVEL NA AMAZON 📍amazon.com.br/dp/B082VD4CCF 1. Romance +18 2. Ficção histórica 3. Literatura brasileira Já faz mais de 3 anos que a guerra eclodiu em Iémen. Zayn, subtenente de uma das tropas do exército da Arábia e sócio majoritário de uma...