— Turma, por favor — A professora implorava por silêncio.
Era sexta-feira, restavam apenas alguns minutos para a aula acabar. Os alunos — como de rotina num dia de sexta feira — conversavam escandalosamente.
A professora de geografia suspirava tristemente parecendo desistir de falar o que tentava desde o começo. Seus lábios diziam "Por favor fiquem quietos". Já seus olhos cansados gritavam "Calem a boca bando de animais. Quer saber? Desisto, que se dane se vocês são o futuro da nossa nação, até lá espero ter batido as botas."
— Turma, só estou pedindo um minuto de silên... — A professora foi interrompida pelo som da porta se abrindo.
Todos da turma calaram-se diante da figura importante que entrava pela porta. Uma mulher no auge dos seus cinquenta anos, que apesar de alguns fios brancos perdidos no meio de sua cabeleira ruiva, tinha um corpo exuberante e desejável (Que de vez em quando deixava aparecer uma gordurinha aqui e ali). Vestia uma saia lápis roxa, que exibia suas pernas torneadas de academia, e junto com a saia, uma camisa de botões preta justa ao corpo. Sua cabeleira ruiva estava presa em um coque pouco frouxo, que dava um ar de elegância e sensualidade. Seu rosto, apesar da idade, apresentava pouquíssimas rugas e afeições que deixariam qualquer mulher histérica.
— Turma! — Falou a diretora em um tom de voz próximo ao grito — Que bagunça é essa? Acham que estão aonde? Isso é uma escola. Pude ouvir seus gritos da minha sala.
Os alunos que antes gritavam descontroladamente como crianças do maternal, agora estavam com a cabeça baixa.
— Pode continuar professora Melanie. — Ordenou a diretora.
— Obrigada diretora — O tom de voz era baixo e sem jeito.
Era engraçado como diferentes pessoas causavam diferentes comportamentos. A professora, apesar da alta importância na sala de aula, não passava nenhuma autoridade e respeito. Já a diretora era vista como figura autoritária e brava, todos a temiam (E ao mesmo tempo a desejavam).
— Bom, como alguns de vocês já devem saber, o aniversário da nossa cidade está chegando, e pela primeira vez em anos, nossa escola foi escolhida para representar a cidade na festa comemorativa.
Era verdade, o aniversário da cidade realmente estava chegando. Todo ano eles fazem uma festa gigante, como se fosse um segundo carnaval. Garotas bêbedas acompanhadas de jogadores de futebol aproveitadores tomavam conta da rua. Depois, quando o relógio batia meia-noite, fogos de artificios eram soltados, e o céu entrava em festa. Até que era bonito, o som de rojão e coisas explodindo me agradava, mas o verdadeiro motivo para eu gostar dessa festa, era o fato que meus pais sempre saíam e deixavam a casa só para mim.
Quando mais novo, eles me levavam para o alto de uma... montanha? Não sei, não me lembro bem, era um lugar alto e de difícil acesso, apenas minha família ia lá nessas datas de festa. Lá, podíamos ver os fogos bem de perto, eles estoravam na nossa cara e o som deles era mais alto lá, e eu quase podia ouvir eles dizendo "Ei seus fudidos, me apreciem enquanto podem, vou estourar na cara de vocês e acabar com suas vidas". Era divertido e eu sempre gargalhava sozinho imaginando os fogos estourando em alguém e essa mesma pessoa correndo por aí desesperada.
— Quero que vocês se juntem em dupla e escolham uma parte da cidade para montarem uma maquete.
O burbulho de pessoas se agitando estava voltando. Já estavam combinando suas duplas.
— Mas — O tom de voz da professora aumentou — Não são vocês quem vão escolher suas duplas.
Agora a turma reclamava em voz alta.
— Faremos um sorteio. — Ela tirou um saquinho com papéis dobrados, possivelmente com os nomes para o sorteio.
— Fala sério professora, palhaçada, qual o problema de escolhermos nossas duplas? — Bruna reclamava ao meu lado.
Ao virar-me para ver Bruna reclamando, reparei na garota, — que a poucos dias caia de bunda na grama po causa da minha brincadeira — ela estava conversando com Bruna (antes da mesma começar a reclamar) e agora dava pequenas risadas da discussão que sua amiga iniciara com a professora.
A janela da sala ficava próxima a ela, o sol forte de hoje brilhava na metade do seu rosto voltado para a janela. Seus cabelos cacheados estavam armados e descontrolados, mas ela parecia não se importar com isso.
Ao longo dos dias, percebi que ela não parava de me olhar. Não era um olhar que se espera de uma garota de dezessete anos, não, não era. Ela me olhava com curiosidade e... Eu não sei. Sei apenas que era estranho.
Tão frágil e tonta (Há! Não foi só ela que andou observando alguém) indefesa como uma mosca em uma teia de aranha.
Sim, sim! Ela com certeza seria uma mosca tonta e burra. Uma mosca que voa inocentemente (em um ato de burrice) para a teia. Trançando os passos para sua morte.
Oh não pequena mosca, não vá para teia! A dona aranha vai te pegar. Não acredite na Aranha, ela é falsa e manipuladora, doce mosquinha, é uma armadilha, corra!
Oh não pequena mosca, agora está presa na teia! Sua mosca burra e idiota, por que foi se aproximar da dona aranha? Não adianta tentar se livrar mosquinha, seu desespero é prazer para dona aranha.
Oh doce aranha, por que tão cruel? Por que sentir prazer no sofrimento dos outros.
— Cale-se Bruna! — a professora pôs um fim a discussão.
Bruna ainda parecia ter muito o que falar, mas a com medo da professora, calou-se como ela pediu.
A professora começou o sorteio. Tirava nome por nome. A decepção de sua dupla ser horrível era percebida graças aos sons de "aaahr" que faziam quando descobriam com quem fariam a maquete.
— Julia e.... — pausa silênciosa — Robert.
— Carla e .... — pausa — Mariana.
— Rodrigo e ... — Pausa — Julio
— Ana e ... — pausa — Carolina.
— Jayden e...
A pausa que ela sempre fazia no meio do sorteio parecia ser curta quando era com os outros. Na minha vez, parecia minha eternidade. Ninguém na sala me agradava, e qualquer pessoa com quem eu caísse eu ficaria insatisfeito.
— Emma Mithcell!
O que? Quem caralhos é Emma Mitchell?
Ao olhar pela sala, tentando descobrir quem era Emma Mithcell, no momento em que virei minha cabeça, lá estava ela . Emma Mithcell. Em pé ao lado de sua carteira, estava a garota cujo eu fiz cair de bunda na grama.
Ela soltou um sorriso, e acenou com as mãos.
Oh pequena mosca, por que foi se aproximar da Dona aranha?
***
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Escrava dos meus sentimentos
RomanceMudanças. Palavra que ironicamente se tornou algo repentino e comum na vida de Emma, que por ter pais missionários, nunca teve a experiência de uma vida adolescente normal. Quando finalmente seus pais decidem criar raízes em algum lugar, eles escol...