019 | cameron

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Parte 3 e última.
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C A M E R O N   D A L L A S

— A gente está passeando pelo centro? — perguntei.

— Não. — disse ela. — Estou tentando chegar ao prédio do SunTrust. Fica ao lado do Aspargão.

— Ah — respondi, porque pela primeira vez naquela noite eu tinha uma informação útil a oferecer. — Fica no sul.

Encostei o carro diante de um parquímetro e olhei para Margo. Por um instante, eu a flagrei olhando para o nada, os olhos perdidos, não exatamente encarando o Aspargão, mas olhando para além dele. Foi a primeira vez que achei que talvez algo estivesse errado — não errado do tipo "meu ex namorado é um babaca", mas realmente errado. E eu devia ter dito algo. Claro. Eu devia ter começado a falar sem parar. Mas tudo o que falei foi:

— Posso saber por que você me trouxe até o Aspargão?

Ela se virou para mim e sorriu. Margo era tão bonita que até seus sorrisos falsos eram convincentes.

— A gente precisa verificar o nosso progresso. E o melhor lugar para fazer isso é do topo do prédio do SunTrust.

Revirei os olhos.

— Não. Não mesmo. De jeito nenhum. Você falou que não haveria arrombamentos nem invasão de domicílios.

— E desde quando isso aqui é um domicílio? Além do mais, é só entrar, porque a porta não fica trancada.

— Margo, isso é ridículo. É cla... — Eu admito que ao longo da noite cometemos tanto arrombamento quanto invasão de domicílio. Invadimos a casa de Becca. Arrombamos a casa de Travis e vamos invadir aqui também. Mas em nenhum momento cometemos arrombamento e invasão ao mesmo tempo. Teoricamente, a polícia poderia nos acusar de arrombamento e poderia nos acusar de invasão, mas não de arrombamento e invasão. Então mantive minha palavra. — Na certa o SunTrust tem, sei lá, um segurança ou qualquer coisa assim.

— Eles têm — disse ela, soltando o cinto de segurança. — É claro que eles têm. Ele se chama Gus.

Entramos pela porta da frente. Sentado atrás de um imenso balcão semicircular, estava um rapaz com cavanhaque ralo e vestindo uniforme da companhia Regents Security.

— Qual é a boa, Margo? — disse ele.

— E aí, Gus? — respondeu ela.

— Quem é a criança?

A GENTE TEM A MESMA IDADE!, eu queria gritar, mas deixei Margo responder por mim.

— É o meu amigo Cameron. Cam, este é Gus.

— Qual é a boa, Cameron? — perguntou Gus.

Ah, a gente só está largando uns peixes mortos pela cidade, quebrando janelas, fotografando uns caras pelados e curtindo no saguão de entrada de arranha-céus às 3h15 da manhã. Esse tipo de coisa.

— Nada de mais — respondi.

— Os elevadores passam a noite desligados — disse Gus. — Tive que desligar às três. Mas vocês podem usar a escada.

— Legal. Até mais, Gus!

— Até, Margo.

— Como assim você conhece o segurança do SunTrust? — perguntei assim que chegamos às escadas e não podíamos mais ser ouvidos.

— Ele estava no último ano quando a gente estava no primeiro — respondeu ela. — Você precisa vir mais rápido, ok? Estamos perdendo tempo.

Margo começou a subir os degraus de dois em dois, voando, uma das mãos no corrimão, e eu tentava acompanhá-la, sem sucesso.

𝐩𝐚𝐩𝐞𝐫 𝐭𝐨𝐰𝐧 · 𝐜𝐚𝐝Onde histórias criam vida. Descubra agora