Capítulo 9

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" Em uma pequena cidade da Carolina do Norte ... "

       Ao chegar novamente ao cemitério, a garota sentia certo vazio. Não sabia explicar o motivo, mas gostaria de poder frequentar mais o mundo dos humanos, apesar de ser arriscado.
Lamentou por não ter pegado alguns livros, uma vez que se sentia entediada quando não tinha o que fazer em casa. Não sentia mais desconfiança de Lucien quando dizia ser seu primo, mas também queria saber mais sobre sua família. Seu pai não havia dito exatamente tudo sobre os Romullo's.  

O carro parou na estrada, próximo as traseiras do cemitério. Bia suspirou e perguntou:

- Quer entrar? Ainda não falamos sobre a família. E tenho a sensação de que você está escondendo muita coisa. -Disse ela, sem entusiasmo para discutir, mas cansada de implorar por explicações. No fundo, sabia que ele não tomaria iniciativa sobre a conversa.
- Nossa prima. Obrigada pela hospitalidade, mas vou aceitar mesmo assim. Cadê seu gato? - Perguntou ele confuso.
- De nada. Frango ficou em casa. Vamos então. - disse ela, descendo do carro com as caixas de sobremesas.
- Opa! Eu te ajudo, venha. - Respondeu ele, saindo do carro, trancando e pegando algumas caixas.

     Andando lado a lado, Bia deixava-se levar pela sensação de tocar a grama. Apesar do frio, havia algo na natureza que mantinha certas coisas. O barulho de pisar em gravetos era o único som entre eles. Não era um silêncio inquietante, mas agradável. Ela gostava desse silêncio. Um vento bateu no seu rosto, mexendo seu longo cabelo roxo. Ele se movia como se dançasse com os fios lisos do cabelo dela, uma sensação diferente. Lembrou-se de seu pai, e sentiu saudades. Quando parecia que seu coração viria a pular do peito, Lucien começou a falar:


- Bem, priminha. A verdade nem sempre é bonita como a primavera. - Começou ele por dizer.
-Explique melhor. - Pediu com tom de exigência.
- Veja o céu.
- Sim. Estou vendo. - Disse ela.
-Agora me diga, o quê vê?
-Um imenso azul. - Respondeu sem paciência.
- Mas será que realmente é imenso? Ou será que é mesmo azul? Digo, como sabe o quê é?
- Digo por que sei. Digo por que vejo. - Disse lhe parando a meio do caminho, o encarando, pois não acreditava que estava mesmo tendo aquela conversa. (Que perca de tempo) Pensou Bia.
- Mas isso não justifica o que realmente seja.
- Aonde quer chegar com isso Lucien? - Perguntou
- Já lá vamos priminha, primeiro estou tentando fazer você entender que nem tudo que julgamos saber provém da verdade verdadeira.
- Certo. Digamos que a verdade verdadeira é aquilo que creio, que acredito estar vendo, e do qual fui ensinada.
- Isso... Sim, por aí. - Respondeu ele, querendo ouvir mais do que ela diria. Enquanto a acompanhava cemitério adentro. Segurou as caixas enquanto ela lhe entregava, para entrar do outro lado.
- Então a verdade é relativa ao lado de uma versão? -Disse Bia, tentando explicar a confusão dos seus pensamentos.
- De todas as versões!
- Entendo. 

-Bom, acho que tudo tem seu tempo. E nós, somos imortais. O que mais temos é tempo priminha querida. - Disse ele com sinceridade demais, chegando a um ponto onde talvez fosse até sarcasmo. 

- Você tem razão sobre isso. Temos toda a eternidade. - Respondeu ela cabisbaixo, lembrando que infelizmente era uma vamp.

        Eles seguiram o caminho chegando ao que poderia ser chamado de casa da Bia. Ao entrar, ele percebeu que ela não tinha o hábito de trancar a porta. Mesmo sendo um cemitério, poderiam aparecer humanos curiosos. Deixou as coisas na mesa e se sentou no sofá onde geralmente Frango, O gato se deitava. O pequeno felino ronronou desgostoso, mas deixou passar a raiva. Pois sua dona tinha pegado ele no colo, dizendo:

- Ei amiguinho, vem cá. Eu estava com saudades. - Ela abraçou o gatinho preto com ternura.
Ele não podia negar, gostava demais da Vampira para odiar os vampiros em si. Talvez fosse apenas o primo folgado que ele tivesse essa empatia.
- Casa legal Bia.
- Bem, ela não é nada demais. Mas é o suficiente para uma vampira. - Suspirou ainda desanimada.
- Você fala como se fosse ruim ser o que somos. - Disse ele se deitando mais folgado.
- Não se seja ruim, mas é solitário. - Comentou fitando as lápides a sua esquerda.
- Isso porque você fica aqui, trancada com mortos. Digo, vá lá fora. Viver a vida com os mortos vivos como eu. E com os humanos. Eles podem ser divertidos além de apetitosos. - Riu Lucien, tentando aliviar o ar de depressão.
- Pode até ser, mas eles são tão...
Vivos. Eu não sei se conseguiria ficar longe do cemitério. - O gato pulou de seu colo para o chão, e ela limpou os pelos da roupa.
- Isso me faz perguntar, você fica sempre aqui? - Ele encarava o lugar, era limpo apesar de ser um túmulo. Mas não era uma casa comum. Com conforto e comodidade.
- Como assim? -Perguntou ela confusa, sem entender o que ele quis dizer.
- Como você toma banho? Dorme? Guarda suas coisas? - Perguntou ele se sentando no sofá, ficando mais sério.
- Há tá. O lugar é protegido por magia negra. Venha. Vou te mostrar. - Disse ela levantando da cadeira mais animada.
- Claro. - Ele levantou a seguindo.

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