Eu te amo

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A morte. Ela não parece tão ruim assim. Não quando você está à beira dela. Não sei se isso é estar morto, mas parece estranho. Tudo a minha volta parece estar se desmanchando. Algo parece estar me sugando, me tirando de mim. Levando-me para algum lugar. Não sei ao certo o que isso significa. Minha mente está em branco. Uma luz ofuscante se alastrou no meio da escuridão. Eu estava ali. Meus pés descalços tocavam o chão úmido de terra. Uma estrada longa se formou pela frente. Eu comecei a andar, algo me mandava fazer aquilo. Na minha frente eu via dois caminhos, um à direita e o outro à esquerda. Não sabia qual deveria seguir. E então eu li o que estava escrito nas placas dos dois caminhos. A placa do caminho à direita dizia "Água" o outro simplesmente dizia "Volte". Eu estava com sede, então segui o caminho da direita.

O sol cintilava fraco. À medida que eu ia chegando perto de um rio eu ia sentindo mais frio. Abaixei-me para pegar água quando vi a imagem de alguém nela. Eu conhecia aquele rosto, eu tentei me lembrar, mas não vinha em minha mente quem poderia ser. Após tomar água. Eu pensei em retornar por aonde eu vinha, mas o caminho não estava mais ali. Foi aí que comecei a sentir uma dor na minha cabeça. Minha visão parecia que piscava. Uma hora eu via uma luz em um teto, outra hora eu voltava para cá. "Charlie" foi o que eu escutei. Lembrei-me que esse era o meu nome. E diante dessa lembrança, vieram outras lembranças. O atropelamento, o carro, Emily. Eu havia salvado Emily.

Emily Gray, a garota que eu amo. Era ela quem estava chamando meu nome. "Charlie, volta!" Essas palavras se repetiam. Eu queria abrir os olhos para ver o rosto de Emily, mas eu não conseguia. Foi aí que tudo sumiu. Tudo havia ficado escuro.

Escutei alguém chorando. Meus olhos estavam pesados, mas eu consegui os abrir lentamente. Minha visão estava borrada, mas aos poucos eu recuperei o foco.

— Charlie! Oh graças a Deus, Charlie! Doutor ele acordou!

Era minha mãe. Ela enxugava as lágrimas enquanto passava a mão em meus cabelos.

— Mãe? Onde eu estou? — Minha voz soava fraca.

— No hospital, filho. Você foi atropelado ao salvar Emily.

— Eu consegui salvá-la?

— Sim, foi um ato heroico, mas quase que custou a sua vida. Não quero que isso se repita.

— É verdade que ele acordou? — Ouvi a voz de Emily entrando na sala.

— Sim.

— Charlie!

Ela se aproximou de mim e segurou a minha mão.

— Oh Charlie, eu sinto muito.

Alguns médicos acabaram de entrar no quarto. Eles mandaram Emily e minha mãe saírem dali. Eles falaram algo do tipo "Ele precisa descansar". Foi tudo que eu ouvi até pegar no sono.

Acordei no dia seguinte. Alguns raios de sol iluminavam o quarto. Olhei para o lado a tempo de ver uma pessoa entrar pela porta.

— Ei, Como você está garotão?

— Eu vou ficar bem.

— Soube que foi por uma garota. Grande Herói.

— Pensei que iria me dar bronca como a mamãe.

— Você sabe que não. — Ele caminhou até a janela e ficou olhando lá para fora.

— Pai. — Ele se virou para mim. — Você já fez algo parecido, não é?

Ele sorriu.

— Sim.

— E por quem foi?

— Pela mulher que hoje você chama de mãe. — Ele se aproximou e deu um beijo na minha testa.

Você É Minha CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora