3 CAPÍTULO - Canção misteriosa

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Ao sair rapidamente do bar após a minha recém distração, peguei um táxi direto para o meu apartamento. Estava me sentindo estupidamente cansado e exaurido. Porém, sabia muito bem que não era algo físico, era o esgotamento emocional que a vontade de correr atrás daquela maldita mulher me causava. Tanto que, como as outras noites que se seguiram, eu não dormi.

O alarme tocou e eu ainda estava ali, com os olhos abertos e a mesma roupa do dia anterior, tomava o banho e comia apenas pelo bom senso de não acabar morto, corria quase dez quilômetros e treinava ao meu máximo, em uma tentativa de me distrair, mas as coisas só pareciam piorar. Antes de conhecer a Emma passei anos lutando contra o vazio que habitava o meu peito, após algumas situações das quais fui obrigado a passar durante a minha vida e, agora, com a definitiva partida dela, a sensação de estar "oco" voltou. E multiplicada por mil.

Era como se a vida virasse e me oferecesse o dedo do meio, falando um "se fodeu, otário". Não que eu não pudesse superar isso, só é bem mais complicado do quê todas as outras situal. Admiro as mulheres por vários pontos e um deles é a capacidade incrível de se reinventar. Durante a vida, elas passam por diversas decepções amorosas, amores platônicos e idiotas que as usam por seu bel-prazer e, no fim, lá estão elas, lindas e intactas, prontas para oferecessem seu coração novamente e esperançosas para que achem o homem digno que saberá lhe dar o devido valor.

Já nós, homens, não estamos completamente habituados ao amor e quando experimentamos esse sentimento é como se voltássemos à infância e uma caixa de presente fosse aberta. Lá dentro estaria nada mais, nada menos, aquele carrinho da Hot Wells acompanhado com a pistinha de corrida que sempre sonhou em ganhar e os pais sempre negaram pelo simples fato de não estarem dispostos a leiloar um dos rins ou o fígado para pagar a fatura no fim do mês.

O problema é quando a pista se quebra ou os carrinhos se perdem.

Nós não sabemos como agir, não sabemos ficar sem eles, porque era bom demais estar ali. Ficamos perdidos e desolados, pedindo que, por favor, a mamãe nos dê outro. Mas ela não o faz, porque a prioridade é te manter vestido e alimentado. E no meu caso, eu não poderia pedir a minha mãe o amor da Emma de volta.

Primeiro, porque a Emma não me amava mais.

E segundo, pelo simples fato dela estar bem longe daqui.

Então, com esses pensamentos e comparações, segui meu dia. Preenchendo relatórios e digitando requerimentos de material como sempre. Fazia alguns meses que eu não ia, de fato, para um trabalho em campo. E estava gostando dessa monotonia.

— Sr. Keller, um federal fardado está aqui querendo falar com o senhor. — meu mini comunicador soou e eu olhei para cima, analisando o guarda-roupa de expressão séria e um casaco tipo sobretudo preto encarando a minha secretária.

Soltei o ar.

Provavelmente era alguma das burocracias do Governo, documentação e o "blablablá o Projeto Ônix é secreto e a discrição é um das diretrizes mais importantes nesse trabalho", aí eles acrescentam mais alguns "blás".

— Pode deixá-lo entrar, Liza. — resmunguei.

Assim que o gigante apareceu na minha sala, não me dei o trabalho de levantar, apenas bufei, entediado e nem um pouco curioso com aquela visita. Afinal, odiava quando o Governo que me deixou no comando dessa Organização, tentava meter o nariz onde definitivamente não eram necessários.

— O que é?

Ele estendeu um envelope amarelo, sem dizer uma única palavra.

Ótimo, só era o que me faltava, eles mandaram um garoto de recados que fez voto de silêncio. Ainda com uma carranca enfeitando a minha cara, peguei o documento de qualquer jeito, o abrindo com rapidez e quase caindo para trás na mesma velocidade.

AGENTE KELLER - Ao seu dispor.Onde histórias criam vida. Descubra agora