8 CAPÍTULO - Conversa ambígua

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HOJE TEREMOS DOIS CAPÍTULOS DE KELLER! UHUUUUUUUL! E TAMBÉM MAIS UM DE APRENDENDO A AMAR! CORRE LÁ E LÊ!


***

Eu ainda estava meio desnorteado da reunião quando acertei o bar do velho Jullius.

As coisas que a Allyson Jones havia me dito ressoavam como um mantra cruel na minha cabeça, me fazendo questionar o porquê de, quando uma coisa dá errado, tudo resolve seguir o mesmo sentido na sua vida? Eu tinha aberto mão da Emma em prol do meu bem estar, estava sentindo meu coração partido após constatar que ela escolheria sempre o Blake, a Ônix, o projeto que praticamente salvou a minha vida estava passando por uma investigação e, por fim, a Comandante ― por mais bela e encantadoramente linda que fosse — estava decidida a me jogar na sarjeta por coisas que eu não faço mais.

Eu não sou o homem mais inocente ou o bom samaritano que salva o mundo. Fiz coisas das quais me arrependo e outras que eu faria novamente, pois acabariam mudando o rumo da minha história. Mas ambas têm algo em comum: são passado. E eu não pretendo dar uma voltinha por dores e cicatrizes que já se curaram. Não vou pressionar a ferida, pois sei que irá doer.

Uau, quem te atropelou psicologicamente? ― uma voz conhecida soou e eu passei perto de tacar minha cabeça contra a madeira do balcão. Tinha esquecido completamente que a Daiane ficava aqui com o tio. ― Tio, sem bebidas pra esse cara hoje. ― ela impediu Jullius de me passar a dose de whisky, virando-a de uma vez. Uma careta pequena apareceu o rosto e ela soltou um "ah", enquanto remexia os ombros. ―  Essa é um dos bons! Você é o único que o faz tirar o estoque de bebidas caras do cofre. ― resmungou, me fazendo soltar um grunhido baixo.

― Oi, Daiane.

Ela sorriu e pulou para a bancada ao meu lado. Como pude sequer compará-la a Emma? A jovem tinha os fios longos e levemente ondulados, olhos expressivos e levemente claros, sem nem mencionar os lábios carnudos. E não parecia se intimidar com a carranca que eu trajava como uniforme, só balançou as pernas. Sim, ela estava sentada no balcão. Quando eu conheci a Karson, ela era um pouco mais nova e não tinha um terço da confiança que a Chaves esbanjava.

― Por que você está com essa cara de homem perturbado? ― perguntou e eu quis rir da sua ingenuidade. Também quis dizer que eu era sim, um homem perturbado, só sabia disfarçar isso muito bem. ― É como aqueles caras com um passado esquisito que usam jaqueta de couro e olham com as sobrancelhas erguidas parecendo dizer um "e ai, gata... Eu sou um enigma, te desafio a me entender"? ― desatou a falar. ― Odeio esse tipo de cara. E você está parecendo um. Não gosto de enigmas... ― soltou o ar, me encarando. ― Sabe, eles me deixam entediada. Mas você seria um bom enigma, tem uma bunda bonita. ― sorriu e eu escutei Jullius engasgar na cozinha.

Suspirei.

Para quê reclamar? Seria bom conversar com alguém.

― Por que te deixam entediada?

Daiane suspirou e pareceu pensar.

― Geralmente os problemas só são para fazer charminho e nunca são de verdade. ― explicou. ― Sabe, a atmosfera de mistério é legal, mas é ruim quando descobrimos algumas coisas que não queremos ― o olhar dela nublou por alguns segundos, mas logo em seguida, relaxou os ombros e me encarou com as sobrancelhas franzidas. ― Credo, você precisa de alguém, acho que quando sair daqui vai escutar Celine Dion e chorar.

― Está querendo se candidatar? ― provoquei.

A pseudo agente lançou a cabeça para trás, soltando uma risada altíssima.

― Transar com você poderia ser uma boa experiência. ― me encarou, erguendo uma só sobrancelha, os dedos dela saíram da coxa e subiram calmamente até acima do busto, o decote da camiseta era mínimo. ― No entanto... Você precisa me ensinar.

Por que aqui está ficando meio quente?

Ensinar? ― minha voz saiu meio falha por conta da rápida faísca que inflamou o meu desejo. Sabia que aquilo era errado e que eu só estava querendo um pouco de diversão. Mas que mal teria, certo? ― Te ensinar a...

Daiane assentiu.

A lutar. ― sorriu. ― Você só está me fazendo correr e correr, dar socos no vento e me desafiando a te bater ― resmungou, parecendo chateada. ― Isso não é treino, é perca de tempo. ― quis rir da minha burrice em achar que ela iria para cama comigo e pareceu que a decepção ficou estampada na minha cara. ― Alexzinho, você é uma delícia. Mas eu quero ser uma agente, dormir com você é conseguir isso sem me esforçar. ― deu de ombros.

Eu não consegui não rir.

Mesmo com tudo que estava acontecendo àquela garota me arrancou uma risada.

― Quer dizer que você é muito boa de cama? ― perguntei.

Daiane assentiu veemente, quase deslocando o pescoço no processo.

― Muito mesmo. ― bateu palmas para si mesma. ― Eu durmo que é uma beleza, sou ótima ― me lançou um sorriso e eu passei perto de beliscá-la. Aquele pequeno gafanhoto estava tirando sarro com a minha cara! Ela gargalhou, sacudindo as pernas sob o balcão. ― Você devia ver a sua cara de "hum, agora sai uma conversa quente" ― riu, respirando fundo.Tentei não me sentir ofendido, mas sorri. ― Desista. Se eu dormir com você, nunca mais vai me esquecer.

― Acho que isso acontecerá com você ― pisquei. ― Sou Alexander Keller, esqueceu? Deve saber da minha fama de não ser facilmente esquecido por aí. ― ergui apenas uma sobrancelha e estiquei a minha mão, não a coloquei na coxa dela ou algo do tipo, só aproximei e a deixei saber que, se eu quisesse, poderia tê-lo feito. ― Lição 1: Nunca subestime o seu instrutor. ― falei e me surpreendi quando ela pegou minha mão, espalmando sob a coxa desnuda.

Chaves apenas ergueu uma sobrancelha e estalou a língua.

― Aprendi bem?

E desceu do balcão, fazendo minha mão despencar.

Parei por alguns segundos tentando entender aquela confusão e balancei a cabeça. Aquela garota era maluca! Por que eu tinha aceitado treiná-la mesmo? Isso não daria certo! Daiane absorvia tudo muito rápido!

― Amanhã estarei lá. ― comunicou.

― Para aprender? ― minha pergunta claramente tinha vários sentidos.

Ela riu, lavando um dos copos e guardando-o.

― Sim, a lutar ― sorriu, mostrando uma pequena covinha ― Pois em outras coisas, Keller, eu tenho doutorado.  

AGENTE KELLER - Ao seu dispor.Onde histórias criam vida. Descubra agora