Eu tinha engolido cada parcela do meu ínfimo orgulho para ir até o Blake e pedir ajuda. Pois não importava o que acontecesse comigo ou ao meu ego ferido, eu só não queria que as consequências do meu passado com o Dimitri respingassem em pessoas importantes para mim no presente.
Seria bom olhar tudo com uma perspectiva diferente.
Afinal, após tanto tempo na Ônix, a minha mente não trabalhava mais como a do meu velho amigo.
— Em primeiro lugar, se isso envolve a Karson e a outra menina lá... — ele questionou, batendo o lápis na minha mesa, enquanto eu vasculhava o banco de dados, tentando descobrir quem era a maldita comandante e se, como eu suspeitava, ela estava de conluio com o Reth. — Onde elas estão? — Blake poderia ser burro como uma porta, mas até que fez uma pergunta certa.
Abri o sistema, soltando o ar aliviado quando vi o rastreador da Emma apontando para um dos seus apartamentos. Não me alardei tanto com a Daiane, até porque sabia que meu interesse por ela ainda não havia sido descoberto pelo Reth.
O que a deixava fora de perigo por um tempo.
— Quer saber? Quando você resolver parar de cutucar esse computador do Batman aí e falar, eu volto — resmungou, saindo da sala como um furacão.
Revirei os olhos, entendendo o porquê da Emma fugir tanto do Mister Drama.
Tentei reconectar a uma das fichas que a CIA tinha do Dimitri e todo o sistema quase travou com a criptografia que o protegia, um bug gigante de tela azul. E aquilo, com certeza, não era trabalho da agência. A tela transmutou para um fundo com quadradinhos para uma senha de seis números.
E a dica só denunciou quem era o demônio por trás daquilo:
O título dizia um "toc, toc"
O flashback veio rápido, pois quando jovens, eu e Reth tínhamos a mania brega de ficar falando piadas sem graça. Por exemplo, essa clássica. No entanto, seis números nunca poderiam responder essa questão. Ou poderiam...
Essa ficha poderia ter alguma resposta sobre o que ele está tramando...
Seis números...
Minha mente vagou por senhas de cartões, ceps e...
Datas!
Dimitri era obcecado por acontecimentos do nosso passado. Nada mais seria melhor que uma data para representar sua dramática volta, certo? Testei várias combinações, aniversários, datas de ocasiões especiais... E nada.
Eu só tinha mais uma chance.
E...
— ALEX! — um berro do Blake me tirou de concentração e eu bufei.
Provavelmente só era mais uma tentativa dele de me atrapalhar com reclamações ou impertinências clássicas do seu comportamento infantil. Eu só precisava descobrir essa maldita data, então eu teria um documento que o Reth tomou providências de ser impenetrável bem em minhas mãos.
— KELLER, CARALHO! — novamente, ele berrou e um tiro ecoou por todo lugar.
Já ia bufar novamente quando arregalei os olhos, entrando em modo de ataque no momento que conciliei o barulho à situação. Que porra estava acontecendo aqui? Peguei a minha arma, checando se a munição estava completa e sai cautelosamente até a fonte dos berros, a copa.
O corredor estava limpo e os outros agentes pareciam bem tranquilos, no primeiro momento, não compreendi a tranquilidade. Só vi realmente entender quando entrei na copa e dei de cara com a cena mais hilária da face da terra.
— Keller, levanta essa arma! Ele é um dos caras mais procurados em todas as agências, FBI, NSA, Interpol... — Daiane estava praticamente com a arma colada na cabeça de um Blake que segurava um pote de iogurte natural e parecia realmente assustado.
— KELLER, DÁ PRA VOCÊ CONTROLAR ESSA SUA PITBULL? — esperneou, arregalando os olhos.
Mas estava divertido demais pra parar.
A única coisa que fiz foi gargalhar com vontade.
— ABAIXA ESSA ARMA! — ele se remexeu e Daiane engatilhou a arma.
Foi a minha vez de parar.
— Chaves, ele está do nosso lado.
Ela me olhou enviesada.
— Mas ele é um criminoso!
Blake fez careta.
— Um criminoso reabilitado e que, às vezes, faz uns bicos para o Governo. — deu de ombros quando ela, ainda desconfiada, abaixou a arma e ficou nos encarando. — Por que você não avisou aos novos agentes que eu sou o mocinho agora?
— Não me pareceu importante.
Um pigarreio nos despertou.
Daiane estava de braços cruzados e parecendo aguardar uma explicação.
— Não vá pensando que eu vou dar alguma satisfação para você, Srta. Chaves — soltei uma piscadela breve, antes de virar para voltar à minha sala — Afinal, continuo sendo o chefe aqui — eu já estava bem pertinho da porta quando algo atingiu minha cabeça com força. — Porra!
A risada do Gabriel foi sonora e eu nem precisei olhar para trás para saber quem tinha jogado uma maçã enorme em mim.
— Boa mira, espero que saiba usá-la no próximo treino que não virá.
Daiane se exasperou.
— Espera, eu não fiz por mal, você me irrit.. — e bati a porta.
Mas havia um sorriso largo dominando meus lábios.
Porém, logo sumiu quando dei de cara com a telinha do enigma maligno do Reth.
Seis números, seis números...
Blake entrou novamente, saboreando o iogurte.
— Ah, você sabe que faltam poucos meses para o aniversário das crianç...
Arregalei os olhos, sentindo a resposta vir como uma avalanche em minha mente.
— UMA DATA! — berrei, me lançando pra frente no computador. A data que mais marcou a nossa amizade, a data que outra pessoa "interferiu" e me fez enxergar a realidade. — 22 de Dezembro de 2009.
Ele me olhou com a testa enrugada.
— Que data é essa?
Digitei número por número, apertando enter no fim.
A pasta enorme se descriptografou.
— A data em que a sua mulher se tornou a melhor agente desse lugar e... — os corpos ensanguentados nas evidências e a foto de uma ficha criminal de alguém, tudo era como um flashback horrendo voltando a tona...
Blake pareceu prender o ar atrás de mim.
— Esse é...
Assenti.
— Sou eu — encarei meu passado de frente — E essa é a minha ficha criminal.
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AGENTE KELLER - Ao seu dispor.
ChickLitSpin Off dos livros - 7 PRAZERES CAPITAIS e O SABOR DOS SEUS LÁBIOS. Para entender esse livro, precisará ter lido 7 Prazeres Capitais! UM CORAÇÃO DESACREDITADO NO AMOR PODE BATER NOVAMENTE? EM BUSCA DA SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, O Encarregado Chefe e A...