Clima

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POV Mona
O que devo vestir para uma obrigação social? Quando somos obrigados pela nossa consciência de irmã gêmea a acompanhar o irmão até um lugar cheio de gente suada e bêbada só assegurando que ele não faça nenhuma besteira, se encaixa perfeitamente na obrigação social. Eu realmente não faço ideia de qual roupa eu devo vestir para esse tipo de situação, quero algo que diga “Não queria estar aqui então nem me venha com essas gracinhas” ou algo que me deixe invisível a olhos indesejados.
Por fim, escolho um vestido preto com mangas de renda que bate acima de meus joelhos. Bem simples, mas modela bem meu corpo. Olho para todas caixas bagunçadas e suspiro pensando quando irei desarrumar toda essa mudança. Vasculho outra caixa até achar qualquer sapato que combine com a porcaria do vestido. Acho um salto agulha não tão alto, mas nem tão baixo. Tento procurar alguma coisa que me deixe mais confortável, mas desisto depois de encontrar pantufas e tênis surrados. Suspiro e começo a colocar as sandálias salto agulha mesmo.
-Você vai se arrepender de usar isso mais tarde. – olho para porta e vejo meu irmão gêmeo vestindo uma camisa xadrez vermelha e seu cabelo está em um topete bagunçado.
-Não acho outra coisa. –dou de ombros enquanto prendo a tira da sandália. Ele se senta no colchão ao meu lado e solto um suspiro alto. –Eu não quero ir, Mike.
-Por que?
-Eu odeio balada, detesto. Isso é com você! Você é o gêmeo sociável! –faço bico e pisco os olhos manhosamente. -Prefiro ficar assistindo séries. –termino de calçar por completo os sapatos e levanto arrumando a saia do vestido. Meu irmão se levanta e pega minha mão dando um sorriso solidário.
-Grey’s Anatomy não vai te dar nenhum amigo em NY. –Michael ri baixo enquanto pega minha mão para me conduzir.
-Ah, uma boate! Ótimo lugar para fazer amizades, hein? –digo sarcasticamente. –Aproposito, já tenho um amigo.
-Ah é? E quem seria? –meu irmão pergunta interessado ainda me guiando sutilmente para fora do quarto.
-Jerry, o porteiro. –  dou um sorriso orgulhoso e cruzo os braços me livrando de sua mão.
-Bem, Jerry o porteiro parece ser um coroa bacana. Mas duvido que tenha sido ele o motivo de eu encobrir você no almoço. –ele arqueia um sobrancelha. Droga, ele já sabe que estou escondendo alguém. Nunca consigo esconder nada dele! Vou até a porta e a fecho.
-Tá. Eu falo. –jogo os braços no ar me rendendo.
-Trabalho com nomes.
-Zack. –sorrio ao dizer o nome dele. –Ele estuda na nossa escola.
-Como você sabe? –ah não, o tom do Michael é de irmão protetor. Quando esse tom de voz está presente na nossa conversa, pode esquecer o irmão amigo.
-Ele me mostrou a carteirinha dele.
-Vocês ficaram? –meu irmão se coloca de pé e adota um expressão séria.
-Não. Ainda não. –sorrio para mim mesma.
-Mona!
-Que foi?
-Argh, você é minha irmãzinha! Não quero pensar nisso! –ele faz cara de nojo.
-Michael, não sou sua irmãzinha, somos gêmeos! –pego a mão de meu irmão e dou uma risada com sua expressão.
-Eu sou um minuto mais velho! Nem vem. – sua expressão passa de nojo para protetor. –Quero falar com esse garoto.
-Não! Sem chances!
-Vou sim, Mona. Já não gosto desse garoto! –toda vez que começo a sair com algum garoto Michael faz o mesmo velho drama de irmão mais velho super protetor. É como se ele assumisse o papel de pai da família desde que papai nos deixou.  Sempre achei que Michael carrega responsabilidades demais sozinho, mas acho que ele vai ser sempre assim; a pessoa que vai ser meu protetor em toda essa jornada louca que é minha vida. As vezes eu penso como seria se não fossemos gêmeos e logo um sentimento de solidão invade meu coração. Ouço sempre as pessoas dizendo que todos nascemos sozinhos e vamos morrer sozinhos, mas eu não estava sozinha. Nunca estive. Sempre tive Michael na minha vida e ele sempre me teve, não nascemos sozinhos, nascemos juntos e tenho quase certeza que se um morrer o outro também morre.  Não me sinto sozinha nunca, porque eu realmente não estou. 
–Sério, Mona. Já sei que não vou engolir esse garoto! –Michael me arranca de meus pensamentos.
-Que garoto? –Me viro em direção da porta e vejo Thomas entrando no meu quarto. Ele está tão... bonito. Está vestindo uma jaqueta de couro (espero mesmo que seja couro sintético) com uma camiseta de botões por baixo, está usando uma calça jeans rasgada e nos pés está com um coturno preto. Assim que seu olhar cruza com o meu ele o fixa no meu busto e desce fazendo uma análise em meu visual e tenho quase certeza que ele odiou muito porque não para de encarar sem fazer nenhum comentário maldoso.
-Ei! –Michael diz e logo em seguida começa a vasculhar uma das minhas caixas. –Veste isso, mana. –ele joga uma camiseta com um arco-iris que geralmente eu uso de pijama.
-Sem chance, Michael! Eu odeio quando você tem essas atitudes machistas e se sente no direito de dizer o que eu vou vestir! –jogo a camiseta de volta pra ele.
-É Michael, deixa ela. –Thomas diz de forma maliciosa.
-Olha, você fica na sua. –aponto para cara do garoto.
-Calma ai, enfezadinha. –o garoto revira os olhos em desdém. –Vamos logo, vocês são muito enrolados! –Thomas sai do quarto pisando duro.
-Vamos, maninho. –digo dando um suspiro e puxando Michael pela mão.

O Irmão Postiço (Thomas Sangster)Onde histórias criam vida. Descubra agora