Prólogo-A Grande Mudança.

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POV Mona

É incrível como somos capazes de acumular tantas coisas sendo que depois de um tempo nem sabíamos que tínhamos posse. Quando vasculhamos nossa gavetas e achamos várias coisas que mal sabíamos que estávamos guardando como bilhetes de amigas, números de telefones que jamais foram discados, cadernos antigos, canetas em ótimos estado e até mesmo lembranças de pessoas que já se foram, como uma foto de meu pai que foi banida a muito tempo dessa casa.

-Querida, já terminou com essa gaveta ? –a doce voz da minha mãe ecoou em meus ouvidos enquanto eu guardava todas essas tranqueiras em uma caixa. Estavamos encaixotando tudo para a grande mudança.

-Quase lá. –disse encarando a foto de meu pai, ele estava cuidando dos cavalos, ele parecia ser quase uma boa pessoa, enfiei a foto em minha bolsa antes que mamãe visse. É difícil me despedir do interior, minha vida toda esta aqui, principalmente as lembranças.

-Vruuuuuuuuuuuum...Cuidado Mona, meu avião vai detonar sua caixa. –disse o meu irmão mais novo de 7 anos que segurava seu aviãozinho de brinquedo que colidiu com a caixa que estava no meu colo a fazendo cair no chão.

-Henry ! Sorte sua que não tinha nada quebrável nessa caixa, recolha tudo! –disse tentando fazer uma voz autoritária.

-Vai com calma, maninha. O garoto só esta animado com a mudança ! –disse meu irmão gêmeo Michael enquanto pegava as pernas de Henry  as levantando o deixando de ponta cabeça.

-Meninos ! Parem com essa bagunça e ajudem a mim e a Mona a fazer essa mudança ! –disse minha mãe e ao contrario de mim sua voz surgiu efeito. Henry começou a recolher as coisas que espalhou pelo chão, Michael começou a se concentrar em uma gaveta de talheres e eu fui ajuda-lo.

-Não quero ir para NY. Não quero ir para a porcaria de um apartamento e  não quero que a porcaria daquele cara faça parte da nossa família. –murmurei alto o bastante para que Michael ouvisse.

-Não esqueça da porcaria de filho mais velho. –murmurou ele de volta.

-Do que esta falando ?-perguntei arqueando uma sobrancelha.

-Você vai ver, ouvi mamãe no telefone com o Brian. –Brian era o cara com quem minha mãe começou um relacionamento faz uns dois anos  quando ela foi a NY em procura de um emprego, mas em vez de emprego voltou com um namorado babaca e agora eles decidiram juntar os trapos e todos nós vamos morar em NY e deixar o campo. –Mamãe acha que esta na hora dela contar do nosso, abre aspas, novo barra antigo “irmãozão”. –disse ele fazendo aspas com o dedo.

-O que isso quer dizer ?

-Provavelmente não vamos dividir o teto apenas com o Brian. – disse ele me fazendo engolir seco e soltar um suspiro.

-Ei, não fique apreensiva. Não tem motivo. Sou seu irmão, vamos passar por isso juntos. Estamos juntos nessa. –disse Michael passando os braços no meu ombro. Eu amava meus irmãos, eles eram parte de mim. Michael mais que ninguém sabia que eu tenho medo de mudanças.

-Queridos, parem um pouco. –disse minha mãe nos fazendo parar e encara-la.

-Ufa.. não aguentava mais ! –disse Henry se jogando no tapete.

-Tenho que falar algo com vocês. –disse minha mãe sentando no braço do sofá. –Queridos, lembram-se que Brian é divorciado, certo ? –assentimos com a cabeça. –Bem, uma coisa que vocês não sabem é que ele tem um filho da idade de vocês. –disse mamãe apontando para nós. -Ele é um garoto legal ! O nome dele é Thomas. -disse ela dando um sorriso. O fato dela já o conhecer me deixava irritada.

-E por que nunca conhecemos ele ? –perguntou Henry tirando as palavras da minha boca.

-Porque até um ano atrás ele não morava com Brian, morava com a mãe dele. E ele estava passando por problemas por isso Brian não achou adequado traze-los nos nossos jantares de família. –as vezes Brian vinha jantar aqui em casa o que mamãe chamava de jantares familiares. Como morávamos no Texas é um pouco longe de NY minha mãe as vezes ia pra NY sozinha, passava umas semanas com Brian e nós nos virávamos como podíamos aqui. As vezes Brian vinha ficar algumas semanas, mas nem eu nem meus irmãos chegamos a ir pra NY.

-Que tipo de problemas ? –perguntou Michael.

-Bem Michael, acho que isso não é da nossa conta. –disse mamãe um tanto nervosa.

-Achei que não tinha segredos na família, mas eu estava certa, eles não são nossa família. Jamais serão. –disse dando atenção novamente aos talheres, mas logo me arrependi de ter falado.

-Mona, você podia ser um pouco mais compreensível. –disse minha mãe com a voz embriagada.

-Não, mãe. Você precisa ser um pouco mais compreensível ! –disse aumentando o tom de voz. –Você esta nos fazendo nos mudar do Texas e nos fazendo ir para um lugar totalmente diferente por um cara que você ve na maioria das vezes por Skype ! O que você quer mãe ? Dar um novo pai para nós ? Esse cara nunca vai substituir nosso pai! –nesse momento todos ficamos em silencio, pois eu disse algo proibido, algo que foi banido a muito tempo que quase virou um pecado ser mencionado: pai.

-Mona, vai pro seu quarto, você já ajudou demais por hoje. –disse minha mãe ainda com a voz embriagada mas ao mesmo tempo irritada. Dei um suspiro longo e fui para meu quarto, o clima estava muito pesado.

Um tempo depois eu ainda estava deitada no colchão do meu quarto, afinal a cama estava desmontada para a mudança, quando de repente ouvi alguém batendo na porta.

-Vai embora, mãe.

-Não é a mamãe. –disse Michael abrindo a porta e entrando no meu quarto.

-Eu deixei entrar ? –disse em tom de brincadeira, ele me olhou arqueando a sobrancelha. –Saia e peça de um jeitinho educado. –ele revirou os olhos e murmurou:

-Isso que da querer ser legal com a irmã. –o mesmo saiu do quarto e bateu na porta.

-Quem é ?

-Seu irmão favorito. –pude sentir sua voz com tom irônico.

-Pode entrar, Henry. Quando foi que sua voz engrossou ? –disse em tom de brincadeira.

-Tá, vamos tentar de novo. Seu irmão gêmeo favorito. –senti seus olhos se revirando do outro lado da porta.

-Pode entrar Michael.

-Olá irmãzinha ! –disse meu irmão com um sorriso sínico se jogando em cima de mim.

-Sai de cima de mim seu tonto! –disse o empurrando o fazendo cair pro lado. Enquanto o mesmo ria e ajeitava seus óculos ele se sentou no colchão e eu me levantei e sentei ao seu lado.

-Você anda muito rebelde, Mona. –disse ele com um tom mais sério.

-Parece até a mamãe quando teve uma conversa conosco logo depois que fizemos  a tatuagem. –eu e meu irmão havíamos feito  tatuagens iguais nas costas onde tinha uma frase “Always Connected” e em baixo  tem quatro pássaros, que significavam nós quatros (eu, minha mãe e meus irmãos ). Já havíamos falado para Henry que quando ele tivesse idade ele faria uma igual ele ficou animado já minha mãe não gostou da ideia. Ficamos de castigo por um bom tempo, apesar que la no fundo ela era grata pela união da nossa família depois de tudo que passamos.

-Bem, mas o que eu quero dizer é que você devia ficar feliz pela mamãe. Ela voltou a amar outra pessoa e isso é bom. –disse ele me abraçando de lado.

-O que você quer realmente dizer é que eu não devia ter mencionado o papai. –disse fitando meus pés.

-Bom..isso também, acho que de todos nós foi ela quem mais sofreu com ele.- Michael suspirou olhando para um ponto fixo.

-Eu me arrependi do que eu disse. Acontece que foi difícil pra mim também. É difícil deixar tudo aqui. –disse com a voz embriagada.

  -Eu sei minha irmã, eu sei. –disse Michael me abraçando e beijando o topo da minha cabeça, queria chorar, mas não tinha motivo. Uma vida nova iria começar. Isso é bom certo ?

-Vai dar tudo certo, vou ficar bem. –forcei um sorriso.

-Para de mentir pra mim, não sou a mãe pra você ficar escondendo os sentimento. –disse ele me empurrando.

-Você sabe quais são meus sentimentos. –Michael assentiu em concordância.

-Mas você sabe. –ele fez uma pausa para apontar para  sua costa onde a tatuagem estava. –Sempre vou estar aqui.

-Eu sei Mike, obrigada. –disse o abraçando.

Eu sabia que iria começar mais um dos difíceis capítulos do livro que eu chamo de Vida. Mas eu teria que enfrentar. Pela minha mãe, pelo Michael, pelo Henry e por mim.

O Irmão Postiço (Thomas Sangster)Onde histórias criam vida. Descubra agora