POV Mona
-Mamãe, olha o desenho que eu fiz! -tenho oito anos de novo, estou nas pontas dos pés tentando mostrar o desenho incrível que eu fiz de Jack, o gato da vizinha. Mas minha mãe parece nervosa, ela esta cortando a cenoura com uma expressão de preocupação.
-Agora não, querida. O seu pai vai chegar e mal comecei a fazer o jantar. -ela faz uma pausa e olha para o relógio da parede -Ai meu Deus, já são 20:30. Filha, pegue as alfaces na geladeira.-ela da um suspiro assustado e volta a olhar para mim.-Por favor -eu corro em direção da geladeira, de repente eu escuto um barulho na porta da frente. -Ah não! Ele chegou! Michael!! Venha ajudar a mim e a sua irmã, rápido!
-Jane, estou faminto. O que tem de janta? -um homem, que eu sei quem é, entra na cozinha, porém não consigo enxergar o rosto do homem, só um sombreado preto. Ele parece ser enorme, muito grande.
-Esta quase pronto, meu amor. -Minha mãe esta com a voz tremula.
-Como assim quase? Jane, estou com fome!-a voz dele estava alta e agressiva, assustadora.
-Tenha calma...
-Não me peça para ter calma!- ele deu um passo em direção a minha mãe e a mesma se encolheu, neste instante Michael entra na cozinha. Eu estava lá, mas me sentia como parte do cenário, eu estava assustada, imóvel e em choque. -Eu vou sair com meus amigos, você é uma inútil, Jane.
-Por favor, não beba. -minha mãe disse ainda encolhida.
-O que disse? Quer me dizer o que devo fazer?-ele agarra com força o pulso de minha mãe, nesse momento Michael corre na direção dos dois e empurra o homem de uma forma inútil.
-Está a machucando! -ele gritou.
-Saia da minha frente, garoto! -o homem solta mamãe e empurra meu irmão para longe. Nesse momento eu ouço um barulho, o barulho de meu irmão sendo arremessado contra a geladeira.
Levanto a cabeça do travesseiro assustada, foi apenas um sonho. Na verdade, uma lembrança. Estou respirando freneticamente, sinto que meu coração vai explodir. Preciso do meu irmão, preciso ir ao quarto dele. Sempre que temos um sonho ruim dormimos juntos, é uma forma de filtrar as negatividades que nossa própria mente produz. Levanto do colchão e caminho até a porta de meu novo quarto, afim de correr até a cama do meu irmão e me aconchegar a algo familiar até o medo passar. Porém quando eu abri a porta um corpo cai no chão.
-Ai! Porra.-É Thomas! Ele esta esfregando a nuca, mas continua deitado no chão.
-O que diabos você esta fazendo? -pergunto cruzando os braços sob meu peito.
-Visitinha da madruga, gracinha. -ele esta embolando as palavras, esta claramente bêbado. Essa não. Olho as horas no meu celular e são 5:30 da manhã, logo vai amanhecer, a quanto tempo ele estava ali?
-Tanto faz. Vou chamar o seu pai pra te ajudar. -pulo o garoto deitado e vou para o corredor.
-Não! -Thomas se senta em um relance. -Não chama esse cara, pelo amor.
-Mas...
-Por favor, Mona. -ele me suplicou, aquele tom de voz era a maneira mais gentil que ele havia falado comigo desde que nos conhecemos. Seus olhos me suplicavam com toda sinceridade do mundo para que eu não chamasse o pai dele.
-Tudo bem. -me rendi enquanto revirava os olhos. -Mas você vai pra cama, mocinho!
-Essa frase é realmente intrigante saindo da sua boca.-Ótimo, o Thomas babaca voltou.
-Posso chamar o Brian agora mes...
-Não! Desculpa, eu quis dizer...é...me desculpa. -Cada vez mais ele se embolava com suas palavras.
-Desculpas aceitas. Agora é hora de dormir.-Me agacho até a altura do mesmo e passo meu braço pelas suas costas e o ajudo a levantar com um impulso. Vou caminhando com ele até seu quarto, quando paramos em frente a porta ele diz:
-Ninguém entra no meu quarto! Só se...- ele me olhou com olhar malicioso.
-Posso te deixar aqui mesmo então. -digo em tom de ameaça.
-Não, graxinha.-Ele se aproximou com aquele hálito horrível de bebida. Nossos rostos estavam próximos, muito próximos. Eu encarei os grandes olhos castanhos dele e ele me encarou de volta. Ficamos assim um tempo, apenas fitando um ao outro. Por que um garoto bonito que tem tudo do bom e melhor esta nesse estado? O que o leva a ser assim? Foi inevitável me lembrar dele, meu pai. Expulsei esses pensamentos da minha mente e abri a porta do quarto de meu irmão postiço. Tinha algumas coisas no chão e fui chutando de leve, até chegar a cama. Quando Thomas viu a cama, ele simplesmente se jogou e me levou junto. Seu corpo estava em cima do meu e eu não conseguia me mexer, ele esta de olhos fechados e estava desengonçadamente em cima de mim.
-Thomas. -sussurrei, mas não obtive respostas. Simplesmente o empurrei para o lado e rolou para o outro lado da cama queen. Pulei para fora da cama e dei uma boa respirada. Observei o quarto do garoto com mais atenção, não era do jeito que eu imaginava. Tinham tantos...livros. Tinham vários desenhos presos na parede, um que mais chamou a minha atenção era de uma garota, ela estava nua e olhava para baixo segurando algumas flores, é tão...lindo. Será que ele que desenhou? Eu estava com tanta vontade de ver tudo, de repente uma curiosidade surgiu dentro de mim. Mas precisava do meu gêmeo aquele momento, queria meu irmão e abraça-lo como se o mesmo fosse um amuleto que espanta todas coisas ruins. Fui em direção a porta, mas a voz de Thomas me impediu.
-Não.
-Não vou falar para o Brian, fica tranquilo. -disse abrindo a porta.
-Não, não é isso não.-Ele abriu levemente os olhos. -Não vai, fica.
- O que?- aquilo me pegou de surpresa.
-Fica, por favor. -ele disse de modo sereno.
-Aqui? Com você?
-É, por favor, Leila. -Leila? Aquilo estava ficando interessante. -Mona...-Thomas corrigiu de modo lento.
-Acho melhor não. -digo fitando meus pés.
-Você não está bem. -Thomas diz abafando a voz no travesseiro. Quem ele pensa que é para achar que eu estou ou não bem.
-O que..
-Eu sei que você não ta. Eu também não to. -ele volta a abrir os olhos para me encarar. -Tudo bem, vai. Não me importo. -Ele virou o corpo na cama, afim de parar de me encarar. Aquilo me deu...pena.
-Tudo bem, eu fico até você dormir. -digo me rendendo.
-Mesmo? -Thomas voltou a se virar para meu lado.
-Mesmo. -me aproximo de sua cama e pego a cadeira na escrivaninha e sento.
-Ei, pode vir dormir. Você ta cansada. -Thomas me encara com seriedade.
-Estou bem. -minto.
-Não esta. -Não estou. -Deita logo, eu não mordo. Só se pedir.- ele volta a falar com um tom malicioso na voz. Eu fico em silêncio, torcendo para que ele simplesmente desista dessa ideia. Porém não aconteceu. -Tudo bem...-Thomas diz de modo sarcástico. O mesmo pega alguns travesseiros que estavam no chão e colocam no meio da cama, fazendo uma espécie de barreira. -Pronto, agora você vai estar bem longe da minha pessoa, feliz? -diz ele ironicamente. Estou muito cansada para pensar e estou com pena de Thomas, então simplesmente me rendo que deito do outro lado da barreira de travesseiros.
-Boa noite, Mona. -ele finalmente diz, satisfeito com sua pequena vitória em me convencer.
-Boa noite, Thomas. -respondo. Alguns minutos depois eu ouço um sussurro bem próximo ao meu ouvido:
-Obrigado.
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O Irmão Postiço (Thomas Sangster)
FanficApós um passado que prefere esquecer, Mona se muda para New York com a mãe e os irmãos para a casa do novo padrasto. Mas a garota não consegue engolir a personalidade forte do filho de seu padrasto, Thomas. Por mais que ambos tenham diversos conflit...