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Violet cansou de tanto girar no mesmo lugar, com o lençol sobre a cabeça. Aquela era uma das muitas formas que ela arranjou para passar o enfadonho tempo. Brincar sozinha.

 Girou e girou, até suas costas baterem na parede de ripas de madeira. Caiu sentada ao chão, pondo as mãos sobre a cabeça, muito zonza. Então, percebeu a bagunça que fizera, quando chocou-se contra a parede. Havia derrubado uma prateleira com latas de ervilha e milho verde, seus suprimentos. Aprontou-se em recolhê-las pelo chão, quando, subitamente, seus olhos focaram-se em um livro bastante misterioso. 

Verdade que seu chalé era uma bagunça, mas, ora, ela tinha lido todos os livros ali haviam, mas aquele, com capa de couro na cor vinho, era demasiado estranho. Pegou o livro, um tanto desconfiada, e sentando-se no chão, pondo seu ursinho de pelúcia ao seu lado, Violet se dispôs a desvendar as palavras que ali haviam. 

Livro Sagrado. Esse era o título daquele exemplar desconhecido por ela. Folheou-o, monotonamente, enquanto a chuva não demorava-se a passar. Depois de algum tempo, viu-se extremamente ávida para saber mais e mais sobre o que aquele livro tinha a lhe oferecer. Folheava-o com instigante curiosidade.

Achou o livro intrigante. Cada palavra que aprendia, de alguma forma, complementava o vazio que predominava seu juvenil coração. A história que mais lhe chamara a atenção naquele livro, foi a de um homem chamado Jesus. 

A garota sentiu as lágrimas molharem o rosto outra vez, quando leu o capítulo em que Ele havia morrido pelos pecados da humanidade. Morto em uma cruz.

Porém, ainda assim, a sua morte não fora para trazer tristeza, mas alegria. Havia se sacrificado para trazer a salvação. Morreu por Amor. Morreu para salvar aqueles que não conseguiam ser salvos. Havia morrido por ela.

Os pecadores remidos por seu sangue carmesim.

A garota por fim compreendera. De súbito, podia vislumbrar uma solução no fim do seu túnel escuro e longo da qual ela transitava. Pôs as mãos sobre o peito pueril. Almejava conhecê-lo. Desejava que Ele sarasse suas feridas.

Ele veio para sarar os enfermos. Ele veio para os perdidos.

Como ela.

Sentia que Ele a chamava. Tudo ficaria bem. Ela acreditava nEle. Ela desejava sentir o seu Amor.

 Escutou uma doce e serena voz achegar-se ao seu coração: — Vinde a Mim, todos os que estais cansados, e eu vos aliviarei.

O mundo já não era mais cinza e nem mais desabitado. A melancolia havia se desvanecido. Outra criatura, a garota esperava ser. Deu passadas vagarosas até a porta do chalé e repousando a mão na maçaneta enferrujada, demorou-se a abri-la.

— Preencha o vazio que há em meu coração — dissera Violet, com os olhos transbordando lágrimas. — Faça-me sentir o Teu Amor. Toma a minha vida em Tuas mãos.

A fé era como uma frágil semente, que precisava de boa terra, água e paciência, e com o tempo, daria frutos e flores. E Violet acreditou nisso.

Abriu a porta e uma luz majestosa invadiu o chalé, dominou o mundo, cobriu os céus de cores.

O vazio se foi. 

A tristeza partiu.

 Ela não estava só.

Doce CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora