A Pecadora e o Pastor

O Almoço

No dia do almoço confesso que fiquei um pouco nervosa, mas era só um almoço, ele não devia querer nada demais, afinal, não tínhamos nada a ver juntos. Ele me levou num restaurante italiano, e ainda pediu para colocar uma música, Imbranato do Tiziano Ferro, eu tenho um pouco de noção de italiano, e já conhecia aquela letra, confesso que fiquei com vergonha, pois era o primeiro encontro, e a musica falava sobre um homem apaixonado por uma mulher que ele fazia sexo casual, mas a gente ainda não tinha nem se beijando. Ele pegou a minha mão, ficou me encarando e eu só pensava em pular a janela, mas antes queria terminar de comer a minha lasanha.

Quando estávamos indo em direção ao estacionamento, ele perguntou se eu havia gostado do almoço, eu respondi que estava perfeito, então ele disse:

-Para ficar perfeito ainda falta uma coisa.

Antes que eu pensasse que faltou a sobremesa, ele me puxou pela cintura e me beijou. Pior que eu gostei do beijo dele.

A sobremesa foi numa sorveteria, próxima a uma represa, onde ele parou o carro e nos beijamos. Na volta para casa ele comentou que o meu beijo deixou ele no céu, e perguntou se o beijo dele fez o mesmo comigo, demorei para responder porque não poderia responder o que eu realmente achei, quando acenei com a cabeça que sim ele disse que eu pensei demais. Eu disse que tinha ficado com vergonha, realmente eu fiquei mas não foi da pergunta, foi da resposta que eu dei em pensamento: 

o beijo dele me deixou mais perto do inferno do que do céu.

Eu estava tão acostumada a transar no primeiro encontro, que achei estranho voltar sem sexo, e já estava há uma eternidade, quase dois meses. E numa conversa anterior que tivemos ele disse que não iriamos ter relações antes do casamento, concordei, mas tive que perguntar, por ele ter nascido em família evangélica e frequenta desde bebe, eu não me contive e perguntei se ele era virgem, a resposta eu já imaginei, não era, foi um alívio saber disso, ele me contou que teve uma época quando morava em outro país que se afastou da igreja, e que perdeu a virgindade com uma prostituta, e pelos meus cálculos ele deve ter perdido entre 25 e 30 anos. E posteriormente descobri na prática que ele não tinha muita experiência na cama e menos ainda em lidar com uma mulher.

Trocamos mensagens durante a noite, e não pude deixar de falar o que eu pensava, nós não tínhamos nada a ver, ele era pastor de igreja pentecostal, dessas que tem costumes antigos, inclusive antes de Cristo, não quero entrar na parte de religião, mas muitas coisas na bíblia são culturais e é preciso estudar para interpretar. Enfim, ele pregava muito doutrinas de roupas, não era permitido pintar cabelo, nem cortar cabelo, não podia usar maquiagem, nem adornos tais como brincos, anéis, pulseiras, não podia pintar as unhas, nem usar calças, nem roupas curtas, decotadas, eles falavam até que era pecado fazer uma depilação, coisa que pra mim é fundamental e faz parte da higiene. Achei estranho ele buscar uma mulher que não se encaixava no padrão dele, na verdade achei hipocrisia, apesar que ninguém manda no coração.

Alertei que as velhas fofoqueiras da igreja dele iriam fazer comentários do tipo:

-Nossa, olha só o pastor R. namorando uma aquela menina. Misericórdia, ele foi seduzido pela Pomba Gira de cabelos vermelhos. Logo ele se afasta da igreja por causa dela.

Eu conheço esse tipo de igreja desde criança, tem muita mulher mal amada e mal resolvida que frequenta, e adoram uma fofoca e uma intriga. Ele disse que ninguém seria louco de fazer um comentário desse pra ele, e que estava preparado se acontecesse. Se ele não se importa, eu menos ainda.

Naquela noite eu fui dormir imaginando como seria fazer amor com ele, se ele era romântico, se tinha pegada, se fazia loucuras na cama, se tinha fetiches, se fodia com força, se gozava duas vezes e continuava duro. Pobre criança iludida, cheia de expectativas.