Desventuras em Série

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Sinto uma sensação estranha, estranhamente ruim. Onde estou? Está frio e úmido, meus dedos dos pés estão dormentes e meus olhos cansados demais para sequer cogitar na possibilidade de abrir.

Abraço meu corpo para tentar me aquecer do frio, porém, um barulho assustador vindo lá debaixo me acorda, espantando qualquer resquício de sono que eu tinha.

A maldita mansão.

As lembranças da conversa da noite passada com o Slender vem em minha mente me fazendo revirar os olhos e levantar do meu adorado cantinho, ou pelo menos tentar levantar, pois minhas pernas fraquejam e eu caio de bunda no chão.

Preciso urgentemente de um café da manhã reforçado. Já tem quantas horas que não como nada? Pelo que eu me lembro minha última refeição foi o almoço de ontem no manicômio, e aquela corrida pela mata sem dúvidas nenhuma desgastou boa parte da minha energia.

Levanto do chão novamente e solto um longo suspiro. Tenho que aprender a me virar sozinho, a partir de hoje não terá nem mais aquela sopa rala do manicômio para me sustentar, e com certeza o Slender não virá bancar uma de babá todos os dias.

Sacudo a poeira da roupa e encaro a portinha de ferro. É agora ou nunca. Abro a grade da passagem e entro no espaço minúsculo, rastejando para seja lá onde for. Afinal de contas, uma hora ou outra eu terei que encontrar a cozinha, não é mesmo? E quando eu encontrar meu amigo...não sobrará nem migalhas.

                                                                                                                       

(...)

Enquanto eu engatinhava pelos dutos de ar tentando ser o mais silencioso possível, pude perceber com mais clareza o que eram aqueles sons estranhos que me acordaram hoje cedo. Risadas, mas não qualquer tipo de risada, eram finas e agudas, que proporcionavam um frio insuportável e arrepios por todo o corpo.

E aqui estou eu, a menos de 1 metro de distância de alguma saída de ar, que provavelmente é de algum cômodo muito movimentado, pois percebo através dela, vozes, passos e principalmente aquela gargalhada sinistra que faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.

_Ok, Johnny mantenha a calma, eles não podem te ver, eles não podem te ver. –Sussurro comigo mesmo, enquanto passo pela portinha de ferro. Eu não queria olhar, eu juro que não queria, mas a curiosidade foi maior. Eu olhei através das grades da pequena saída de ar, e me arrependi no mesmo instante.

A visão mais horrível que eu já vi. Sangue por todos os lados manchando a parede e o chão de vermelho. E sem falar nas criaturas completamente grotescas que estavam espalhadas pelo que eu supus ser a sala de estar. Havia um homem de moletom amarelo com uma máscara preta, que estava perfurando o chão com um cutelo meio rachado, sua maneira desleixada de se sentar expressava todo o seu tédio, e ao seu lado tinha outro homem, só que esse usava alguma coisa na boca e rodava incessantemente dois machadinhos em suas mãos, sem receio algum de ferir alguém próximo.

Também havia outro garoto que aparentava ter uns 15 anos jogando videogame no chão. Bom, eu o julgaria normal se não fosse pelo fato de sua roupa estranha de gnomo estar completamente suja e rasgada, ou os seus olhos negros de íris vermelhas que não paravam de escorrer sangue estivessem arregalados fitando o nada.

_Hoodie, você sabe para onde o Slender foi ontem à noite? – Ouço o garoto que rodava os machados perguntar, se espreguiçando e apoiando os pés na mesinha de centro em seguida.

_Eu deveria? – O outro esquisitão com a máscara negra responde de maneira fria.

_ Claro que sim! Ontem você ficou na porta da saída o dia todo, esperando aquela vadia da Clockwork voltar. – O carinha dos machados provoca cínico, fazendo com que o tal do Hoodie parasse de perfurar o chão e o encarasse por trás da máscara. Porém, antes mesmo que o outro pudesse voltar a zombar, um cutelo passa de raspão por sua cabeça, ficando agarrada no encosto do sofá em que ele estava sentado.

The Little Killer - O Filho de Jeff The KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora