A Descoberta

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_ Só mais um pouquinho... E pronto! – Digo me olhando desgostoso pelo espelho.

Será que sou uma criança bonita?

Molho um pouco o cabelo, passo o pente pela centésima vez nas madeixas, tiro a sujeira de minhas orelhas e me encaro novamente.

_Definitivamente não... – Sussurro conformado.

Nunca liguei para essa coisa de aparência. Afinal, nunca me achei bonito... E as pessoas que passavam pelo orfanato faziam questão de me lembrar disso toda vez que dirigiam seus olhares de repugnância para mim.

Isso nunca me incomodou, até hoje.

Por algum motivo idiota eu quero muito estar bonito. E eu sei muito bem que motivo é esse... Começa com J e termina com idiota.

Suspiro um pouco e aperto a pia suja do banheiro, me dando conta do motivo de todo o meu alarde.

Estão me aceitando como parte do grupo...

É, eu sei. Estou sendo um completo hipócrita. Mas no fundo mesmo eu sempre quis a total e inegável aceitação deles. E agora que eu possuo... Nada melhor do que aproveita-la enchendo a barriga no jantar.

Aspiro o ar com força tentando sentir apenas uma prévia do que será servido, porém, surpreendo-me ao notar apenas o cheiro típico de sangue e mofo.

Não terá comida?

Saio do cômodo e noto o sereno silencioso da noite perdurar pelo corredor.
Olho por entre as rachaduras no chão, sentindo realmente falta da bagunça e gritaria noturna no andar inferior.
Engulo em seco descendo as escadas que pareciam ranger muito mais que o normal, me deparando com o breu sinistro pairando no hall da mansão.

_ Onde está todo mundo? – Percorro minhas mãos trêmulas pelo corrimão ensanguentado.

Tac, tac, tac...

Viro bruscamente ao sentir o ar atrás de mim agitar-se pela movimentação de algo.

_ J-Jeff? – Ouço um arrastar pelo chão.

_ Jeffrey é você? – Digo começando a me irritar. – Se for você seu maldito, saiba que isso não tem gra... – E antes mesmo de terminar minha frase o porta retrato da parede despenca, fazendo-me pular para trás pelo susto.

O quê está acontecendo? Cadê todo mundo?

O vento gelado percorria por entre as janelas da antiga casa, gerando um som aterrador que ecoava por todos os lados.

_ Pessoal... Cadê vocês? – Engulo em seco ao perceber um vulto no final do corredor arrastar-se pelo chão gemendo.

Não pode ser... De novo não...

_ T-The Rake? – Vejo sua cabeça girar 180° em minha direção, e um grito angustiante brotar de sua garganta.

Tapo os ouvidos com força sentindo meu coração palpitar desesperado, enquanto o ser rastejava rapidamente em minha direção. Pulo por cima do quadro estilhaçado tentando achar algum lugar não tão óbvio para me esconder.

É ridículo... Só estaria prolongando o inevitável.

Entro debaixo da mesa e peço pela misericórdia de Deus que ele não me ache. Fecho meus olhos com força, engolindo meus soluços engasgados enquanto espero... Espero não ser morto no único dia em que estive perto de ser feliz na vida.

Como puderam fazer isso comigo? Agora todo aquele papo sobre não descer a noite faz sentido... Aquele desgraçado. Ele sabia!

Sinto lágrimas quentes escorrerem por meu rosto, enquanto um bolo se formava em minha garganta.

The Little Killer - O Filho de Jeff The KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora