Acordei cedo. Antes mesmo do despertador tocar.
Estava na hora de voltar pra casa. Finalmente.
Eu até gosto de viajar mas volta e meia tenho que ir pra casa. É uma coisa automática.
Depois que tomo meu banho e faço o resto da minha higiene, vou assobiando pelo apartamento até a cozinha.
Marcela deixou tudo pronto para o café da manhã . Tudo para que eu não me atrase. Ela é como uma mãe pra mim.
Pensa em tudo essa mulher.
Servi um grande copo de suco e fui colocando uma grande fatia de bolo no meu prato.
Bolo de chocolate.
Ai como eu amo Marcela.
Meu celular toca e quase me dá uma dor no peito de ter que abandonar meu adorado bolinho. Sim, eu sou dessas pessoas loucas por doces.
Quando pego o celular vejo que é minha mãe. Meu pai amado. Lá vem bomba.
- Oi filhinho lindo da mamãe.
Credo.
- Mãe, a senhora sabe que tenho quase 30 anos não é ?
Ela bufa de uma maneira que sou obrigado a rir.
- E?
- E daí mãe, que a senhora falando nesse tom e com as palavras: lindinho da mamãe, é fora de propósito não é? Afinal, não tenho cinco anos. Só para constar.
Ela fica em silêncio.
Eita.
- Hum. Sabe que você está certo ?
Espera, o quê ?!
Ave Maria, tem alguma coisa errada .
- Cria vergonha nessa cara maravilhosa que seu pai e eu fizemos, Rafael Drummond! Eu lá estou me importanto com quantos anos você tem para falar do jeito que eu quero ? Falo nesse tom sim senhor ! Você é meu filhinho lindo e pronto, tá me ouvindo?!
Juro que tentei, mas não deu.
Eu ri. Ri demais que sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto .
Percebi Marcela entrar na cozinha e ficar me olhando.
Tudo o que consigo entender é que depois disso minha mãe chamou meu pai pra falar comigo em seu lugar. Ainda escutei seus resmungos por ter que aturar um filho desses.
- O que diabos você fez Rafael ? - coitado do meu pai.
- Eu? Nada ! - respondi rápido - Só disse que não tinha cinco anos pra me chamar de filhinho da mamãe e daí calculo que presenciou o resto da conversa .
Voltei a tomar meu suco.
Marcela serviu mais uma fatia de bolo. Ô se essa mulher não tivesse a idade da minha mãe ...
Mando um beijo pra ela e recebo um tapa no braço.
É. Uma segunda mãe mesmo .
- Tudo que presenciei foi o rosto de sua mãe ficando vermelho e saindo faíscas de seus olhos. Ela não parecia nem por um momento, a adorável mulher com quem me casei e sim com um boneco possuído daqueles filmes horríveis que você adorava assistir. - havia humor na voz de meu pai . Desnecessário dizer de quem herdei o senso de humor não é?
Dei mais risada ainda da discrição do meu velho .
Ele amava minha mãe com tudo o que havia naquele corpo ressecado, mas ele não tinha medo de cutucar minha mãe.
- Você sabe pra que ela me ligou ?
- Sei sim. Ela vai almoçar com você hoje .
Espera. Eu iria assumir uma nova empresa hoje.
- Pai, vou estar atolado de trabalho ! Isso é o que ?! O primeiro dia de aula ?!
Marcela ria até não poder mais.
Não sei quem ria mais : se essa danada ou o cara de pau do meu pai .
- Bom. Então acho melhor ir mais cedo pra ter tempo de almoçar com dona Ana. Só se você quiser ficar atolado de terra em um buraco numa estrada abandonada.
Passei a mão no cabelo bagunçando toda a arrumação de antes.
Que coisa.
Não acredito.
- Tá bom. Vou indo daqui a pouco pra empresa ! Pelo amor dos meus cachorros! Nem parece que deixei de ser criança ainda ! E vê se para de rir antes que você fique com falta de ar pai !
Dava pra escutar a gargalhada que ele deu antes de desligar.
Olhei revoltado pra Marcela.
- Como eu iria ser normal com esses dois como pais, Marcela ? Como ?!
- Deixa de ser exagerado menino ! Vai arrumar esse cabelo !
Olhei pro meu prato onde só havia um pedaço de bolo e peguei com a mão mesmo.
To nem aí pra gritaria que Marcela fez. Me fiz de surdo e fui assobiando pro banheiro.
Eu amo acordar cedo.Depois que me arrumei e escutei coisas do tipo:"dirige com cuidado" e "juízo menino", saí do apartamento, entrei no meu lindo carro e segui para a nova empresa.
Fui prestando atenção nas notícias que escutava na rádio e xinguei bravamente quando escutei que um recém nascido havia sido abandonado na maternidade e até agora nem sinal da mãe.
Que tipo de gente faz isso ?
Ah, aí tem sempre alguém pra falar : " não pode dizer isso, você não sabe o que a moça estava passando !
Foda-se ! É uma criança inocente que depende de alguém para cuidar e amar ! Não para abandonar e sair porta afora como se tivesse deixado um urso de pelúcia pra trás !
Fui obrigado a desligar o radio. Esse tipo de notícia me tira fora do sério.
Quando cheguei na empresa os empregados não estavam exatamente em seus lugares, mas também não estava uma bagunça total .
Ainda bem .
Entrei no elevador com mais algumas pessoas e as cumprimentei. Sim. Sou bem sociável.
Quando fui chegando a minha sala, percebi que havia três funcionárias( eu deduzi) conversando tranquilamente .
Assim que cheguei perto, ouvi uma delas tirando sarro da mais baixinha. Sobre esta acreditar realmente que é meiga.
A resposta dela me fez controlar o riso.
Desde quando alguém tem preguiça de ser meiga ? Que tipo de criatura é essa?!
Claro que eu não poderia perder essa oportunidade.
- Não seria preguiça de mostrar serviço, não é ?
As funcionárias que estavam em pé me olharam com curiosidade, mas a baixinha que estava sentada muito confortavelmente me encarou fixamente e por tudo que é mais sagrado :
Que olhos maravilhosos!
Parece que a criatura é interessante, pensei enquanto sorria para ela.
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Amando Um Coração Ferido
RomanceUma mulher que pensa que o amor não é pra ela. Um cara que tem a absoluta certeza de que o amor não foi feito pra ele . Duas pessoas entregues a própria sorte e vivendo um dia de cada vez. Dois corações convictos de que não encontrarão o amor de ver...