Amando Um Coração Ferido

Elena

Estou aqui parada que nem uma idiota enquanto esse cara obviamente se diverte com a situação.
E não creio nisso.
As garotas o olham com curiosidade e depois voltam os rostos para mim em evidente divertimento.
São duas vacas de salto mesmo.
Suspiro e faço o que tenho de fazer.
- Posso ajudar em algo ? - questionei calmamente.
Ele se aproxima e as minhas amigas dão espaço.
- Sou Rafael Drummond. Acredito que seja minha secretaria?
Eu sabia. Que droga.
- Sim, senhor. - respondo me levantando da minha cadeira confortável. - Sou Elena Silveira. Estas são Cristiane Santos e Bruna Ramos, funcionárias do setor RH.
Vejo que as cumprimenta educadamente e pergunta sobre o setor. O cara é sociável.
Minhas amigas se despedem prometendo me encontrar no almoço.
Rafael acena em despedida para as duas e se vira para mim .
- Muito simpáticas suas amigas. Então srta. Silveira, está pronta para trabalhar?
Bufo de desgosto.  Ótimo.
O cara pensa que sou uma preguiçosa.
Faço um movimento afirmativo com a cabeça enquanto pego as pastas dos clientes.
- Aqui estão os dados dos novos clientes para averiguação. Gostaria de marcar a reunião de apresentação a que horas ?
- Hum. Pode marcar para às 10:00 a reunião, por favor.  Deve ser tempo suficiente para ler os arquivos que me deu. Ligue para o responsável das finanças e diga que o quero aqui imediatamente.
- Mais alguma coisa ?
- Por enquanto não.
- Ok. Ligarei para o Sr. Mendes do setor de finanças.
Ele sorri e se vai para a sala com os arquivos.
Faço a ligação para Gustavo e sento novamente e adianto a ligação para Sabrina, no refeitório.
- Oi Bina, o grande chefe chegou e pediu reunião para as 10:00. Pode direcionar a equipe para a sala e começar a arruma- la, sim ? Precisa estar impecável.
- E como é o Chefe ? Parece ser um mala que nem o anterior?
Lembrei da cena em que Rafael conversou com Cris e Bruna.
- Pelo menos até agora se comportou . Pareceu sociável.
- Só isso que tem pra dizer ?
Reviro os olhos. Bando de mulheres doidas.
- Ué, confere depois. Tenho que ligar para o pessoal informando da reunião. Até depois.
Desligo ainda escutando Sabrina reclamar da minha falta de solidariedade em fornecer informações.
O que eu disse ? Todas doidas.
Em alguns minutos vejo Gustavo chegando apreensivo. Não é a toa.
Nosso antigo patrão gritava assim que o anunciava . Era um pesadelo.
- Sr. Drummond, o Sr. Mendes está aqui.
- Mande ele entrar, por favor.
- Agora mesmo Sr. Drummond.
Olho para Gustavo que parece respirar aliviado.
Sem gritos. Ok.
Faço sinal para que me siga e abro a porta .
Gustavo entra desconfiado.
Dou um sorriso por causa da reação.
Olho para Rafael e percebo que ele convida Gustavo para sentar.
- Aceitam um café ?- pergunto ainda perto da porta.
Gustavo nega e o outro apenas da um sorriso e diz não.
- Vou terminar as ligações para a reunião.
Rafael concorda e volta sua atenção para Gustavo ao mesmo tempo que estende um arquivo em sua direção.
Caminho em direção a minha mesa e termino meus afazeres.
Ouço a porta do escritório abrir e Gustavo sai com um tremendo sorriso no rosto.
- Graças a Deus não é um idiota como o outro. - diz para mim indo embora.
Ufa. Sem grito e sem reclamações.
Ótimo. Não vou precisar tomar um remédio para dor de cabeça.
Ainda bem.
Confirmo as reuniões do horário da tarde e urando percebo já está na hora de chamar o chefe.
Vou até o escritório e bato na porta e entro assim que escuto a ordem.
- Está na hora da reunião Sr. Drummond.
- Sei. Podemos ir. Já estou pronto.
Ele recoloca o terno e desliga o computador.
Olho para sua mesa. Tudo arrumado nos mínimos detalhes. Muito diferente do antigo chefe, com certeza.
- É impressão minha ou Gustavo parecia amedrontado comigo antes ?
Olhei para ele e fiquei na dúvida sobre responder.
Acho que percebeu porque disse :
- Era percetível. Só quero saber se os funcionários daqui vão pisar em ovos toda vez que tiverem que falar comigo.
- Bom, o antigo chefe não era tão calmo, por assim dizer.
Ele assente em concordância.
- Percebi isso em umas duas ocasiões.
Faço cara de paisagem.  Eu é que não vou ficar amiguinha deste chefe aqui.
Assim que chegamos a sala onde iria ser feita a reunião, percebo que está tudo muito bem organizado. Adoro a competência da Sabrina e o pessoal.
Vejo os funcionários olhando para o novo chefe com algum receio.
Mas provavelmente isso não irá durar muito.
Permaneço em pé porque sei que a reunião não vai durar muito. É só porque o Rafael quer se apresentar ao pessoal e assim poupar um pouco de tempo na agenda dele.
Convenhamos, nosso chefe anterior deixou a empresa em uma grande crise.
- É ótimo que todos puderam atender ao meu chamado para esta reunião.  - começou Rafael - sou o seu novo chefe. Me chamo Rafael Drummond. Comprei esta empresa porque vejo um potencial muito grande neste lugar. O quadro de funcionários voltará a aumentar a medida que a empresa voltar a crescer.
Não vou mentir e dizer que está tudo uma maravilha porque vocês  não são alienados.  Já perceberam que vai levar algum tempo nos recuperarmos da gestão anterior. Ao longo deste mês, minha secretária irá ligar para cada departamento e marcar uma reunião com seu respectivo diretor. A princípio ninguém irá ser demitido, a não ser é claro, que eu encontre um funcionário que mereça ser demitido.  Não se enganem. Demitirei sem pensar duas vezes. Podem ir e qualquer dúvida, peçam para a srta. Silveira marcar um horário. Por enquanto é só.
Rafael terminou seu discurso e fez sinal para que eu o acompanhasse enquanto caminhávamos pelo corredor.
- Minha próxima reunião?
- Às 13:00, fora da empresa. A secretária do Sr. Alves já confirmou.- respondi quando chegamos ao escritório.
- Envio os detalhes sobre o assunto dessa reunião ao Sr por email?
Ele para e me olha com total atenção.
- Sim. Por favor. As demais reuniões da tarde ?
- Todas confirmadas Sr. Drummond.
- A srta. já confirmou?
Sinceramente, fiquei ofendida. Deve ter percebido minha cara de total desagrado porque ele riu. Riu mesmo.
- Devo perguntar o motivo dessas faíscas saindo de seus olhos em minha direção?
- É melhor não. Não estou afim de ser demitida. Gosto do meu emprego.
Rafael riu mais ainda.
Misericórdia. Ele tinha covinhas. Fala sério.
Aqueles furinhos adoráveis  nas bochechas.
Me irrito pelo pensamento.
Que droga é essa ?
- Gosto da sua atitude, Srta. Silveira.  Sua competência é admirável não há dúvidas. Mas me intriga o fato de que quando mencionei que receberiam uma ligação sua, o restante dos funcionários pareceram pálidos de repente. Isso é por sua preguiça de mostrar seu lado meigo ?
Que legal. Tenho um chefe comediante.
Era só o que me faltava.