Finalmente estou indo para casa. Foi um longo primeiro dia na empresa, sem dúvida. Foi também muito produtivo. Espero que não haja problemas durante a semana, se não, haveria atrasos no cronograma que Elena e eu montamos, depois que voltamos das reuniões.
Fechei os arquivos no computador e coloquei alguns papéis que faltavam avaliar dentro da pasta com o notebook, assim amanhã poderia conhecer alguns setores da empresa.
Assim que saí da sala, vi Elena se arrumando para ir embora também.
Sua mesa estava inacreditavelmente organizada, sendo que antes estava uma bagunça de papéis. Como ela se achava naquela confusão, não faço a mínima idéia.
Quando entramos no elevador, percebo que algum momento ela prendeu o cabelo numa trança extremamente bem feita.
- O que foi?
Pisquei saindo dos devaneios. Reparei demais nela.
- Estava olhando sua trança. Quando fez ela?
Ela revirou os olhos. Já reparei que ela faz muito isso. Parece ser uma de suas características.
- Agora pouco. Tenho um jantar na casa dos meus pais e não vou ter tempo de passar em casa. Não poderia ir com o cabelo naquele estado.
- Não entendo. Seu cabelo ficou lindo solto. Não que ele esteja feio, mas porque?
Ela piscou mais vezes que deveria. Alias, parecia pasma com algo.
- Minha mãe. Ela não é muito fã do meu cabelo. Então, já que estou cansada fisicamente pensei em preservar o meu psicológico por hoje.
- Tá de brincadeira? Qual a sua idade pra sua mãe implicar com seu cabelo?
Ela me olhou e percebi que ia ter troco por causa da gracinha.
- Tenho 25 . Tem certeza que ninguém tirou foto de você batendo no cara do restaurante?
Ainda me irrita o fato do cara ter dado em cima da minha mãe. Na minha frente! Porra, a mulher tem uma aliança que dava pra ver de longe!
- Até parece que você já não pesquisou na internet não é? Alias, se aparecer algum vídeo, mande pra mim.
- Porque?
- Quero rever a cara que aquele imbecil fez quando dei um soco nele.- respondi sorrindo.
Não dou bola pra essas coisas. Querem tirar foto, que tirem. Tô nem aí.
As pessoas começam a sair da empresa e aceno para alguns em despedida.
Vou para o estacionamento com Elena ao meu lado e percebo que ela está digitando no celular. Nem para de caminhar a mulher. Se eu mexer no celular enquanto caminho, tropeço em tudo.
Escuto risadas e olho para trás e vejo as duas funcionárias que são amigas de Elena.
- Elena! Não se atreva a sair daqui sem nós! - avisou uma delas quanto chegaram a uma distância considerável.
Elena ergueu as mãos pro céu e parece fazer uma prece.
Acho graça dela.
- Olá, Sr. Drummond. - cumprimenta uma assim que chegam até nós.
Elena encosta num carro pequeno parado ao lado do meu e deve ser o dela. Sinceramente, que carro pequeno. Muito bonito mas pequeno.
- Eu não avisei que vou jantar na casa dos meus pais? - perguntou Elena para as amigas.
- Avisar, avisou. Não estamos nem aí. Vamos junto.- retrucou uma delas.
- Vão acabar se irritando na casa deles.- diz Elena com as mãos na cintura.
- Não tem problema. Nada que comer a sua comida quando chegarmos no seu apartamento, não resolva.
Fiquei de queixo caído com essa resposta. Não Elena, pelo visto. Parecia já estar acostumada com o comportamento da amiga.
Ah, sim. Lembro de ter dito que eram suas melhores amigas.
- Boa noite garotas, até amanhã. - meu carro estava ao lado do qual Elena estava encostada pouco instantes antes.
- Até amanhã chefe.
Entrei no carro e para minha diversão, Elena entrou no carro diminuto e suas amigas se enfiaram lá dentro antes que eu pudesse piscar.
- Porque será que não estou surpreso por esse ser seu carro? - Elena abaixou o vidro e disse mortalmente:
- Não se atreva a falar mal do meu carro.
Achei divertida sua reação.
- Parece um carro de boneca não é? - assim que sua amiga terminou de falar, eu ri. Ao contrário de mim, Elena fez uma cara e avisou a amiga:
- Talvez eu te deixe em casa e faça lasanha só para Bruna que tal?
O horror perante tal sugestão de Elena ficou evidente na cara da amiga brincalhona.
Quando Elena olhou para mim, fui saindo com o carro primeiro.
Trabalhar com Elena, me deu a oportunidade de perceber o quanto seu tamanho a irritava profundamente. E obviamente falar mal do carro diminuto, também a aborrecia.
Liguei o radio e fui escutando música até minha casa.
Depois do que pareceu ser uma eternidade, cheguei morrendo de fome.
Assim que entrei em casa, larguei a pasta em cima da mesa na frente da televisão e fui direto para a cozinha. O que eu achei lá? Bolo de chocolate. Arranjei um café e fiquei feliz da vida.
Depois de matar o que estava me matando, subi as escadas e fui pro meu quarto. Entrei e já fui tirando as roupas porque sou desses. Se não corresse o risco de ser surpreendido pela família doida que tenho, ficava pelado dentro de casa o tempo todo.
Depois do meu merecido banho, coloquei uma calça de moletom e fui atrás da minha pasta na sala. Terminar os ver os relatórios que os departamentos tinham feito, era prioridade. Se desse conta hoje, amanhã já poderia visitar os setores devidamente informado.
Assim que sentei no meu sofá confortável e liguei o notebook, reparei na foto de Sofia.
Estava de braços abertos num roseiral.
Flores com cores lindas. As amarelas, suas preferidas.
Os cabelos ruivos e o vestido longo balançando com o vento e o sorriso puramente de felicidade.
Uma das minhas fotos favoritas. Ela já estava doente quando tirei essa foto em nosso passeio.
Ela ainda estava com os cabelos cor de fogo, como eu os chamava.
Uma chama brilhante e absolutamente incrível. Combinava perfeitamente com a personalidade da dona. Sofia era assim. Até quando morreu e chama se apagou.
E tudo o que me restou foram as lembranças da mulher maravilhosa que era.
Durante muito tempo a ausência de Sofia doeu em mim.
Dói até hoje.
Ela estava quase morrendo quando me disse para ser feliz.
Como eu iria ser feliz se o motivo da minha felicidade estava indo embora para sempre?
Depois de ficar um tempo olhando a foto, fecho os olhos e respiro fundo.
Trabalho. Isso que eu preciso fazer.
Talvez assim, não tenha tempo de sentir dor nenhuma.
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Amando Um Coração Ferido
RomanceUma mulher que pensa que o amor não é pra ela. Um cara que tem a absoluta certeza de que o amor não foi feito pra ele . Duas pessoas entregues a própria sorte e vivendo um dia de cada vez. Dois corações convictos de que não encontrarão o amor de ver...