Elena

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O que diabos ele quis dizer com isso?
E é essa pergunta que não sai da minha cabeça enquanto vamos a reuniao.
Sabrina e a equipe deixaram a sala de reuniões impecável.
Um dos maiores acionistas da empresa veio conferir pessoalmente o novo chefe e ver de perto como estão as coisas.
Quando o Sr. Nunes chegou com sua nova secretária ( a anterior foi demitida pela esposa dele),
Percebi que essa reunião iria ser extremamente irritante.
- Boa tarde Elena. Como vai? - pergunta o ser chato, vulgo Sr. Nunes.
- Estou bem, obrigado por perguntar. - faço uma cara de paisagem e rezo pra ele esquecer minha presença nessa sala.
- Senti sua falta no jantar semana passada. - meu chefe olha com interesse estampado pra nós e a secretaria do Sr. Nunes faz uma cara de quem chupou  limão e não gostou. As vezes eu gostaria de dar um soco na cara de algumas pessoas.
- Conversei com a Sra. Nunes explicando a minha ausência.-  respondi ao ser na minha frente.
Ele franze o cenho e tenho certeza que sabe o porque mencionei sua esposa. Vejo meu chefe com um sorrisinho de canto e sinto uma enorme vontade de dar um cascudo nele.
Mas não posso porque ele é o meu chefe.
- Então  Sr.Nunes, vamos começar a reunião? - pergunta meu chefe - acredito que esteja com pressa não?
Nunes não gostou do tom de deboche do atual chefe e gostou menos ainda quando sua secretária praticamente só faltou babar assim que meu chefe sorriu para ela.
Balancei a cabeça em negação. Acho que a secretaria do Sr. Nunes não vai durar no cargo. E não vai ser demitida pela esposa do mesmo.
A reuniao até não durou muito. Nunes estava mais que satisfeito em saber que seu investimento estava bem. Apesar da óbvia inexperiência da secretária dele, a conversa foi tranquila e correu tudo bem.
Ao término, já estava me preparando mentalmente pra próxima reunião, que seria fora da empresa, quando Nunes resolve dar o ar da graça novamente.
- Então posso te esperar no jantar deste sábado Elena?
Enquanto arrumo as anotações da reunião respondo educadamente:
- Não vai ser possível. Tenho uma reunião com amigas no sábado.
Assim que fico em pé, meu chefe se encaminha para a porta.
- Certeza que não pode cancelar? - a secretaria me olha torto ao ver a insistência de Nunes.
- Não posso cancelar. Expliquei a sua esposa os motivos de não ir aos jantares.
- Explicou à ela? - Nunes me olha e posso ver o nervosismo tomar conta dele.
- Sim. Não posso deixar uma pessoa tão incrível quanto sua esposa sem explicação não é? Afinal de contas, a Sra. Nunes realiza os jantares mais sofisticados e ela sempre presta atenção aos mínimos detalhes. Seria uma desfeita se eu não me desculpasse ao menos, não é?
A outra secretária iria desmaiar se prendesse a respiração mais um pouquinho. Nunes ficou chocado com minha resposta e eu sei que ele não vai perguntar o motivo das minhas ausências nos jantares. Patrícia, sua esposa, não é nem um pouco cega ou surda.
E eu  não exagerei sobre ela prestar atenção a tudo ao seu redor.
- Vamos Elena. - meu chefe chama em tom irritado - foi ótima a oportunidade de conversarmos Sr. Nunes mas preciso estar em outra reunião daqui a pouco.
Nunes se despede com um aceno de cabeça e vai embora com a sua secretaria que parece me avaliar.
Dou de ombros.
Só o que me faltava.
Não arrumar problemas com a esposa desse imbecil e sim com a amante.
Assim que dupla some de minhas vistas, suspiro irritada e tudo o que meu chefe faz é rir na cara dura.
-  O cara é insistente mesmo. - diz ele.
- Insistente é elogio. - retruco brava - e porque está rindo?
- Estou rindo da cara que ele fez quanto disse que falou com a esposa dele.
Dou um sorriso contente com minha atitude.
- Ele não vai perguntar a mulher dele não é? - questiona meu chefe parando de rir aos poucos.
-  Até parece. Aquele ali tem amor a vida. - resmunguei enquanto saía da sala.
- Nisso eu posso acreditar. - diz ele enquanto vamos até o elevador. - Muito me admira que permita ele te chamar de Elena. Dava para perceber seu desagrado com isso.
- Meu antigo chefe disse à ele que não seria um problema. Como ele estava acompanhado da esposa e a mesma passou a me chamar assim, aceitei.
- Nunes é um cretino. Ainda bem que sabe lidar com ele.
- Aprendi com o tempo. Não tenho paciência com esse tipo de homem.
Meu chefe olha para mim e pergunta seriamente:
- Tem problema se eu te chamar de Elena?
Penso a respeito disso.
E me senti bem sobre isso.
- Não há problema nenhum.
- Pode me chamar de Rafael então.
E quando ele sorriu,  percebi que estava bem até demais.

Amando Um Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora