Com os olhos fechados e as costas encostadas numa gigantesca árvore frondosa, eu desfrutava do canto dos pássaros que comemoravam a volta da primavera e do relaxante barulho da água caindo no lago. A medida que acariciava os longos fios negros do meu namorado, que permanecia adormecido em meu colo, eu sequer fazia questão de disfarçar o sorriso que se formava no canto dos meus lábios e muito menos esconder o quanto estava feliz e apaixonada.
Ao respirar fundo, senti o belíssimo perfume das flores que acabaram de desbrotar e a agradável umidade presente no ar. Também não era preciso abrir os olhos para saber que no céu continha o azul mais lindo e vivo que aparecera no ano. Não havia muitas pessoas ao nosso redor, nos proporcionando uma certa privacidade, e não havia barulho do trânsito mesmo sendo final de semana. Havíamos escolhido o dia perfeito para um pequenique no parque.
Quando comecei a sentir pontadas de cãibra em meu corpo, resultado de longos minutos na mesma posição para que Hyunjin não despertasse, abri meus olhos e lentamente tentei espreguiçar meus braços, sem acordá-lo, e quase que não obtive sucesso. Prendi a minha respiração, com as mãos ainda levantadas, quando Hyunjin balbuciou palavras indecifráveis e abriu seus olhos por alguns segundos, ameaçando se levantar. Mas felizmente o sono foi mais forte e ele voltou a dormir. Dei um suspiro e abaixei minhas mãos.
A sensação de vê-lo descansar de forma tão tranquila e relaxada em meu colo era impossível de ser explicada, nem milhões de palavras eram capazes de expressar o que eu estava sentindo naquele momento. Havia tanto tempo que Hyunjin reclamava de insônia e noites mal-dormidas, e pelo menos agora ele finalmente estava descansando devidamente. Meu coração se aquecia ao sentir sua respiração tão leve e calma, como se dormisse no lugar mais seguro do mundo, e meu sorriso aumentava ao apreciar sua expressão adormecida e delicada. Me sentia tentada a beijar cada centímetro de seu rosto e demonstrar o quanto ele era meu porto-seguro, assim como eu era o dele.
Tracei leves caminhos em sua bochecha, caríciando-o enquanto sentía a sua pele levemente quente. Um resquício de sorriso se formou no canto de seus lábios carnudos em resposta ao meu gesto e eu não contive uma risada boba, me sentindo uma tola apaixonada por cada detalhe de seu rosto sonolento. Ele tinha todo o meu coração em suas mãos.
Pensamentos foram interrompidos com uma alta gargalhada de uma criança do outro lado do lago, e eu ergui o meu olhar para observá-la. Uma garotinha, que não parecia ter mais que quatro anos, corria de um lado para outro em sua bicicleta enquanto seu cachorro de estimação a perseguia com grande animação, o que parecia servir de muita adrenalina para a menina. Seus pais estavam a poucos metros de distância, sentados na grama e atentos a seus movimentos para o caso da criança acabar se machucando. Eles pareciam estar se divertindo, e essa visão rendeu um sorriso em meu rosto.
— Woah, eu estou realmente em apuros... — Hyunjin sussurrou com a voz manhosa em meu colo e imediatamente abaixei a minha cabeça, surpresa. Ele soltou um bocejo e em seguida um sorriso preguiçoso e bobo se formou em seus lábios. Arqueei levemente a minha sobrancelha, indicando que ele terminasse de falar, e comecei a brincar com a sua franja escura. — Seu sorriso. Acho que estou viciado nele. — Seus negros olhos cintilaram e por um momento eu me perdi neles, imaginando que nem a primavera transmitia tanta vida quanto aquele olhar. Alarguei ainda mais o sorriso em meu rosto e num piscar de olhos fui surpreendida com um beijo leve e suave. Tão calmo e sereno, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.
Devagar, nossos corpos começaram a se afastar e outra vez Hyunjin estava deitado em meu colo, aproveitando minhas carícias em seu cabelo e o silêncio agradável ao nosso redor. Palavras não eram necessárias, não naquele momento. Não queríamos perder nosso tempo pensando em assuntos aleatórios para os minutos passarem mais rápido. Queríamos apenas mais algumas horas silenciosas juntos. Uma eternidade, se pudéssemos escolher.
— Há alguma coisa em meu rosto, Hyunjin? — indaguei com um fraco sorriso após notar que ele ficara me observando desde que tinha acordado, me causando certo desconforto e inquietação. Seu olhar profundo era uma das poucas coisas que eu ainda não tinha me acostumado nele.
Um esboço de travessura apareceu em seus lábios.
— Hm, como posso dizer isso sem parecer idiota? — ponderou e sem pensar duas vezes eu afastei sua franja da testa, seguido de um peteleco certeiro na região. — Ai! Não é um xingamento! — exclamou ao franzir o cenho e imediatamente colocar suas mãos na pele dolorida. Eu não contive uma risada fraca e seu rosto se suavizou. — Isso. Eu poderia ficar uma eternidade apenas te observando, me contentando apenas em memorizar seus olhos, boca e sorriso, nariz... — sussurrou preguiçosamente enquanto tocava meu rosto, como se estivesse decorando todos os meus detalhes naquele exato momento. Senti meu ar falhar com a delicadeza de seus dedos e com suas palavras tão fofas. E então sem pensar duas vezes, selei nossos lábios.
Mas apenas um selinho. Um leve e rápido toque em seus lábios antes que Hyunjin ousasse aprofundar o beijo.
Afastei logo o meu rosto do dele e encarei sua expressão protestante e insatisfeita. Suas sombrancelhas se franziram e sua boca formou uma perfeita linha reta por segundos silenciosos. Contudo, antes mesmo que eu piscasse, seus lábios já estavam sorrindo novamente.
— Retiro o que disse, não me contento com migalhas. — Provocação estava estampada outra vez em seu rosto e pude ver seus olhos brilharem novamente. Eu definitivamente daria a primavera, se pudesse, apenas para que esse brilho nunca mais se extinguisse. Mãos tocaram carinhosamente minha nuca e me aproximaram do rosto pelo qual eu já estava perdidamente apaixonada. Sua respiração quente tocava minha pele. — E não tem nenhuma chance de eu esquecer esse belo rosto — falou baixinho. —, mesmo que se passe uma eternidade.
E outra vez, eu senti seus lábios carnudos nos meus.
[...]
Acordei em um impulso da minha cama e senti um imenso vazio crescer em meu peito, me engolindo cada vez mais como a escuridão no quarto.
Tentando controlar a minha respiração, que começara a se tornar pesada, liguei o abajur na mesinha ao lado da cama e instantaneamente o quarto se iluminou. Havia fotos rasgadas em todos os lados do cômodo e alguns porta-retratos quebrados no chão.
Movi meu olhar na direção do lixo, desejando que os bichinhos de pelúcias junto com as roupas, ambos dados pelo Hyunjin, não estivessem lá, e quando estendi minha mão até uma foto rasgada, implorei em pensamento para que não fosse uma foto nossa. Um nó se formou em minha garganta quando tudo o que pensei ter sido apenas um pesadelo era na verdade real, e quando pus a mão pelos olhos, percebi que estavam inchados, evidência de que passei o dia inteiro chorando.
Apertei o travesseiro contra o meu peito com mais força do que imaginava ter e não reparei nas lágrimas quentes que atravessavam minhas bochechas outra vez.
Ele terminou comigo. Ele terminou comigo. Ele terminou comigo.
Um pequeno soluço escapou de meus lábios e me enterrei no cobertor. Me enrolei de forma que parecesse um impenetrável casulo e me esforcei para que minhas lágrimas e tosses saíssem de forma silenciosa, para que ninguém percebesse o quanto meu coração estava despedaçado. Completamente esmagado, destroçado, rasgado em pedacinhos pela pessoa que eu mais amava.
A Primavera em seus olhos? Eu só pude ver o Inverno neles.
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Spring in Your Eyes • Hyunjin
Fanfiction❝ Após um ano realmente conturbado, Hae Soo pretende passar seus últimos 2 anos de escola escondida no seu círculo de amigos e na sala de pintura. Querendo se distrair, Soo também aceita sair num encontro com seu melhor amigo e aproveitar a belíssim...