Capítulo 2

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Ele, Paulo, 27 anos, olhos esverdeados, cabelos claros e porte atlético, nunca foi adepto ao trabalho, sempre inclinado para o mundo do crime desde pequeno. Teve uma infância difícil, o pai abandonou a família quando ele tinha apenas dois anos, passou uma adolescência muito sacrificada ao lado de sua mãe, Anastácia. Quando tinha 20 anos decidiu sair de casa, alugou uma quitinete, no centro da cidade de Olhos D'água.

- Filho, você saiu de casa sem um emprego, há mais de seis anos, até hoje nunca trabalhou, eu fico preocupada com a forma que você se sustenta. Por favor, Paulo, volte pra casa, lá você terá tudo que precisa.

- Você parece não ter ouvidos mãe, repito sempre a mesma coisa e você não me escuta. Tô bem e vivo do jeito que gosto, que saco. - Paulo esbravejava enquanto colocava uma camiseta, tinha tatuado no braço esquerdo uma espécie de faixa trabalhada que abrangia metade da parte superior e entre o trabalhado da faixa a frase: Mãe amor maior.

- Paulo, uma mãe sempre sabe quando um filho não está bem, se olha no espelho, você tem cicatrizes no corpo, não te reconheço mais desde o dia que você saiu lá de casa fugido, sem falar pra onde ia. Foi aqueles amigos que você arranjou, claro que foi.

- Tá maluca mãe, são meus parceiros nos negócios, é com o apoio deles que consegui tudo o que tenho hoje.

- Tudo o quê? O que você tem hoje meu filho? Nada. Nem uma casa você conseguiu comprar. Sei que lá em casa você tinha uma vida humilde, mas as coisas melhoraram filho, desde que comecei a fazer lanche pra vender nas escolas nunca mais faltou nada lá em casa.

- Mãe, não é só dinheiro, é liberdade, nasci livre e quero morrer assim. Tá na hora de você ir embora, eu tenho treta na rua daqui a pouco e já tô saindo.

- Treta? Isso é jeito de falar, Paulo. Tenho medo de um dia receber uma má noticia sua. - Dona Anastácia dizia firmemente enquanto dava pequenas batidas com as mãos nas pernas.

- É modo de falar. Repetiu: - Modo de falar, agora vai Mãe, vai com Deus e manda lembrança pra todos. - Paulo abria a porta enquanto sinalizava com a cabeça para a rua.

Dona Anastácia, mãe de Paulo, encheu os olhos de lágrimas, mesmo tentando parecer forte deixava visível o que sentia para o filho. Retirou-se em silêncio, foi saindo porta afora com a cabeça baixa, secando o canto dos olhos e guardando todo sentimento que tentava transbordar.

Logo em seguida, saiu Paulo apressado até a Praça da Matriz e encontrou seus quatro amigos, os tais que ele chamava de parceiros nos negócios.

- Qual é o lance rapaziada? Recebi a mensagem de vocês pra reunião de emergência e vim assim que pude. - Falou Paulo enquanto tentava se recompor da corrida que deu até chegar ao encontro dos amigos.

- É o seguinte. - Disse um deles, chamado Gustavo. – Já tem novo esqueminha, companheiros, não é nada grandioso, mas dá pra garantir um final semana de festa.

- Opah, beleza, diz ai. - Exclamou Paulo.

- Um camarada meu, parente de uns moradores da Vila de Bom Jesus disse que eles vêm pro centro de excursão receber uma indenização no banco. Mas tão pedindo pra se ferrar né.

- Como assim? Indenização? Tá maluco, Gustavo, o que a gente ganha com isso?

- É simples, vamos rapar tudo. - Gustavo arregalou os olhos tentando imitar uma cara de assustado.

- E tu acha que isso rende? Esse povo não vai deixar o dinheiro guardado no banco?

- Bem capaz, meu velho, esse povo do interior já tá com o dinheiro contado pra pagar as contas. Grande parte deles vai levar dinheiro em espécie pra casa. A maioria nem sabe lidar com conta de banco.

A Última Prova de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora