Capítulo 9

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Agora Paulo estava sozinho, esperando na sala de entrada para ser atendido. O advogado era um velho conhecido da família, que já tinha o defendido anteriormente, em um caso de falsificação de ingressos de um show, teve sucesso na causa e conseguiu que ele pagasse a pena em serviços sociais.

No entanto Paulo já tinha sido orientado que dessa vez ele não era mais réu primário e que a situação poderia se tornar mais complexa apesar de estar contribuindo voluntariamente para a concretização do caso.

Paulo estava só, sentia-se desprotegido ao pensar que Ana, em breve, estaria viajando para tão longe. Olhava para as paredes vazias daquela sala de espera e imaginava que a sala em que passaria a morar após o depoimento era infinitamente mais precária. Por fim, o advogado o chamou, deu as últimas orientações e partiram os dois para a delegacia que ficava próximo dali.

O depoimento foi longo, Paulo contou toda a verdade, inclusive o fato de que foi por causa do arrependimento dele que o assalto não aconteceu. Percebendo a sua boa vontade o delegado lamentou que ele não era mais réu primário, garantiu que o estaria apoiando nos seus pareceres para o juiz, mas infelizmente precisaria algemá-lo e levá-lo à penitenciária a fim de que esperasse preso o seu julgamento. O advogado olhou firme em seus olhos para acalmá-lo apesar de não ter sido surpresa aquela decisão.

- Olha só, temos morador novo no cafofo! – Comentou ironicamente um dos presidiários que passaria a dividir a cela com Paulo. – Esses olhinhos verdes e essa carinha de playboy não vão durar muito por aqui. – Ele sorria alto dentro de uma brutalidade que parecia normal naquele ambiente. – O que você fez? Roubou bala da vovozinha ou é inocente como todos que estão aqui?

- Participei de um assalto. - Ele respondeu em sussurros.

- Assaltante? Mas vê só, não tem cara pra isso gatão.

Paulo sentia cheiro de privada, o sanitário era aberto na cela, não tinha porta e estava muito sujo. Ao perceber que Paulo passava o olho de canto a canto na cela o presidiário exclamou:

- Vou apresentar os seus aposentos, príncipe! Essa é a sua cama, que casualmente fica em cima da minha e eu detesto roncos. Eu me chamo Joaquin, naquele beliche ali estão os nossos companheiros de suíte, o Mário e o Chico. – Os outros dois apenas levantaram a mão em forma de aceno. – E esse é o banheiro. – Ele apontou para o vaso. – Aqui é onde nós refletimos sobre a vida, você é o príncipe então é você que vai ser o responsável pelo trono.

- Tudo bem, se me conseguir uma luva posso limpar essa sujeira. – Ele respondeu acanhado.

- Luvas? Mas você é realmente um príncipe. Vamos mandar vir luvas direto da Inglaterra para você limpar nossa privada. – Ele gargalhava agora acompanhado dos outros dois.

Paulo tratou logo de subir para a sua cama, seria uma longa noite em claro, de dúvidas, de desespero e porque não dizer, de arrependimento. Lembrando das celas que observava enquanto passava pelos corredores, Paulo poderia inclusive agradecer por ter ficado naquela, as outras eram ainda mais lotadas e sujas.

Naquele exato momento estava tendo a cerimônia de inauguração de uma nova penitenciária na cidade de Olhos D'água, ficava afastada do centro uns vinte quilômetros, nessa cerimônia estavam presentes o governador do estado e alguns de seus secretários. Aquele complexo novo estava sendo motivo de divergência de opiniões e protestos da comunidade desde o início do projeto há mais de dois anos.

Os novos presos, como Paulo, por exemplo, e alguns presidiários que eram condenados por alguns crimes específicos seriam os primeiros a serem transferidos para lá em alguns dias. Enquanto isso Paulo sentia o peso da sua decisão, era tratado com desrespeito e vivia em condições extremamente precárias para a saúde.

A Última Prova de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora