Ana estava debruçada na janela de sua casa, tinha uma visão alongada de parte da Vila de Bom Jesus do Sul, os olhos fixos em um ponto do infinito deixavam clara a preocupação que sentia, quando uma voz soou entre o silêncio que imperava.
- Se eu pudesse escolher super-poderes escolheria o poder de ler seus pensamentos.
Era Roger que se aproximava da janela, o incansável apaixonado, que ainda não tinha visto Ana e sua mãe depois que elas haviam voltado para casa.
- Olá Roger, não precisa de super-poderes não, eu lhe conto: estou muito preocupada com a minha mãe, ela pegou um enorme resfriado assim que voltamos para casa e ainda não curou. Eu liguei para o médico, ele disse que nós ficássemos observando, um resfriado assim em quem está recém operada não é muito bom.
- Já tentaram procurar o postinho daqui do distrito?
- Sim... Sim, fomos lá, mas as condições são muito precárias, pouco ajudou. E pior que ela está com muita tosse, isso pode ser ainda mais grave por causa dos pontos internos.
- Qualquer coisa que precisar pode contar comigo, você sabe. – Ele exclamou tentando olhar dentro dos olhos de Ana que rapidamente se afastavam da mira.
- Claro Roger, agradeço, sei que podemos contar com você. Vou entrar para ver como ela está.
Dona Dália estava parecendo bem debilitada e um febrão começava a aparecer.
- Mãe, você está com muita febre, muita. Eu vou ali na Tia Domingas chamar ela para vir nos ajudar. Acho que teremos que voltar para cidade.
Dona Dália estava muda, preferia não opinar, esperava a chegada de Domingas para decidir o que fazer. Foi, então, que resolveram ligar novamente para o médico que a operou, pedir uma medicação e decidiram partir naquele mesmo dia para Olhos D'água.
Depois de uma viagem angustiante foram direto ao hospital, o médico já estava à espera delas, era necessário que Dália se internasse urgentemente para começar o tratamento.
- Preciso saber como farão esse procedimento. – Perguntou-lhes o médico logo na entrada.
- Como assim Doutor? – Ana perguntou-lhe atentamente.
- Dona Dália precisará ficar alguns dias internada, fará uma bateria de exames, existe a possibilidade de estar com pneumonia. Pode ser um tratamento caro para fazer particular, como vocês sabem o hospital cobra diária pelos quartos. Temos opção de dar entrada pelo sistema público, ela será bem assistida.
- Ela ficará lá no saguão? – Perguntou Ana com os olhos arregalados. – E se não tiver leito?
- Infelizmente temos um sistema precário de saúde pública, isso não é novidade, em caso de preferir dar entrada por ele precisarão se adaptar, eu não atendo pelo sistema público nesse hospital, ela ficará em tratamento com o Doutor de plantão, mas garanto que a equipe fará o melhor possível.
- Não Doutor, não. – Um gemido de desespero escapou da boca de Ana. – Pretendemos seguir o tratamento na unidade particular.
Enquanto o Doutor acenava positivamente com a cabeça Domingas questionou – Aninha, como vamos fazer para arcar com essas despesas? Pode ser bem caro dependendo do tempo.
- Tenho minha moto, tia, posso vender, tenho até quem queira comprar, eu já tinha pensado nisso. Posso também pedir um adiantamento para o seu Simão, ele mesmo me ofereceu caso eu precisasse. Vou dar um jeito, eu garanto.
Ana sabia que dependendo do tempo e da situação as despesas seriam muito maior que todos os seus planos, porém frente ao que estava em jogo ela se recusava em pensar nesses detalhes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Última Prova de Fogo
RomansaAna é uma jovem do interior que ganhou uma causa judicial juntamente com os demais moradores da vila. Frente ao drama que vive com a saúde de sua mãe ela decide destinar o dinheiro da indenização para pagar o procedimento cirúrgico. O que Ana não i...