9 Arthur

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Sansara estava linda. Seu ventre volumoso, carregando mais uma ramificação da minha amada Eleonnor. Talvez se eu ainda tivesse um coração, ele estaria batendo forte, porém há muito não sabia o que era tal coisa. Vigiar o sono de meus filhos e de minha nora, era o passatempo de todas as minhas noites, não haveria outro lugar em que eu quisesse estar.
Meu pai, Daisuke, não fora o melhor marido para minha mãe, mas foi um excelente pai para mim. O mesmo ainda tinha muito de sua aura angelical, antes de se corromper por completo e sucumbir à Estrela da Manhã. Ainda quando criança relatou-me sua vida complicada com minha mãe, e como ele sentiu-se quando ela quase morreu para que eu nascesse, sendo a imagem e semelhança do meu pai, pálido, ruivo com olhos negros.
Minha mãe gerou-me com carinho e amor, e em seguida engravidou novamente, quando eu ainda tinha 10 anos, então vieram os gêmeos, Alex e Alexus, tinham seus cabelos negros e os olhos de nosso pai, por fim, quando os gêmeos estavam começando a andar, veio a última gestação, que a consumiu por inteiro, e a levou a óbito, após dar à luz a Jaden. A relação de meus pais, era extrema, do amor ao ódio, três vezes eles se entregaram um ao outro, e em cada vez, um fruto foi gerado e concebido.
Não foi fácil lidar com a perda dela, erámos crianças ainda e nosso pai nos criou com pulso firme, aprendemos desde cedo que deveríamos cuidar uns dos outros, a qualquer custo. Nós erámos o desejo vivo de nossa mãe em ter uma família, e assim tínhamos o dever de honrar e cumprir esse desejo. Seriamos uma família, unida, para sempre.
As diferenças apareceram com os anos, Alex tinha sede por sangue, enquanto seu irmão não demonstrava ter tal necessidade, já Jacob e Jhonatan tinham um talento nato para aprender tudo que lhes interessasse.
Então ele me separou dos meus irmãos e disse-me algo que mudou minha vida.

_você tem um dever, Arthur! – disse me fitando seriamente – deverá cuidar de seus irmãos, a qualquer custo, se sacrificar, usar de meios obscuros e métodos infames para isso! Não importa que eles te odeiem, não importa o quanto você se senta sozinho e desgastado, por um século inteiro, os protegi, e agora, essa é a sua função!

E foi quando eu mudei. Aumentei minha carga de treinamento, aprendi tudo o que podia sobre tudo que era relevante, mas aos poucos acabei aprendendo um pouco de tudo, até me tornar alguém tão poderoso, como meu pai, o Senhor do Tempo. Como primogênito, herdei o primeiro sobrenome que ele tomou para si, Dragomir, eu seria belo e eterno, feroz e implacável, como um dragão; Alex e Alexus, herdaram seu segundo sobrenome, Valerian, e tinham por honra os valores mais puros e implacáveis de nós, eram a personificação de nossa mãe, portanto, deveriam honrar sua memória; e por fim Jaden, herdaria o sobrenome de nossa mãe, Collins, não por falta de merecimento, ou algo do tipo, mas porque era mortal. Ele era a menina dos olhos do nosso pai.
Uma noite, ele se despediu e partiu, para nunca mais voltar. Sabíamos que apenas quando esse mundo acabasse, e tivéssemos que prestar contas de nossos pecados, o veríamos novamente, porém até lá, ele estava inacessível.
Vivendo nas sombras, passei anos vigiando meus irmãos, incomunicável, isolado, eu era uma sombra à espreita em cada canto, tinha olhos e ouvidos por todos os lados, e era bastante influente em todos os lugares.
Essa seria minha vida, pela eternidade.
Até encontrar uma certa menininha, 50 anos atrás. Minha pequena Eleonnor, tão doce, e jovem, porém tão sensitiva e perturbada. Haviam espíritos menores que a perturbavam durante o sono e a faziam chorar por horas, gritar, não assustada, mas com raiva. Passei a manter um olho em meus irmãos e o outro na garota.
Acompanhei seu crescimento de perto, dei-lhe presentes secretos e fiz com que suas perturbações diminuíssem, eu amava vê-la sorrindo, o som de sua gargalhada enchia-me de um sentimento que há muito não sentia, e mais do que isso, anos mais tarde, o som de nossos corpos se chocando, e seus gemidos de prazer, deixariam-me à beira da insanidade.
Quando ela aprendeu a ler, procurava avidamente por magia oculta, ensinamentos, pergaminhos, conjuros e tudo que conseguia encontrar a respeito, ela estava sedenta por conhecimento, então resolvi dar-lhe um empurrãozinho e ver o que acontecia. Ela conseguiu invocar um espirito pequeno, usando um conjuro, porém o mandei de volta para as profundezas e assumi seu lugar.
Passei 10 anos ao seu lado, e quando a mesma atingiu a maior idade, a assumi como minha esposa, e tornei-me displicente com meus irmãos, e deixei passar batido, a ganancia e a inveja que cresceu em Alexus. Na noite em que Alexus matou nosso irmão, eu tinha tomado a primeira e única decisão egoísta de toda minha existência.
Após nos casarmos, Eleonnor engravidou, uma gestação aparentemente normal, de gêmeos, Cambriel e Caleb eram como eu, como meu pai, e eu soube desde o início, ao carrega-los nos braços, que teriam um fardo muito grande. Ambos tinham sangue humano, porém tinham sede de sangue, fazendo-me reconhece-los com vampiros, a princípio, já que o sangue de demônio permanecia adormecido.
Por inúmeras vezes, consegui enganar a morte, e mantê-la longe de minha família, porém, ela foi mais esperta e esperou um momento de distração, e arrancou-me Eleonnor e Alex.
Deixei a ira me consumir e tomado pela sede de vingança, dei poder a Damon, filho primogênito, ele era o único que suportaria tal poder para matar o tio. Eu jamais mataria meu irmão, então deixei o trabalho sujo para meu sobrinho, que mesmo após muitos anos, conseguiu cumprir o que prometera a seu pai, meu irmão.
Desde então mantive meus olhos em toda minha família, sem Eleonnor, eu era tão ou mais inclinado a fazer as coisas do meu jeito e passo a passo estava costurando o destino de minha família.
Olhei novamente para o trio na cama, e encontrei Sansara, fitando-me serena, e bem desperta enquanto meu filhos dormiam.

_eu sabia que viria! – sorriu doce e levantou-se com esforço.

_você parece melhor... – ela se aproximou e parou em minha frente.

_vi o ferimento de Cam, ainda não fechou! – falou e rapidamente olhei para o abdômen de meu herdeiro, estava de fato enfaixado – ele sente dores!

_vai sobreviver!

_eles mexem! – falou de repente.

_quem? – pela primeira vez, estava confuso.

_os bebês! – respondeu – pelo menos, um deles... Quando você está por perto, parecem enlouquecer dentro de mim! – ela pegou uma de minhas mãos e pôs embaixo da blusa em sua barriga, que mexeu.

Sem me conter, abaixei-me e beijei seu ventre, encostando minha testa ali.

_porque você se agita tanto, pequeno Dragomir? – perguntei, recebendo outra mexida em resposta – me reconhece? – mais uma mexida – que energia!

_sim... Arthur... – ela colocou as mãos em meu cabelos, puxando-os, deslizando seus dedos entre os filhos, como minha Eleonnor fazia – será um menino! – levantei-me e a olhei.

Ambos sabíamos o peso da responsabilidade, que ele carregaria, se fosse realmente um menino. Eu via uma espécie de brilho nos seus olhos, estavam determinados.

_eu sinto isso! – falou convicta – e ele carregará o legado dessa família, como você e Cam tem carregado!

_Sansara...

_e eu já escolhi seu nome! – declarou-me sorrindo radiante.

_e qual seria o nome do novo herdeiro Dragomir?

_ele será Ra’s Al Ghul! – falou entoando todo o poder daquele nome.

_a cabeça do dragão... – murmurei sentindo meu corpo estremecer.

E naquele momento, senti o resquício de um coração, batendo em mim, sincronizado com o pequeno coração que batia acelerado dentro do ventre daquela que me olhava com respeito e admiração, mesmo sabendo quem eu era, e o que tinha feito por milhares de anos.


Tio Arthur também tem um coração bbs

Irmãs Bennet - Série IMORTAIS - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora