10 Lary

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Dois dias depois de Cam chegar, estávamos na empresa, num expediente chato e cansativo. Não sabia como agir perto de Dante, depois do seu súbito ataque na trilha, aquele seu lado mais selvagem, tinha mexido comigo, e eu com certeza me lembrava daquele beijo. Grazzi estava em casa, tinha amanhecido menstruada e mal conseguia sair da cama, minha irmã sofria, tadinha, mas isso acabou fazendo com que eu tivesse que ficar no escritório de Dante, com o mesmo, só nós dois.
Não trocamos uma palavra, pois ele estava concentrado em seu projeto, rabiscando e resmungando coisas, mexia vez ou outra no esboço que eu tinha feito, enquanto eu aparava as arestas de um outro design. O silencio era cômodo e perturbador ao mesmo tempo, quando um homem entrou na sala.
E que homem... Usando um terno preto, com longos e lisos cabelos ruivos, longo tipo, longo mesmo, abaixo da cintura talvez; alto, forte, por Deus, parecia ser uma miragem.

_tio Arthur! – Dante falou levantando-se e indo cumprimentar o outro – Lary, esse é Arthur Dragomir, pai de Cam e Caleb! – apresentou-nos, porém o homem apenas me olhou por um segundo e voltou e encarar Dante.

_preciso de você pelo resto da semana! – declarou.

_algo sério? – perguntou preocupado.

_não, porém desejo que venha comigo! Damon já foi informado, não está de acordo, mas não é como se eu me importasse com isso! – falou todo dono de si.

Quem era aquele cara? Marrento, frio, tão lingo e com uma expressão de gelo! Ele parecia um personagem de algum filme de mafioso, chegava a ser engraçado.

_Lary, qualquer coisa, você me liga, diretamente! Grazzi tem meu número! – disse por fim, já acompanhando o tio para fora da sala.

Essa era outra questão, não tínhamos nos falado direto depois do beijo, eu o evitava, e ele não tomava nenhuma iniciativa. Minha irmã tentava me convencer de que ele não sabia qual iniciativa tomar e como toma-la, mas que estava se esforçando, e isso era complicado para mim, afinal, nunca tinha tido um relacionamento assim, onde tivesse que tomar todas as iniciativas. Era frustrante.
Não o vi pelo restante da semana... Não liguei para ele, e subitamente, todos os Valerian sumiram do mapa. Damon alegava estar com Safira, Draco tinha arrumado outra de suas viagens, e Dante estava com o tio fodão.
Na sexta de manhã ele voltou a cidade, e foi direto para a empresa, trocamos poucas palavras a respeito do novo projeto, algo estava diferente nele, e isso me chamou muito a atenção. O que tinha acontecido, afinal, Dante parecia distante e frio, mais do que o normal, porém ao mesmo tempo, o maldito estava quente como o inferno, com um olhar intenso, que parecia queimar minha alma; A noite, ele me convidou para jantar, educadamente recusei alegando cansaço, no sábado convidou-me para um almoço, o dispensei novamente, desta vez usando a desculpa de que iria ficar com Grazzi, ainda sim, ele me mandou flores. Mas o mesmo parecia não desistir, e convidou-me para um jantar, seguido de uma balada no domingo, já estava irritada, disse-lhe que não estava afim de sair de casa e desliguei em sua cara.

_você deveria aceitar! – Grazzi comentou, com os olhos fixados na TV, e lhe dei um tapa na cabeça – ai vaca! – resmunguei.

_não quero sair com ele! – falei firme.

_porque ele te beijou, você gostou, e agora não sabe como agir! – rebateu ainda sem me olhar.

_ele me pegou de surpresa! – tentei de defender.

_e você gostou de ser pega por ele! – respondeu e então me olhou – você está sendo covarde! Sabe da dificuldade dele, e está se escondendo atrás disso para não dar uma chance a vocês!

_falar é fácil, porque você não dá uma chance ao Draco então? – perguntei e ela deu de ombros.

_ele ainda não demonstrou nenhum interesse em mim, aliás, ao contrário do irmão, Draco é um conquistador nato, se ele quer, toma todas as iniciativas, e nós duas e todas as mulheres da cidade sabem disso!

_que seja! – bufei e me joguei no sofá ao seu lado – mas você daria uma chance, se ele, sei lá, mostrasse interesse?

_porque não?! – suspirou – se não desse certo, de algum jeito seguiria em frente, não é como se o mundo fosse parar para que eu pudesse sofrer!

_é disso que eu tenho medo!

_sofrer? – perguntou-me.

_de não conseguir seguir em frente!

Decidi que não ia ficar em casa, estava me deprimindo, liguei para Serguey e quem atendeu foi Arlekin, porém não discuti, convidei meu divo para um porre na Sangre e Fuego, precisava beber, ou esses sentimentos estranhos e intempestivos dentro de mim, iam me consumir, antes sequer que eu pudesse chama-la, Grazzi saiu com Drake, deixando-me de escanteio.
Coloquei um vestidinho curto rodado, preto, rendado, botas de salto médio, fiz uma make mais pra noite; As 20:00 horas Serguey veio me buscar, iriamos começar a noite num barzinho tradicional e depois iriamos tomar nosso tão merecido porre, afinal, meu divo também estava tendo problemas no paraíso.
Depois da saideira fomos para a boate, que estava lotada como sempre, nos dirigimos direto para o bar, ainda estava muito consciente e pensando demais em quem não devia. Do quarto drink em diante eu já estava bem alegrinha e Serguey já tinha soltado toda a franga, estávamos na pista de dança quando, dois bois magia, nos fizeram companhia. La no fundinho da minha mente, a consciência gritava que eu deveria afastar aquele homem, pois eu queria mesmo era um compromisso com um certo moreno, mas era apenas 1% de mim falando, pois os 99% restantes estavam bastante empolgados com aquele corpo másculo sensualizando junto ao meu.
Não lembro ao certo quando começamos ou paramos de nos beijar, também não lembro como cheguei ao meu apartamento, mas consegui chegar sã e salva, creio que deva agradecer a um certo grisalho com cara de bebê, que resmungou o caminho todo até meu apartamento. Lembrava dele, pois o mesmo carinhosamente me jogou no chão no box e ligou a ducha fria em cima de mim, despertei automaticamente do meu estado semi inconsciente alcoólico, fulminando-o com o olhar, mas ele também não estava muito feliz. Virou-se e partiu sem dizer uma palavra, deixando-me no chão, bêbada, e molhada.
Dormi e acordei com uma ressaca desgraçada, peguei meu celular para verificar as mensagens e chamadas, havia apenas uma mensagem na caixa postal. Abri a mesma e escutei aquela voz maravilhosa, dizer algo que quebrou-me ao meio

“Espero que tenha aproveitado a noitada com seu novo amigo!”

Como ele tinha ficado sabendo? Será que Arlekin tinha dito algo? Meu coração se apertou e um sentimento de culpa me consumiu. Eu tinha feito merda. Abri o aplicativo de mensagens e quase enfartei com a foto que vi em meu status.
Eu sentada no colo de um homão gostoso, porém desconhecido, erguendo um copo, brindando com Serguey ao meu lado. Imediatamente apaguei a foto, e senti todas as forças do meu corpo se esvaindo. Deitei novamente e passei o dia ali, Grazzi ainda estava no seu conflito com Draco, não precisava de mais problemas, e os meus eram arrasadores.
Já era quase noite, quando a campainha tocou, sem animo algum fui atender, usando apenas meu robe por cima da camisola. Encontrei um Dante totalmente desgrenhado em minha frente, com olhos vermelhos, cabelos desarrumados, uma camisa social azul escuro com as mangas dobradas até os cotovelos, calça jeans escura e descalço. Ele estava selvagem, parecia como o olho de um furacão, calmo, mas tudo ao redor mostrava seu jeito intempestivo.

_podemos conversar? – perguntou frio. Engoli em seco, dando espaço para ele entrar.

A passos leves e firmes ele entrou, deu alguns passos e virou-se para mim.

_vou direto ao assunto! – falou quebrando ao silêncio – vim pedir desculpas! – o olhei incrédula.

_o que? – perguntei sem acreditar.

_perdoe qualquer investida que eu tenha tido contra você! Percebo, agora, que não sou capaz de lidar com esse tipo de situação! – falou sério.

_Dante, você não está dizendo coisa com coisa! – murmurei sentindo meu sangue esfriar.

_estou aqui para dar um fim nisto! – falou e eu senti o chão sumir embaixo dos meus pés.

_Dante... – murmurei sem reação.

_não sei o que esperar dessa relação, não sei o que esperar de você! Você passou dias me dispensando, e agora percebo, o quão inconveniente eu fui por ter insistido! Você não queria minha companhia!

_ eu apenas sai com Serguey, um amigo! – falei tentando amenizar as coisas.

_pelo que entendo de relacionamentos, não se pode ter vários parceiros, e finalmente percebo, que você deixou bem claro seu desinteresse em mim! Então procurou alguém que a agradasse, de alguma forma... – o interrompi.

_não procurei nada! – rebati – só aconteceu...

_não precisa explicar, ou se desculpar! – respondeu indiferente e de alguma forma isso machucou – desde o início você me alertou, deu todos os sinais, como Grazzi sempre diz, não entendi a princípio, mas agora entendo, e chegado a esta conclusão, percebo que não sei lidar com esta merda! – olhou-me irritado, esboçando um sentimento pela primeira vez.

_escute-me... – tentei achar as palavras e fracassei, miseravelmente.

_há muito tempo, minha mãe me ensinou a cortejar uma mulher, trata-la com respeito, agradar-lhe, ser carinhoso... Cativar cada parte da personalidade dela, ganhar sua confiança... – falou saudoso e meu peito apertou ainda mais – mas nunca disse nada sobre dividir! Eu não divido, não sei dividir!

_Dante, escute-me! – levantei-me e dei dois passos em sua direção, e ele desviou de mim.

_não! – murmurou – eu não divido o que é meu!

_eu não sou um objeto! – rebati irritada.

_isso foi um erro... – suas palavras me atingiam como facadas – desde o início... Eu não sou capaz de lidar com isso... Sou tão antiquado... – resmungou e puxou uma caixinha fina de veludo do bolso, fazendo meu coração partir em milhões de pedacinhos – eu ia pedir você em namoro, como minha mãe me ensinou... Convidaria você e Grazzi para um jantar, e pediria à sua irmã sua mão, então lhe apresentaria para minha família... – murmurou perdido em seus pensamentos.

_Dante, por favor, me escuta! – murmurei entre lagrimas.

_eu não sei o que sentir... Mas sei que não quero que você se sinta, como eu me sinto agora... É ruim... – franziu o cenho confuso – por isso estou partindo, Lary, estou desistindo de você!

Senti meu mundo ruir aos poucos, vendo-o tão sério, olhando em meus olhos, eu podia ver sua dor, sua confusão, e por Deus, Grazzi saberia lidar com essa situação, mas eu simplesmente travei.

_não precisa se preocupar com seu emprego, irei promove-la a sênior, e irá trabalhar com Marko! Não cruzaremos mais o mesmo caminho, Adeus Lary, tenha uma vida feliz! – desejou, mas não senti nenhuma sinceridade ali.

Olhou mais uma vez para a caixinha em sua mão, e a jogou em meus pés.

_não serve mais para nada... – murmurou antes de virar e partir sem olhar para trás.

Cai por sobre meus joelhos em prantos. Tinha perdido algo que sequer imaginava que sentiria falta.




E fim... Ou quase! Rsrs
Será que ainda tem esperança?

Irmãs Bennet - Série IMORTAIS - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora