Marie e Sara

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Desgraçado.

Cretino.

Dissimulado.

Cachorro.

Não sei qual adjetivo seria melhor para definir Sr. Collins, que fez o favor de passar teste surpresa de química em plena segunda feira.

Digo, ele tinha marcado o teste, mas foi uma surpresa para mim que esqueci completamente de estudar.

O porquê? Simples. Depois da sua crise existêncial, Cody simplesmente sumiu. De novo. Ele anda fazendo muito isso, o que me dá agonia, raiva, medo, sensação estranha de vazio e muita, mais muita vontade de chorar que nem um bebê.

Mas sigo firme, resolvendo o que consegui do teste e sendo uma dos últimos alunos a entregá-lo ao desgraçado-cretino-dissimulado-cachorro.

Saio batendo o pé com força pelo corredor, e toda a raiva afetou um pouco minha noção de espaço, me fazendo esbarrar em um corpo alto e sentir culpada no mesmo segundo.

– Desculpe! – digo rápido, recolhendo o caderno da garota que caiu no chão e a entregando, vendo seu olhar curioso em mim.

A loira que parecia ter saído direto da última edição de uma revista de moda famosa sorri simpática para mim, recolhendo seu caderno.

– "Desculpa" eu! Estava no mundo da lua, acabei de sair de um teste de matemática. – diz rápido, mas o suficiente para eu perceber seu sotaque britânico.

Rio constrangida, sem saber mais o que dizer. Ela ainda não foi embora.

Essa foi provavelmente a vez que mais troquei palavras com alguém na escola, e ela parecia insatisfeita com a conversa, me olhando curiosa e ainda sorrindo, mesmo com cenho franzido.

– Qual seu nome? Sempre te vi sozinha pelos corredores, mas não somos da mesma classe. – comenta, me fazendo corar rápido, nervosa.

– Ellie. – engulo em seco.

– Me chamo Marie. – ela sorri fraco, dando de ombros.

Droga, era a hora que eu deveria perguntar seu nome, e não o fiz.

Sou uma tapada das piores mesmo.

– Vai pra casa agora? Você poderia almoçar comigo e minha amiga, Sara. Você vai adorar ela! – Marie sorri animada, me contagiando.

Eu queria mesmo era sair e procurar Cody por cada buraco dessa cidade até achá-lo, mas não fazia ideia de como começar. Estava com fome e Marie não parecia ser uma má companhia para um almoço, mesmo que eu odiasse comer ao lado de alguém.

– Tudo bem. – digo rápido demais, percebendo que estava calada e parada que nem a tonta que sou.

Marie me puxa pela mão pelos corredores, fazendo o contraste de nossos estilos parecer gritante. A loira tinha seu cabelo ondulado radiante jogado pro lado e vestia um cropped rosa bebê de renda, short de cintura baixa jeans claro, curto o suficiente para me fazer questionar como ela conseguiu entrar na escola com ele, e tênis brancos. Enquanto eu, parecia ter acabado de sair de um velório com todo meu traje preto que refletia meu humor naquele dia. Até o momento.

Caminhamos até a biblioteca, onde uma garota que chutei ser hippie parecia esperar alguém, e sorriu assim que viu Marie, revelando seu piercing no septo. Ela segurava uma caixa de pizza em mãos e a imagem fez meu estômago quase falar.

– Essa é Ellie, acabamos de tombar no corredor. – Marie me apresenta com um sorriso quase rasgando seu rosto delicado.

– E você já a puxou para sair? – Sara ri, desviando o olhar da amiga para mim – Meu nome é Sara. – sorri firme.

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