Capítulo 1 - Luzes Estranhas

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Tudo o que eu queria era saber o nome daquele garoto que eu via todos os dias no Ensino Médio, que por alguma razão tomava boa parte da minha atenção, talvez por ele parecer bem tímido mas com um estilo diferente e uma expressão marrenta sempre estampada em seu rosto, o que me fazia torcer o nariz toda vez que o via. O colégio não era nem de longe o meu lugar preferido, pois apesar de ter alguns amigos eu estaria bem melhor em casa, além de nunca prestar muita atenção nas aulas, já que não havia uma matéria que fosse especial o suficiente para mim, ainda assim eu me virava e conseguia tirar notas na média ou me recuperar fazendo trabalhos. Ainda sobre o menino, ele infelizmente não fazia parte da minha sala, provavelmente pertencia a turma B do 3° ano, enquanto eu estava na turma A do 2°, então só nos viamos no intervalo, ele até ensaiava alguns olhares direcionados a mim mas seu queixo erguido e sua expressão a certo ponto orgulhosa não deixavam isso se prolongar mais do que alguns segundos. Em certos momentos passava pela minha cabeça de ele achar que eu estava interessada nele já que ele parecia ser muito cheio de si, então eu tentava me controlar e ignorar sua presença. Eu andava pelos corredores da escola, um prédio grande e um pouco antigo mas muito bem conservado e bonito, como sempre observava cada canto e cada pessoa que passava por lá, alguns casais de mãos dadas e amigas cochichando, outras pessoas me encarando,outras sozinhas, até que me deparo com o rapaz, me olhando fixamente com uma expressão serena encostado na parede, eu penso em ir até mas sou péssima em começar conversas então apresso meus passos, anulando qualquer chance que ele poderia ter de falar comigo. Eu estava de certa forma fugindo, mas do quê?

No outro dia eu fui a escola com o certo receio de passar mais vergonha que o normal, mas logo na chegada fui impedida de passar justamente pelo menino, ele só me encarou e ficou na minha frente, depois de alguns segundos ele deu um sorriso leve e saiu. Eu nunca fiquei tão confusa antes como estava no momento, minha cabeça deu um nó, mas eu segui para a sala. Depois os dias se passaram e acontecia exatamente o que sempre acontecia normalmente, ele nunca mais fez nada de estranho daquele jeito. Eu meio que tentava ignorar sua existência como sempre por mais que fosse bem difícil, assim chegou o fim do ano e foram as últimas vezes que vi ele, eu continuei mais um ano bem intediante, agora sem ele, o que me surpreendia por ficar ainda mais chato depois de sua saída. Não fiz novos amigos e os poucos que eu tinha se distanciaram mas eu não me chateei com isso, até porque eram mais colegas do que amigos, eu fui seguindo o ano e arrastando minhas notas, passando nos bimestres por pouco, como sempre fiz. Se aproximava o fim do ano e eu não tinha ideia do que fazer com minha vida, todos meus interesses em estudos eram difíceis ou caros demais, talvez eu acabasse trabalhando com algo que não gostasse só para me sustentar, era o que eu já imaginava a um tempo. Enfim o fim do ano chegou, terminei os estudos e agora só me restava decidir se seguia meus sonhos de ter um profissão que eu me identificasse ou ter uma só pra pagar as contas e tudo que eu conseguia pensar era o que eu ia comer no dia seguinte.

~10 anos depois~

Depois de todo o estresse do escritório, eu só precisava ir para casa e tomar o suco de maracujá puro, não estou exagerado. Por um milagre, eu tenho carro que consegui depois de muita economia e fome que passei, eu não suportava andar de ônibus, odeio muita gente próxima de mim e ter que seguir os horários, então decidi que precisava de um automóvel. Chegando em casa, bebi um copo de água, comi um biscoito, assisti algum programa aleatório sobre música mas o sono me venceu e apaguei rapidinho, deixando a TV ligada. Me acordei de manhã cedo com o barulho do aparelho ligado à frente da minha cama, procurei o controle e desliguei. Fiz todo o ritual que uma pessoa qualquer faz para ir ao trabalho, entrei no carro e me retirei do condomínio.

"E aí, tá preparada pra mais um dia de chateação?"

Foi o que pensei quando minha colega de trabalho Jen me deu um Oi.

Mais um daqueles dias bem esgotantes no trabalho, tudo normal. Tantos planejamentos para serem feitos e entregues em tão pouco tempo, só me desanimava,dava vontade de fingir ter uma convulsão só pra sair daquele lugar. Finalmente, acabou o expediente, saí calmamente em direção ao meu carro, estava tão cansada, só queria chegar o mais rápido possível em casa. No caminho de casa, passei em uma lanchonete e comprei algo para levar para casa e voltei pro carro. Continuando no caminho, estava prestes a passar no cruzamento após o sinal ficar verde quando vi luzes fortes vindas da minha esquerda, que provavelmente eram faróis, senti uma pancada e não lembro de mais nada que possa ter acontecido.

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