MAOMÉ E A UNIFICAÇÃO

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Nos primeiros séculos da era cristã, a região da Arábia era percorrida por caravanas de mercadores e por expedições militares, responsáveis pela disseminação de influências gregas, persas e indianas. Os árabes do sul cultuavam deuses personificados por planetas, enquanto que, ao norte, a crença vigente relacionava uma série de espíritos, os djinns, representados por árvores e pedras. Um ponto em comum unia essas duas crenças. Todas as divindades estavam subordinadas a um deus supremo, chamado Alá, formando uma hierarquia divina. A justiça era a mais primitiva possível, prevalecendo a lei de Talião, que valorizava a vingança.

O centro das atividades comerciais e religiosas da região era Meca, cidade importante pelos seus depósitos de água que abasteciam as caravanas e por se situar numa estratégica encruzilhada que levava ao Iêmen, Egito, Síria e Mesopotâmia. A partir do século V, Meca se transformou num centro de peregrinações, com a construção da Caaba ou Caba, Ka'ba, a Casa de Deus, que abrigava as divindades de todas as seitas, onde cada um podia cultuar sua crença. Esse local era considerado sagrado e inviolável.

Até o século VI, não havia, na Arábia, unidade religiosa, política e comercial. Tudo isso mudaria, no entanto, com o surgimento de Maomé. Sobre ele, há poucos dados biográficos. As informações a seu respeito baseiam-se nos hadith, uma coleção de orientações e narrações deixadas por ele, formando as máximas da tradição muçulmana. Sabe-se que, aos vinte anos, foi escolhido como homem de confiança de uma viúva chamada Kadidja, com quem se casaria cinco anos depois. Maomé passou a se dedicar a uma série de retiros, onde recebeu importantes revelações de natureza espiritual, que começou a revelar a partir de 613.

Apesar de pregar durante dez anos, não converteu os cidadãos de Meca, sendo com freqüência ironizado e injuriado e quase morto. Em 620, conseguiu converter seis peregrinos, que passaram a ajuda-lo, convertendo outras pessoas. Em 24 de setembro de 622, vítima de perseguições e ameaças, fugiu para Yatrib, dia que passou a ser chamado Hégira, ou emigração.

Essa data assumiu tal importância para os islâmicos que o tempo passou a ser calculado a partir daí.

Em Yatrib, iniciou-se uma fase decisiva para essa religião. Maomé conseguiu unir diversos grupos e tribos que aderiram a ele, submetendo-se a sua autoridade.

Em 630, regressou a Meca com um exército de dez mil homens. Após definir sua vitória, foi até a Caaba e deu sete voltas ao seu redor, tocando a pedra com seu bastão. Ordenou que fossem derrubados todos os ídolos, apagados os afrescos dos profetas bíblicos, deixando apenas as imagens de Abraão, de Jesus e da Virgem Maria.

Em 10 de março de 632, já doente, fez uma peregrinação de adeus a Meca, ocasião em que definiu todos os ritos a serem seguidos e proferiu seu último sermão, no monte Arafat.

Antes de sua morte, declarou Meca território sagrado, pediu união aos árabes e estabeleceu alguns direitos e deveres quanto ao casamento e ao comércio. Enquanto estava vivo, Maomé também extinguiu a lei de Talião, definiu o ano com doze meses lunares e proibiu a usura. Morreu em 8 de junho de 632 aquele que lançou as bases de uma religião que unificaria o mundo árabe e daria novos rumos àquela civilização.

Seu filho adotivo, Thalit, transcreveu seus escritos em um livro chamado Kitab Allah, Livro de Alá, que se tornaria mais conhecido como Corão, Al Corão ou simplesmente Alcorão.

A obra que só foi finalizada vinte anos depois de iniciada, compreendendo cento e quatorze souras ou capítulos.

PREGAÇÕES DO PROFETA

Muitos dos ensinamentos de Maomé são apresentados em máximas e parábolas simples, de fácil entendimento, mas de sentido profundo, próprios para a meditação e a reflexão, como estas, por exemplo.

Disse o Profeta:

— Deus não tem nenhuma clemência com quem não tem nenhuma clemência pelos outros.

— Ninguém verdadeiramente tem fé até que deseje para seu irmão o mesmo que deseja para si próprio.

— Quem come com abundância enquanto seu vizinho passa fome não é um crente.

— O homem de negócios verdadeiro e fiel é associado com os profetas, os santos, e os mártires.

— Poderoso não é aquele que derruba o outro; realmente poderoso é aquele que se controla em momento de ira.

— Deus não julga de acordo com seus corpos e aparência, mas Ele esquadrinha seus corações e observa suas ações.

Narrou o Profeta:

— Um homem caminhou ao longo de uma estrada muito sedento. Alcançando um poço, ele desceu, bebeu água e saiu. Então ele viu um cachorro com sua língua pendurando, tentando lamber lama para aplacar sua sede. O homem viu que o cachorro estava sentindo a mesma sede que ele tinha sentido. Assim, ele se abaixou novamente no poço, encheu seu sapato com água e deu para o cachorro beber. Deus perdoou seus pecados por esse ato.

Perguntaram então ao Profeta:

— Ó mensageiro de Deus, nós somos recompensados pela generosidade para com os animais?

Ele respondeu:

— Há uma recompensa pela generosidade para com todos os seres vivos. 

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