Foi com mãos trémulas que Eva tocou à campainha da casa do seu ex-namorado, temendo a reação que ele teria quando a visse ali, parada à sua porta, a minutos do fim do seu dia de aniversário. A decisão de viajar para Lisboa tinha sido tomada em cima da hora e valera-lhe Inês, que lhe deu as informações de que necessitava para chegar a casa de Rafa. Passaram-se apenas alguns segundos até que a porta abrisse, mas, para ela, pareciam ter passado longos e sufocantes minutos, cada um deles com o poder de a fazer arrepender-se da sua decisão impulsiva. Teria sido essa a escolha certa? Rafa não devia sequer querer vê-la à frente...
Contudo, quando a porta abriu, todas as suas duvidas se dissiparam. À sua frente estava um Rafa ensonado e surpreendido, que olhava para ela com olhos curiosos. Ela tremia ainda, principalmente estando de baixo do olhar atento dele, e todo o discurso que havia preparado durante as quatro horas de viagem desapareceu. Um nó enorme tinha-se formado na sua garganta e Eva estava já à beira das lágrimas quando, finalmente, quebrou o silêncio que se tinha formado entre eles.
- Feliz aniversário?
Uma enorme sensação de alívio percorreu o seu corpo quando um sorriso nasceu nos lábios de Rafa e, quando se viu envolvida num abraço apertado, Eva soube que tinha tomado a decisão certa.
- Eu nem sequer vou perguntar o que é que estás aqui a fazer... - ele murmurou, ainda apertando o corpo dela contra o seu, como se a sua presença não fosse real e a qualquer momento ela pudesse escapar-se por entre os seus dedos.
- Vim festejar o teu aniversário contigo. - foi só quando terminou de falar que Eva afastou o seu rosto do peito do jogador, cruzando novamente o seu olhar com o dele. - E pedir-te desculpa. Fui uma completa idiota.
Rafa puxou-a para dentro de sua casa, fechando a porta atrás de si. Ela ainda não tinha tido uma resposta e a única coisa que lhe dava algum conforto era a mão dele a segurar a sua, mostrando-lhe que não estava tão chateado quanto ela havia imaginado. O seu cérebro, contudo, não sabia disso e continuava a imaginar todos os cenários possíveis, elevando-os depois, claro está, ao seu expoente mais negativo. A sua mente desenvolvia imagens de discussões e gritos, talvez com algum deles a ir buscar assuntos que não ficaram resolvidos há quatro anos atrás. Talvez ele a fosse acusar de o ter abandonado, de ter escolhido a aventura de viajar ao invés de ficar e resolver as coisas com ele. Talvez ficassem ainda mais chateados do que aquilo que já estavam e talvez Rafa tivesse toda a razão para isso.
- Eu fiquei assustada e não soube, ainda não sei, lidar com as coisas de que falámos. - quando deu por si, Eva já tinha quebrado o silêncio, lançando-se num monólogo de todas as coisas que lhe queria dizer. - Acho que nunca percebi realmente a falta que me fazias. Estive muito tempo fora, tempo demais talvez, e mesmo não querendo acabei por me esquecer um pouco de tudo aquilo que iria ter aqui, quando voltasse. Eu nunca ponderei sequer a hipótese de ainda existir qualquer tipo de sentimento entre nós, mas aí estás tu, a desarmar-me e a provar-me errada. Tenho saudades tuas, Rafael, e talvez seja essa uma das razões que me fez pegar no carro e vir para aqui!
Ele tinha os olhos nela, atento a cada palavra que deixava os seus lábios, enquanto se controlava para não a interromper. Sabia que não deveria estar a ser fácil para ela expôr-se daquela maneira, o assunto não era propriamente simples e Eva nunca tivera facilidade em falar dos seus sentimentos, então, deixou-a falar. Deixou que ela lhe contasse como tinha sido difícil afastar-se dele depois da conversa que haviam tido ao telemóvel, que ela lhe explicasse como se tinha apercebido que cada vez mais sentia a falta dele, ou como se tinha sentido ao saber que todos os seus amigos estavam a festejar consigo, exceto ela. Deixou que ela falasse sobre como não estava pronta para uma relação, mas tudo parecia certo ao lado dele, que ela lhe contasse que queria conhecer a pessoa que ele era agora, conhecer-lhe todos os novos defeitos e cicatrizes. Eva, nervosa, já não conseguia controlar as suas palavras, deixando apenas que elas fluíssem e expondo a Rafa os seus sentimentos e medos.
Ele, por sua vez, esforçava-se para parar o sorriso que queria surgir nos seus lábios; nunca a tinha visto desta maneira, tão nua perante os seus olhos, tão à vontade consigo mesma e com ele. Ela continuava a falar, desta vez dizendo-lhe que também tinha medo, que estava assustada, mas que com ele valia a pena. Foi quase sem pensar que lhe confessou que queria descobrir junto dele aquilo que sentia, que queria apaixonar-se por ele todos os dias. Parou, de súbito, no final da frase. Os seus olhos arregalados em pânico com a realização daquilo que tinha dito.
Aí, Rafa beijou-a.
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habits of my heart || rafa silva [pt]
Novela Juveniloh the habits of my heart, I can't say no it's ripping me apart, you get too close you make it hard to let you go na qual um jogador de futebol descobre, através das redes sociais, que a sua ex-namorada está de volta à cidade que viu o seu amor nasc...